A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)

Capítulo 31

Aimee se encontrava no quarto da pousada em que ela, seus colegas de classe e duas de suas professoras ficariam hospedados durante aquelas duas semanas e que dividiria com Tray naquele meio tempo. A acastanhada estava deitada na cama encostada na parede esquerda, usando seus fones de ouvido enquanto mantinha seus olhos fechados e suas mãos repousadas sobre sua barriga, uma pose extremamente relaxada. Quem passasse por ali, e olhasse para dentro do cômodo, poderia jurar que ela estava dormindo profundamente, de uma forma semelhante a Aurora de Bela Adormecida.

De vez em quando, a francesa gostava de ficar daquele jeito. Completamente isolada do resto da sociedade, escutando suas músicas de olhos fechados e relaxando, aproveitando aquele momento sozinha para esquecer todos os seus problemas e o resto do mundo, para simplesmente mergulhar nas notas musicais e no som dos instrumentos conforme a batida ressoava em seus ouvidos. Era um momento especial para ela, o momento em que pegava seus fones e decidia que nada iria atormentá-la durante o tempo em que ficaria com eles.

Suas músicas eram o que a faziam não entrar em colapso por conviver com seres humanos que a Fontainelles odiava, já era estressante demais ter que fingir simpatia para que ninguém acusasse ela de ser grossa sem motivo algum e isso era ainda mais irritante quando tinha que lidar com pessoas que acham que estão em um filme escolar adolescente americanos super clichês dos anos dois mil.

Lhe trazia uma sensação tão boa e gostosa ficar escutando música e não pensar em absolutamente nada, que ela não via motivos para sair daquele cômodo rústico, e meio básico no quesito decoração. E não conseguia se lembrar de nada que a tiraria dali, a não ser para comer ou ir ao banheiro, antes do dia seguinte.

Ir para a piscina da pousada ou para a floresta que rodeava o estabelecimento estava completamente fora de questão. A bruxa de orbes esverdeadas deixaria para amanhã a tarefa de ter que lidar com seus colegas de classe e desconhecidos que ela via de relance andando pelos corredores da Blackwood Academy.

Mee apenas pensava em aproveitar a sua vez de ficar trancada no quarto.

Ela e o australiano haviam combinado que iriam revezar, um dia sim e um dia não, o quarto quando eles quisessem ficar sozinhos com seus pensamentos ou apenas fugir das outras pessoas que não fossem seus amigos e irmão mais novo.

Rapidamente, o pensamento de que era muito bom ter alguém que a entendia passou pela mente da acastanhada e um sorriso sereno surgiu em seus lábios. Chegava a ser reconfortante saber que existia alguém que compreendesse o que a francesa sentia em relação aos outros seres humanos, e até mesmo sentisse o mesmo que ela.

No dia anterior, havia sido uma experiência estranhamente boa quando ambos ficaram em completo silêncio, cada um fazendo suas coisas sem perturbar o outro e eles só abrindo suas bocas para desejar boa noite quando as luzes já estavam apagadas e os dois bruxos deitados nas camas que tinham escolhido para si.

Parecia com uma daquelas amizades de baixa manutenção, onde eles não precisavam se falar o tempo inteiro, apenas quando necessário, e nem passar o dia todo grudados um no outro para que pudessem se declarar amigos de verdade. Poucas conversas, o respeito pelo espaço pessoal um do outro e conviver no mesmo cômodo totalmente em silêncio com trocas de olhares de vez em quando como forma de comunicação para saber se o outro precisava de alguma coisa já estava ótimo.

Sequer importava se as outras pessoas iriam achar a amizade deles muito estranha ou se boatos sobre um possível relacionamento amoroso entre eles fosse surgir. Ambos estavam confortáveis com a amizade que estavam adquirindo, mesmo que parecesse bizarra aos olhos alheios, e as possibilidades de como seriam as reações dos outros alunos do colégio de magia e as fofocas que os mesmos iriam criar, mesmo que sem qualquer fundamento verídico, não os incomodava.