A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)

Capítulo 28

Finalmente, eles haviam chegado ao local onde ficava a pousada que eles iriam se hospedar durante a semana que acampariam.

Lavesque agradeceu à Morgana mais vezes do que conseguiria contar no momento em que o ônibus estacionou na frente do enorme casarão de três andares pintado de bege, que parecia ser de mil oitocentos e guaraná de rolha. Seu rosto estava tão vermelho, devido ao estresse que estava sentindo, que se parecia com um tomate extremamente maduro ou até mesmo uma pimenta malagueta.

- Certo, crianças - a professora de Poções disse ao mesmo tempo que se levantava de seu assento, atraindo a atenção de todos. Subitamente, o ônibus, antes extremamente barulhento e caótico, se encontrava completamente silencioso - peguem suas coisas e formem uma fila para poderem desembarcar - instruiu-os, tentando a todo custo ignorar o latejar constante em sua cabeça.

Enquanto Ramona entrava em combustão, Maya observava sua colega de trabalho, que massageava suas têmporas em uma tentativa de se acalmar, com um olhar de pena e ao mesmo tempo carinho. Diferente da outra, a Antonella estava relaxada e muito animada com a ideia de passar uma semana hospedada em uma pousada que ficava no meio da floresta.

As duas professoras esperaram até que todos os alunos tivessem descido do veículo para enfim desembarcarem. Logo em seguida, as mais velhas conduziram o grupo de adolescentes para dentro da construção antiga, se deparando com uma recepcionista de cabelos lisos pretos e pele branca bronzeada pelo sol, que provavelmente estava na faixa dos trinta e poucos ou quarenta anos.

- Boa tarde! - a mulher exclamou, seu tom demonstrava uma alegria que Ramona apostava todos os seus ingredientes de poções extremamente raros ser fingida. Afinal, ninguém conseguia ser tão feliz daquele jeito - em que posso ajudá-las? - perguntou, fechando os olhos enquanto inclinava a cabeça levemente para a direita e sorria para ela e sua colega de trabalho de forma gentil.

- Olá! - Maya respondeu, tomando a iniciativa de ter que lidar com a recepcionista suspeitamente alegre demais - nós somos as professoras encarregadas pela estadia de uma semana dos alunos da Blackwood Academy - informou, sorrindo gentilmente enquanto fazia o check-in.

Lavesque, imensamente grata pela brasileira ter assumido a tarefa de acertar todos os detalhes da estadia deles naquela construção de aparência antiga e um tanto adorável aos olhos da alquimista de cabelos pretos firmemente presos em um coque apertado estilo bailarina.

Normalmente, aquele era seu penteado favorito, mas, naquele momento, lhe causava uma grande dor de cabeça.

Contendo um suspiro cansado, a russa apertou seus lábios um contra o outro ao mesmo tempo que se dirigia ao grupo de adolescentes, que ainda se mantinham relativamente comportados, as conversas sussurradas entre as panelinhas dos alunos de magia sendo o único barulho além da conversa das outras duas adultas presentes na singela e delicada entrada do local.

- Muito bem, pessoal - disse, atraindo a atenção dos mais novos - juntem-se em duplas, não precisa ser menina com menina ou menino com menino, escolham quem quiser para ser seu colega de quarto - falou, fazendo com o que o burburinho aumentasse conforme a animação ia tomando conta dos estudantes do ensino médio da Blackwood Academy - mas... - Ramona proferiu a palavra aumentando o volume de sua voz, que possuía um tom cansado e irritado, o que cessou os sussurros - não quero ficar sabendo de vocês fazendo coisas indecentes uns com os outros em seus quartos durante a nossa estadia, se querem transar ou se pegar, então façam isso na casa de vocês ou lá no meio da floresta ou até mesmo quando voltarmos para o colégio, entenderam? - acrescentou, lançando um olhar quase que mortal para seus alunos e repousando ambas as mãos em sua cintura.

- Sim, senhorita Lavesque - alguns murmuraram a resposta em uníssono enquanto outros apenas assentiam positivamente com a cabeça, um tanto amuados pela ameaça de consequências severas caso aprontassem alguma coisa escondida nas entrelinhas do aviso da professora de Poções e Alquimia.

- Ótimo - disse de forma simplista, adquirindo uma postura rígida e formal digna de uma imperatriz.

- Uau, parece uma cena de Carrossel - Maya disse, se aproximando silenciosamente como um gato selvagem do grupo de adolescentes e de sua colega de trabalho, causando arrepios na mesma - sabe, quando os alunos respondem "Sim, professora Helena"? - a cacheada perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas de modo divertido e sorrindo de forma brincalhona - foi igualzinho.

- Já terminou o check-in? - questionou, ignorando a brincadeira da outra e o fato de os curtos fios castanhos escuros de sua nuca se arrepiaram com a aproximação dela.

- Terminei sim - a acastanhada respondeu, ainda sorrindo para Ramona, que mantinha uma expressão indiferente e levemente cansada em seu rosto - aqui estão as chaves dos quartos - disse, ao mesmo tempo que andava por entre os alunos e distribuía as chaves para as duplas já formadas e caminhando de volta para o lado de Lavesque logo em seguida.

- Agora que formaram duplas e estão com as chaves de seus quartos, vão lá para cima, desfaçam suas malas e descansem - a morena ordenou, seguindo os alunos de magia com seus olhos enquanto os mesmos caminhavam para dentro da pousada à procura dos quartos que possuíam números correspondentes aos de suas chaves.

Levou alguns minutos para que, finalmente, as duas professoras se encontrassem sozinhas, exceto pela recepcionista que sorria como o gato risonho de Alice no país das maravilhas, que no momento ignorava completamente a existência delas e mantinha seus olhos fixos na tela de seu celular.

- Onde é que está a minha? - Ramona indagou assim que seus olhos castanhos escuros, do mesmo tom de seus cabelos, se fixaram na mão da brasileira e notou que a Antonella segurava apenas uma chave, franzindo as sobrancelhas e inclinando a cabeça levemente para a direita em uma confusão genuína. Afinal, se suas contas estivessem certas e seu cérebro ainda não tivesse derretido por todo o estresse que a russa estava sentindo desde que entrara dentro daquele maldito ônibus, era para ter restado duas chaves, uma para ela e outra para a professora de Adestramento.

- A sua o quê? - respondeu com outra pergunta, não entendendo aonde que sua colega de trabalho queria chegar.

- Minha chave - disse, tentando conter o tom de voz zombeteiro, que iria fazer parecer que ela estava falando com uma completa imbecil.

Em resposta murmurou em compreensão, como uma criança que possui alguma dificuldade com o dever de casa, finalmente entendendo a pergunta da bruxa de cabelos castanhos presos em um coque estilo bailarina, aos olhos de Lavesque a ação foi até um pouco fofa.

- Sua chave é essa aqui - falou, estendendo sua mão que estava segurando a única chave que havia sobrado.

- Certo, certo - murmurou para si mesma enquanto mordiscava levemente seu lábio inferior - mas e quanto a sua? - questionou, torcendo para que a resposta não fosse a mesma que sua linha de raciocínio havia chegado.

- Também é essa aqui - a cacheada respondeu enquanto dava de ombros em total indiferença, ao mesmo tempo que uma expressão de choque misturada com desacreditamento dominava os traços da professora de Poções e Alquimia - nós vamos dividir o quarto.