Capítulo 8

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Nath estava caminhando tranquilamente em direção ao seu dormitório, sentindo a brisa fresca do final da tarde e início da noite bater suavemente contra seu rosto enquanto escutava o farfalhar das folhas das árvores que rodeavam todo o terreno da Blackwood.

As aulas, para o alívio do azulado, felizmente haviam terminado e seus trabalhos estavam todos finalizados. Agora apenas lhe restava aproveitar o restante das vinte e quatro horas que o dia possuía com sua amiga e sua irmã mais velha.

Porém, sua paz e tranquilidade foram interrompidas quando o francês sentiu alguém puxar seu braço esquerdo floresta adentro. O pânico se infiltrou em seus ossos e entranhas, mas seu desespero só durou por alguns minutos. Quando a figura que lhe arrastava parou de repente de forma brusca, o Fontainelles se desequilibrou e seu corpo começou a pender para frente.

Sem sombra de dúvidas, ele teria caído de cara na grama e nas raízes, mas o ser misterioso que o levou até lá segurou-o pelos ombros e o ajeitou para que ficasse com a postura ereta novamente. Temerosamente Nathan, cujos olhos verde-amarelados estavam fixados no chão, ergueu seu olhar para que pudesse finalmente ver quem havia lhe puxado para o meio das árvores.

Graças a Merlim, eles não estavam muito distantes da entrada da floresta. Caso fosse necessário realizar uma fuga, ele teria que fazer uma corrida pequena. Um plano tentava se formar no cérebro agitado do jovem bruxo, mesmo que quem fosse o melhor em bolar planos quando a situação exigia era Aimee e não ele.

Enquanto seus olhos iam se erguendo lentamente, o aluno de magia do primeiro ano aproveitou para analisar seu raptor. Primeiro de tudo: era uma mulher, que aparentava ser mais velha do que ele em uma diferença de alguns meses.

Conforme suas orbes verde-amareladas iam escalando o corpo de sua sequestradora, o francês começou a notar que alguns detalhes lhe eram familiares. Essa constatação fez sua testa franzir em um sinal claro de confusão. Mas sua mente voltou a ficar em paz, a confusão sumiu e seu corpo relaxou quando seu olhar se fixou nos olhos esverdeados de sua irmã mais velha, Aimee, que sorria reprimindo uma risada diante do desespero do mais novo ao pensar que estava sendo sequestrado.

Rapidamente, o medo foi substituído por raiva e uma expressão emburrada tomou conta do rosto do azulado acompanhado de um bico emburrado, o que deixou o jovem bruxo extremamente parecido com uma criança de cinco anos fazendo birra porque não conseguiu o brinquedo que queria.

- Você está ficando louca!? - esbravejou, o que finalmente fez a acastanhada não aguentar mais segurar o riso e desabou em gargalhadas que lhe roubavam o fôlego de tão intensas - quer me matar, mulher? Pelo amor de Merlim! Eu podia ter tido um ataque cardíaco e morrido! - o aluno de magia continuou berrando para a garota rindo histericamente a sua frente.

- Desculpa - pediu, sua voz estava ofegante, enquanto limpava as lágrimas que brotaram em seus olhos durante sua crise de riso - mas você tinha que ver a sua cara, parecia estar prestes a ter um piripaque igualzinho aos do Chaves - seus ombros ainda sacudiam um pouco e pequenas risadas ainda escapavam de sua garganta.

- Ha-ha-ha - emitiu uma risada falsa desprovida de qualquer emoção, principalmente de alegria - agora que a palhaça terminou de rir da minha cara - falou, vendo que sua irmã já estava se recuperando - será que a madame se importa em dizer o motivo de ter me arrastado para o meio da floresta ou é muito difícil? - perguntou, o sarcasmo quase escorrendo pelo canto de sua boca tamanha era a sua presença em seu tom de voz.

- Claro que posso, milorde - a Fontainelles retrucou em deboche enquanto um sorriso zombeteiro surgia em seus lábios - e vê se não exagera - acrescentou - aqui não é o meio da floresta, estamos a menos de cinco quilômetros da entrada - cruzou os braços. Sua expressão era um misto de diversão com descrença diante do drama excessivo de seu irmão mais novo.

- Anda logo! - exclamou de um jeito meio mal-humorado, em resposta, ignorando a fala da outra - desembucha mulher.

- Eu só queria saber se o nosso plano de vingança funcionou - revelou - e aí? Deu tudo certo? - perguntou, a esperança de que a resposta fosse positiva correndo por seu corpo ao mesmo tempo que ansiedade e excitação preenchiam cada milímetro de seu corpo - por favor, me diz que aquele maldito arrogante metido a besta teve o que merecia e foi para na detenção - a aprendiz de bruxa, praticamente, implorou.

- Tudo ocorreu como o planejado - contou, sorrindo vitoriosamente - entreguei o ingrediente errado para ele, causando uma explosão - relatou tudo o que aconteceu durante a aula de poções - a Lavesque não ficou muito contente, então pôs ele na detenção e ainda lhe passou um sermão quando ele tentou questionar ela.

Um gritinho estridente e histérico ecoou por entre as árvores. Mee estava se sentindo extremamente feliz e animada com tal notícia.

- Queria tanto ter visto - a francesa lamentou, chateada por ter perdido aquele momento incrivelmente satisfatório para si - aposto que ele ficou se mordendo por dentro e também deve estar te odiando.

- Devia ter visto o ódio nos olhos dele quando percebeu que eu fui a causa da explosão, o motivo de seu fracasso e quem o fez ser mandado para a detenção - Nath pronunciava cada palavra como se degustasse a fruta mais doce do mundo, a sensação de vitória lhe trazia uma paz boa de uma forma indescritível.

Os irmãos Fontainelles ficaram rindo da situação que haviam posto o colega de classe do azulado e, provavelmente, teriam continuado por um bom tempo, mas o som da voz de Sasha gritando seus nomes perto dos arredores da floresta que cercava a Blackwood Academy desviou a atenção deles.

Percorreram lentamente o caminho em direção ao terreno do colégio de magia, cerrando seus olhos quando a luz do sol brilhou mais intensamente sobre eles. Agora que não estavam mais sob a proteção das copas das árvores, o calor esquentava suas peles com mais força. Não foi preciso que andassem muito antes que vissem a cabeleira ruiva e cacheada pertencente à bruxa de pele pálida, sardas nas bochechas e olhos castanhos parada no meio da grama, olhando para os lados freneticamente. Suas bochechas infladas, demonstravam o quão irritada ela estava por não conseguir encontrar seus amigos.

Sorrateiramente, eles se aproximaram da irlandesa, que desistiu de procurá-los e resolveu se sentar na grama macia e aproveitar a brisa fresca. Quando já se encontravam perto o suficiente da ruiva, gritaram seu nome em uníssono, o que quase fez com que a bruxa pulasse em seu lugar e saísse correndo. Seu instinto de sobrevivência sendo abrandado pelas risadas que surgiram logo em seguida.

- EU VOU MATAR VOCÊS, SEUS IMBECIS! - a cacheada gritou ao olhar por cima de seu ombro e encontrar Nathan e Mee rindo de sua cara, sua pele adquirindo um tom avermelhado vívido graças a irritação que estava sentindo.

Depois de levarem uma bronca gigantesca de Sasha, os três se acomodaram na grama macia do terreno da Blackwood. Ficaram conversando sobre qualquer assunto aleatório em que conseguissem pensar e observando os formatos incomuns das nuvens até que desse a hora do jantar.

Foi durante a caminhada em direção ao salão principal, onde todas as refeições do dia eram feitas que uma troca de olhares entre Aimee e Nathaniel foi realizada, assim como um pensamento passou pela mente de ambos.

Não mediriam esforços, nem pensariam nas consequências antes de protegerem Sasha ou qualquer outro integrante do trio e sabiam que ela também faria o mesmo por eles sem sequer pensar duas vezes na ideia.

A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora