Capítulo 31/Mike

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-Me dá aquela caixa azul? -Amélia me pede.
-Você não pode carregar peso -Informo.
Ela só se levanta e pega a caixa sem a menor cerimônia. Resolvo ignorar e me preocupo em abrir mais caixas de papelão e organizar no novo apartamento tudo o que está dentro da caixa que peguei.
Logo quando abro a terceira caixa tem um globo enorme.
-Por que um globo gigante? -Pergunto a minha namorada.
-Porque eu gosto de globos -Ela sorri.
Adoro vê-la feliz. Continuo tirando os conteúdos e limpando com um pano úmido os itens empoeirados, as roupas nós penduramos em cabides de camurça para as roupas não deslizarem. Antes do dia terminar instalo a TV de LED e monto o guarda roupas, ainda falta muitas coisas para guardar, acho que o projeto do apartamento da Anne ainda vai demorar um pouco. Falar nisso, tenho uma reunião com ela em poucos minutos.
Me dou ao luxo de tomar um banho rápido e vou direto me encontrar com ela no futuro novo apartamento. Vamos logo ao ponto.
-E ai, ideias?
-Muitas! Nem sei se você vai conseguir acompanhar.
-Vamos tentar -Estou mais empolgado que pareço, arquitetura é o máximo. Uma vez comecei um curso de decoração e outro de planejamento, mas não durei mais que um mês. A mensalidade subiu assustadoramente e não tive condições de continuar.
-São cinco quartos, 150 metros, quero transformar um deles em um super escritório, bem a cara de uma biblioteca. O quarto de hóspedes está ótimo, mas acho que uma outra cama seria bom, não sei se continua com uma de casal ou se é melhor duas de solteiro. Isso você decide.
Anoto o máximo de informações possíveis.
-E cores, decorações, temas...? -Pergunto insinuando.
-Quero que você me surpreenda, só por favor não me coloque cores extravagantes. Eu odeio verde -Ela fala eufórica.
A quem estou enganando? Ela nem tocou no assunto do crime. Joey me contou que agora ela sabe que o homicídio que eu cometi foi encoberto, ao contrário do que eu esperava ela não quis conversar nem me tratou diferente, só ignorou tudo, não falamos nada sobre o assunto e eu acho melhor nem tocar nisso, ela está tão feliz com a viajem ao Brasil.
-OK, sem verde. Gosta de brilho?
-Acho legal, mas sem exagero.
Concordo com a cabeça e retiro meu casaco.
-Ar condicionado?
-Óbvio, ventiladores de teto proibido, tenho pavor de um deles cair -Ela sorri.
-Tenho mais um pedido, você pode até achar estranho, mas eu quero muito e sinto que logo vou precisar usar então....

Anne justificou o pedido super estranho em um dos quartos mas pelo menos não é um quarto vermelho da dor.
-E como foi a reunião? -Amélia me pergunta
-Legal, estou super ansioso para começar tudo.
-Ótimo, arquiteto -Ela brinca.
Eu jamais seria um arquiteto, acho super legal e tudo mais mas prefiro o meu trabalho.
Antes de sair para comprar alguns móveis dou um leve beijo na boca da Amélia, suave e demorado. Saio de casa com o cartão de débito de Anne.

O primeiro item da lista é uma cama box de casal para o quarto de hóspedes, mas não pretendo comprar nada decoração agora. Então o que eu coloco primeiro no carrinho são as latas de tintas, pela lógica é melhor fazer a parte tem técnica e decorar o apartamento depois. Além disso só resolvi ir as compras hoje devido a promoção da tinta que irei usar. Ainda faltam meses para a viagem deles.
Entro no segundo corredor de decoração e vejo Harley conversando com uma loira da mesma altura que ela. Não consigo enxergar o rosto da mulher devido as prateleiras que tampam. O corpo dela se parece muito com o de Harley. Controlo todos os meus impulsos que me mandam seguir em frente e me escondo atrás de umas caixas que estão no meio do corredor, abandonando o carrinho por uns segundos.
-Eu te amo -Harley diz a moça e elas se abraçam.
-E Mike? - A outra loira pergunta
Suspiro e tento controlar a minha respiração. Franzo minha sobrancelha me perguntando porquê diabos estão falando de mim.
-Ele não vale a pena, soube que a namorada dele está grávida.
-Mas eu gosto dele.
-Esquece isso Hayley! E não ouse mexer com eles, não vale a pena, já disse.
Elas se despedem e cada uma sai para um lado. Penso rápido e resolvo seguir a segunda loira mercado, ela vai direto para a saída, só consigo vê-la de costas, seu físico é idêntico ao de Harley.
Resolvo para com a minha paranóia e pego o meu carrinho de volta. No caminho até o caixa essa história não sai da minha cabeça, Hayley e Harley? Elas só podem ser irmãs. Gêmeas. Mas porque falar de mim? Procuro a minha carteira que estava envolvida no panfleto de promoções e não acho. Apalpo meus bolsos e só acho meu celular, checo o carrinho e não tem nada. Fui roubado.
Estou morto de vergonha, minha carteira sumiu e a fila está enorme, todas essas pessoas esperando um babaca que perdeu a carteira, ou pior, e se eles acharem que eu estou dando um golpe? Pego o celular e disco rápido o número de Anne, ela diz que vai demorar. Ligo para Amélia e ela diz que não pode vir. Minha última tentativa é Luke, que nem me atende. Com todo o desespero do mundo olho nos olhos da moça do caixa e quando vou abrir minha boca para pedir que cancele a compra Harley ou Hayley aparece, parando ao meu lado.
-Precisando de ajuda? -Ela entrega o cartão de crédito para a moça -Débito por favor.
Minha vontade era dizer que não preciso de ajuda e mandar ela vazar dali mas a moça passa o cartão e a loira digita a senha, penso em pedir para ela não me ajudar, mas não daria tempo de voltar aqui hoje. E se as tintas acabarem? Anne iria me matar se eu deixasse de comprar o rosa claro que ela quer para o quarto surpresa.
-Obrigada Harley -Espero uns segundos e falo sem pensar: -Ou Hayley?
A loira suspira e pega o meu recibo. Ela me entrega e passa um abajur azul fosco da cor da minha bermuda para a moça.
-Débito também -Ela parece ter ignorado minha pergunta.
Depois de ela terminar de pagar o abajur e guardar o recibo na bolsa ela me encara, não consigo entender sua expressão, parece de cansaso. Me canso dessa baboseira e me viro indo até à saída.
-Espera Mike -Ela pede
Me viro para ela imediatamente
-Vou te explicar, gosta de café? -A loira que ainda não sei quem é me pergunta.
Ela trabalha na cede, quando nos falávamos ela me levava café sempre, algumas vezes eu também levava. É claro que gosto de café.
-Tem uma lanchonete aqui na esquina -Digo a ela, sei que em instantes Anne chegará com a minha carteira.

Fanfic da saga DivergenteOnde histórias criam vida. Descubra agora