Capítulo 6

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Apenas o fato de que estava longe de seres humanos já havia melhorado seu humor em trezentos por cento. O barulho dos animais da floresta misturado com a brisa fresca que agitava as folhas das árvores e dos arbustos a deixavam extremamente mais calma. Aquela clareira realmente parecia conseguir fazer milagres quando se tratava de manter a pouca saúde mental que Sasha ainda possuía.

Foi uma caminhada curta até a clareira, mas respirar o ar puro da natureza foi o suficiente para que um pouco do cansaço que dominava seu corpo se dissipasse.

Mais alguns passos foram dados para fazer a ruiva chegar a uma árvore que fica a poucos metros de distância do lago. Era a mesma árvore em que ela havia se sentado no dia em que conheceu Ethan. A irlandesa se sentou debaixo daquela árvore e fechou seus olhos logo em seguida.

Talvez essa decisão tenha sido um grande e terrível erro, pois mal haviam se passado cerca de meros cinco minutos antes que seus pensamentos se voltassem para os acontecimentos anteriores. Todo o acontecimento do suco de Jack sendo despejado sobre si na frente de vários alunos da Blackwood no cômodo dos armários. O empurrão com a Regina George do Paraguai e as risadinhas irritantes de suas meninas malvadas.

Seu corpo estava se encolhendo. Expressões se contorcendo em um sinal de pura agonia. Pulsação acelerando rapidamente. Coração batendo descontroladamente veloz. Respiração ofegante. Mãos tremendo. Suor frio escorrendo de sua testa e, ao mesmo tempo, inundando as palmas de suas mãos. Lágrimas brotando de seus olhos e ameaçando escorrerem por suas bochechas como as cascatas do Iguaçu.

Quanto mais tempo se passava, mais ela mergulhava naquelas lembranças terríveis e em um novo ataque de pânico. Só que dessa vez seus amigos não estavam lá para fazê-la se sentir melhor ou impedi-la de cometer alguma besteira tremenda.

De repente, o som das águas do lago se remexendo se fez presente, o que interrompeu a espiral de autodestruição em que a bruxa havia se colocado e a deixou em um estado de alerta. Um alarme quase idêntico aos alarmes dos corpos de bombeiros começou a soar em sua mente.

- Humaninha? - a voz do tritão surgiu, seu tom indicava que ele estava curioso e preocupado ao mesmo tempo.

Lentamente, a aluna de magia do primeiro ano abriu suas orbes castanhas como o tronco de uma cerejeira. Suas pálpebras estavam um tanto trêmulas e sua visão levemente embaçada por causa das lágrimas, mas ainda dava para ver claramente a criatura mágica reluzindo sob a luz do sol de forma encantadora. Mesmo com as sobrancelhas franzidas sua beleza era indescritível.

- E aí, peixinho? - cumprimentou, forçando para que um sorriso aparecesse em seus lábios e sua voz ficasse mais animada. Dava para notar que não era assim que ela se sentia, mas que fingiria pelo tempo que fosse necessário só para seu amigo não precisar se preocupar com seu estado atual.

- O que aconteceu? - perguntou, se debruçando sobre as margens do lago.

- Nada - se apressou em responder - eu estou bem.

- Mentira! - exclamou, uma expressão irritada tomou conta de sua face enquanto um bico emburrado surgia em seus lábios - aconteceu alguma coisa sim. Dá para notar, então nem tente mentir para mim - continuou dizendo de modo enraivecido, porém a compaixão e a solidariedade se apossaram de seus traços - sei que a gente acabou de se conhecer, mas você pode me contar qualquer coisa - sua voz havia adquirido um tom sério, não tinha espaço para brincadeiras em suas palavras - principalmente, quando não estiver se sentindo bem.

Ao ouvir tais falas, Sasha sentiu uma imensa vontade de chorar. Se deixando levar pela emoção repentina, lágrimas se desprenderam de seus cílios e transbordaram de seus olhos, deixando um rastro úmido por suas bochechas.

Presenciar aquela cena inesperada deixou o tritão assustado e um pouco desesperado. Milhares de perguntas começaram a percorrer sua mente. Ele tentava repassar o que havia dito para ver se falara algo errado, se perguntando diversas vezes se era melhor ele ter ficado quieto. Ethan nunca teve que consolar ninguém, normalmente quem precisava de amparo era ele e tanto suas irmãs quanto sua melhor amiga, Annelise, eram as responsáveis por acalmá-lo.

- Falei algo errado? - questionou, o desespero em seu tom de voz era extremamente evidente. A agitação se apossava de cada célula de seu corpo e sua calda se encontrava em um estado de inquietude - me desculpa mesmo - disse, de forma apressada - eu só estou tentando ajudar - se justificou, o que fez com que um sorriso gentil surgisse nos lábios da cacheada e alcançasse seu olhar. Uma risada fraca e meio rouca escapou da garganta da bruxa.

- Você não fez nada de errado - seu tom permanecia choroso - eu não estou chorando por mágoa - tentou se explicar, embora sua voz embargada por causa de todo o choro não facilitasse muito o processo - são lágrimas de alegria e de alívio.

- Como assim? - novamente, a confusão nublava sua mente.

- É bom saber que posso contar com você quando estou mal - esclareceu sua linha de raciocínio para a criatura mágica - claro, eu tenho outros dois amigos que também estão sempre lá quando eu mais preciso, independente do que acontece - a ruiva começou a divagar sobre Nath e Mee. Dava para notar o amor e o carinho que Sasha possuía por seus amigos, a expressão e o sorriso presentes em seu rosto deixavam esse fato evidente - mas, ainda assim, é muito bom saber que tenho mais alguém com quem contar quando sinto que vou desmoronar.

O alívio dominou o acastanhado, quase que, imediatamente. Seu medo de que havia estragado tudo desapareceu enquanto uma animação tomou o lugar daquele sentimento ruim e, ao mesmo tempo, desesperador. Era gratificante saber que a garota de pele pálida e sardas nas bochechas sentia o mesmo que ele. Mesmo que a situação em que se conheceram não tenha sido uma das melhores, uma conexão instantânea se instaurou entre eles naquela clareira e ambos queriam levar aquela conexão adiante.

Uma troca de olhares foi realizada entre eles, castanho fixado no azul-turquesa, enquanto sorrisos idênticos de alegria e satisfação se faziam presentes nos lábios dos dois adolescentes. Um bom tempo se passou com eles assim, até que a irlandesa se arrastou para perto das margens do lago, se aproximando do amigo.

Essa história toda de amizade com um tritão ainda era muito nova para a aprendiz de magia, então ela ainda ficava maravilhada ao observar mais atentamente o cacheado. Também ainda tinha curiosidade sobre como era sua metade peixe.

- Me conte o que aconteceu - Ethan pediu, colocando sua mão direita sobre a mão esquerda da bruxa - tudinho e nos mínimos detalhes - acrescentou, recebendo um aceno positivo de cabeça como resposta.

Após concordar silenciosamente em contar cada detalhe do motivo para quase ter tido um colapso em plena floresta, uma longa conversa se seguiu... na verdade, aquilo estava se parecendo mais com um monólogo do que tudo. Porém, mesmo assim, eles ficaram nessa durante a tarde inteira até que desse o horário de Sasha voltar para seu dormitório.

Durante todo o diálogo, o tritão possuía ataques de raiva e proferia tanto ameaças quanto maldições aos colegas de classe da ruiva, o que acaba arrancando diversas risadas da mesma.

Quando a irlandesa estava caminhando rumo ao dormitório feminino, onde todas as alunas da Blackwood Academy ficavam, ela percebeu que estava se sentindo muito mais leve do que quando havia chegado na clareira.

Como se um grande peso tivesse sido tirado de seus ombros.

A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora