Capítulo 21

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Todos haviam conseguido um familiar... menos ela.

Aquele pensamento rondava a mente de Sasha conforme os segundos iam passando e nenhum espírito ousava se aproximar dela ou sequer considerar realizar tal ação, deixando a irlandesa nauseada e fazendo com que sua visão ficasse embaçada enquanto tudo ao seu redor parecia rodar.

Seu corpo tremia e lágrimas enchiam seus olhos, embaçando ainda mais sua visão e ameaçando escorrer por suas bochechas a qualquer momento.

Ela conseguia sentir os diversos pares de olhos a observando por ser a única que não estava acompanhada de um guia espiritual. Seus colegas de classe julgavam a ruiva, alguns carregavam zombaria em seus olhares e sorrisos sarcásticos nos lábios.

Inevitavelmente, a irlandesa fixou suas orbes castanhas como o tronco de uma cerejeira no chão da arena onde as aulas de Adestramento aconteciam e juntou suas mãos na frente do corpo, alternando entre retorcer seus dedos e apertar a barra da blusa social, que fazia parte do uniforme da Blackwood Academy, até as juntas de seus dedos ficarem brancas em um claro sinal de que a ansiedade estava percorrendo cada veia e vaso sanguíneo de seu corpo.

Lenta e cuidadosamente, um de seus melhores amigos e sua crush se aproximaram da Lynch. Ambos carregavam expressões pesarosas e, ao mesmo tempo, melancólicas em seus rostos. Sasha se recusava a olhá-los, pois detestava ver a pena presente nos olhos das pessoas quando paravam para prestar atenção nela. A indiana não encostou na cacheada por estar carregando Kalindi, enquanto Nathan passou o braço em volta dos ombros da amiga em um meio abraço para consolá-la.

- Que estranho... - a senhorita Antonella murmurou enquanto andava pela arena, como se estivesse procurando por um brinco que havia perdido.

- O que foi, professora? - Yandra perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas em uma pura e genuína curiosidade pelo modo estranho que sua professora estava agindo. O gato de olhos azuis saiu de cima de seu ombro direito e agora estava descansando preguiçosamente em seus braços - aconteceu alguma coisa?

- Nada demais - respondeu a aula, balançando a mão esquerda como se estivesse espantando uma mosca - é que eu tinha certeza de que havia o mesmo número de espíritos na caixa que a quantidade de alunos desta turma - explicou, franzindo a testa em confusão - mas está faltando um - sussurrou para si mesma, ainda percorrendo o local e olhando para todos os lados a procura do familiar desaparecido.

- Escutou? - o francês sussurrou a pergunta para a amiga, seus lábios rentes ao ouvido da ruiva e seu tom de voz estava gentil - talvez ainda haja uma esperança de seu familiar estar por aqui.

- Sim - a morena concordou com o azulado - pode ser que ele só tenha escapado de lá de dentro ou quem estava responsável por colocá-los dentro daquela caixa pode ter errado a quantidade de alunos e sem querer deixou um de fora - disse esperançosamente, em uma tentativa de tranquilizar a garota por quem é apaixonada, e pondo sua mão direta no antebraço da outra.

Tal ação repentina fez com que a irlandesa levantasse a cabeça rapidamente para observar sua colega de classe, surpresa dominava os traços de seu rosto, fazendo com que seus olhos dobrarem de tamanho, ao mesmo tempo que suas bochechas adquiriam um tom vivo de vermelho, suas sardas sumindo conforme eram cobertas pela vermelhidão.

Uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo e Yandra, delicadamente, retirou sua mão do braço de sua colega de classe, levou-a para a bochecha da mesma e passou o polegar pelo local, limpando o rastro molhado que havia ali. Instintivamente, e por reflexo, Sasha mordeu seu lábio inferior enquanto ainda encarava com suas orbes arregaladas de espanto. Um sorriso tomou conta dos lábios de Yandra enquanto a indiana admirava o modo fofo com que a ruiva estava agindo.

- Ah! Aí está você! - a exclamação da brasileira atraiu a atenção de todos os alunos da turma do primeiro ano da Blackwood Academy, cabeças se viraram bruscamente na intenção de verem com quem, ou o que, sua professora de Adestramento estava falando.

De forma lenta e tímida, um espírito prateado saiu de dentro da caixa de madeira, era como se o familiar quisesse se esconder ou que estava prestes a fugir a qualquer momento e se enfiar em um local isolado ao invés de encontrar o bruxo que acompanharia e ajudaria até o fim da vida de seu dono.

Carinhosamente, Maya acolheu o pequeno e tímido guia espiritual em seus braços enquanto um sorriso gentil adornava seus lábios. Alguns alunos arregalaram os olhos de surpresa e sussurros começaram a percorrer a arena, afinal, nenhum deles sabia que dava para pegar um familiar nos braços quando o mesmo ainda se encontrava em sua forma espiritual. A estrutura física do espírito oscilava como se a criatura mágica estivesse tremendo de medo. A acastanhada, que possuía uma forte e grande paixão por todos os tipos de criaturas existentes no planeta, caminhou em direção ao trio e encarou ternamente a figura chorosa e surpresa de Sasha.

- Eu tenho a impressão de que pertence a você - disse para sua aluna, ao mesmo tempo que devolvia o guia espiritual para o chão, e se afastando, dando alguns passos para trás, logo em seguida.

Tanto a bruxa quanto o familiar estavam hesitantes, medo percorrendo a mente e enchendo os pensamentos de ambos, mas assim que seus olhos se encontraram suas almas começaram a se interligar e seus sentimentos a se conectar, dando início ao processo da conexão de alma entre eles.

A irlandesa se sentiu fora de órbita, a sensação era semelhante a sensação que ela sentia quando estava voando na aula de Voo Aerocinético, e minutos se passaram antes que a cacheada saísse de seu transe e voltasse para a realidade.

Quando sua visão focou novamente, uma raposa tomava o lugar que anteriormente pertencia ao espírito prateado. Chamas rodeavam a pelagem vermelha do animal, mostrando que ele não era uma simples raposa, mas sim um espírito elemental de fogo.

- Vejo que os espíritos elementais estão generosos este ano - a senhorita Antonella falou, cruzando os braços ao observar o familiar da Lynch - já é o segundo que nos agracia com a sua presença - comentou, direcionando seus olhos castanhos escuros para o gato d'água de Yandra, que vigiava toda a situação com um ar entediado lhe rodeando - qual será o nome dele, querida? - indagou, voltando sua atenção para a bruxa de cachos alaranjados.

Lentamente, Sasha se abaixou até que seus olhos ficassem apenas poucos centímetros acima do nível do olhar de seu familiar. Uma mecha deslizou para fora do local onde estava presa, atrás de sua orelha, e balançou na frente de suas orbes castanhas. A irlandesa colocou a mecha rebelde atrás de sua orelha novamente e esticou a mão direita, meio trêmula, em direção ao seu guia espiritual logo em seguida.

- Aedus - declarou, mantendo seu olhar fixo nos olhos dourados com um arco vermelho envolta das írises da raposa quando a ponta de seus dedos roçou os pelos alaranjados do animal.

Repentinamente, a raposa se moveu de forma brusca, desvencilhando da mão da Lynch e pulando na mesma logo depois.

Familiar e bruxa caíram no chão, uma gargalhada reverberou pela garganta e escapou por entre os lábios de Sasha enquanto ela abraçava o espírito elemental, fazendo seu corpo inteiro vibrar com a alegria que lhe percorria.

- É um nome lindo - respondeu, assistindo a cena com um olhar e sorriso carinhosos estampados no rosto da brasileira.

Yandra e Nathaniel também observavam com extremo carinho a imagem da ruiva abraçada ao seu familiar, orgulhosos e felizes pela irlandesa. Kalindi esfregou a no peito da indiana ao mesmo tempo que Fleur se enfiou por entre as pernas do francês, atraindo momentaneamente a atenção de seus donos.

- Certo, alunos! - a professora de Adestramento exclamou, fazendo com que todos os adolescentes olhassem para ela - vocês estão dispensados, a aula está encerrada! - anunciou e, quase que imediatamente, a grande massa de alunos do primeiro da Blackwood Academy se moveu ansiosamente para a saída da arena.

A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora