Prólogo

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Atrasada.

Mal havia começado o ano letivo e Sasha já estava atrasada para a primeira aula de hoje, poções, justo a matéria que possuía a professora mais rigorosa de toda Blackwood, a senhorita Lavesque. Era uma mulher que aparentava estar na casa dos trinta anos, possuía cabelo castanho preso constantemente em um coque apertado estilo bailarina, pele branca levemente bronzeada, sempre trajava roupas com cores escuras, em especial um vestido vinho com detalhes dourados na saia que ia até o meio de suas canelas, e todo dia calçava o mesmo par de saltos pretos que tinham uma tira para garantir que não iriam acabar saindo de seus pés. Se tentasse buscar na memória, a ruiva não conseguiria se recordar de uma única vez sequer em que vira sua professora sorrir ou rir, nem que discretamente.

O som de passos ecoava pelos corredores enquanto corria, quase escorregando no chão de madeira. Desespero percorria cada fibra de seu corpo, conforme sentia o peso do olhar dos quadros pendurados em cada mísero espaço livre que os funcionários do colégio conseguiam encontrar. Mesmo que soubesse que eles não a estavam observando de fato, ainda tinha a sensação de que seus olhos inanimados estavam seguindo e julgando silenciosamente a jovem bruxa.

Não era para ser assim - a frase se repetia em seus pensamentos, como se fosse um letreiro neon brilhando em vermelho de forma semelhante a um pisca-pisca, daqueles que são postos nas árvores de Natal.

Ela tinha um plano: se esforçar mais em seus estudos e evitar confusão ao máximo. Se atrasar e possivelmente conseguir uma detenção logo no início do dia não fazia parte desse plano.

Fora que o pergaminho contendo sua grade de horários flutuando até a altura de sua cabeça ficava repetindo diversas vezes a palavra "atrasada" ao pé de seu ouvido, algo que também não ajudava em nada no quesito diminuir sua ansiedade, que parecia consumi-la de pouco em pouco.

Já perdida em seus pensamentos, Sasha nem ao menos percebeu que havia esbarrado em alguém, até que uma dor invadisse sua cabeça repentinamente quando sentiu o impacto da queda e um corpo embaixo de si logo em seguida.

- Me desculpe - sussurrou, mas o silêncio do corredor fez com que sua voz estivesse num tom alto o suficiente para ser ouvida.

A aluna de bruxaria conseguiu reunir forças o suficiente para que se erguesse e se sentasse ao lado de sabe-se-lá-quem ela quase havia esmagado, seus cachos ruivos a impediam de reconhecer a pessoa, porém seus olhos castanhos como o tronco de uma cerejeira não estavam abertos, então mesmo que seu cabelo ainda estivesse arrumado, assim como há alguns minutos atrás, ela não conseguiria saber em quem havia trombado. Enquanto cerrava os dentes e mantinha os olhos fechados, ela levou uma das mãos até sua cabeça, entrelaçando seus dedos aos fios alaranjados, sequer se preocupando em tirá-los da frente de seu rosto, numa tentativa de aliviar a dor de cabeça.

- Está tudo bem - a voz doce preencheu o lugar. Era possível perceber pelo seu tom o esforço que fazia para se colocar sentada - tirando o fato de que as chances de eu sentir uma tremenda dor nas costas pelo resto do dia serem muito grandes, eu estou bem - disse, fazendo graça apesar do acidente e soltando uma risada fraca, meio soprada logo depois - e você?

No mesmo instante em que Sasha reconheceu a voz e em quem havia esbarrado, seu corpo travou de espante ao mesmo tempo que suas orbes castanhas se arregalaram e, apressadamente, começou a afastar o cabelo do rosto para poder confirmar se estava certa. Quando, finalmente, sua visão estava liberada de qualquer obstáculo, não precisou de meio segundo para ela chegar à conclusão de que seu palpite estava certo e, quase que imediatamente, suas bochechas foram adquirindo um tom avermelhado graças a vergonha que estava começando a percorrer cada milímetro de seu sangue. Até porque a pessoa a sua frente era ninguém mais e ninguém menos do que...

A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora