A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)

Capítulo 24

Tanto o dormitório masculino quanto o feminino estavam um completo caos.

Uma mistura de alunos do primeiro, segundo e terceiro ano andavam apressadamente de um lado para o outro nos dormitórios fornecidos pela Blackwood Academy, eles praticamente corriam enquanto levavam suas roupas, malas e itens pessoais pelos cômodos, os adolescentes estavam desesperados para conseguirem deixar tudo pronto a tempo. O horário em que o ônibus que os levariam para o acampamento anual chegaria e ninguém queria se atrasar e acabar sendo abandonado.

- Jay! - Tray gritou irritadamente quando encostou no batente da porta do quarto do Thompson, cruzando os braços e tamborilando os dedos em seu antebraço direito nervosamente logo em seguida - juro por Morgana, que se você não terminar logo essa maldita mala, que a propósito deveria ter sido feita ontem, eu vou te arrastar lá para fora pelos cabelos!

- Estou quase terminando! - exclamou de volta enquanto enrolava suas coisas e as colocavam de qualquer jeito em sua mala.

- Você disse isso há cinco camisetas atrás - o australiano retrucou de uma forma mal-humorada, ainda tamborilando os dedos em seu antebraço, como acontecia toda vez que ele ficava nervoso com alguma coisa.

Desde que se entendia por gente, o cacheado costumava bater as pontas dos dedos repetidas vezes em qualquer superfície que sua mão repousasse. Sempre que acontecia alguma excursão ou algum evento, sua ansiedade atacava e ele ficava extremamente agitado, como se tivesse tomado dez xícaras de café ao acordar. Tal hábito e comportamento deixavam tanto ele quanto seus amigos e familiares completamente malucos. Pois se o O'Brien estivesse com medo de que algo errado pudesse acontecer, então ele importunaria a todos até que chegassem à beira da loucura, para então notar que não havia com o que se preocupar.

- Relaxa - o ruivo-morango disse para o amigo, o que apenas o deixou ainda mais estressado do que antes - vou ter isso aqui em um minuto, só faltam umas duas camisetas e... - prolongou a última palavra, ao mesmo tempo que enfiava as duas peças de roupas dentro da mala de qualquer jeito - prontinho! - exclamou sorridente - não falei que já estava quase acabando? - o inglês pronunciou a pergunta retórica enquanto sorria de forma convencida para o acastanhado.

- Quero só ver se você vai conseguir fechar esse troço - resmungou irritadamente, uma expressão emburrada tomando conta de seu rosto, deixando-o parecido com suas irmãs mais novas quando as mesmas não conseguiam o que queriam.

- Mas é claro que... - Jason disse enquanto fechava o zíper, interrompendo sua própria frase quando precisou fazer um pouco mais de força e mesmo assim a mala estava fechando.

- O que dizia? - Tray indagou, arqueando uma de suas sobrancelhas de forma sarcástica, ao mesmo tempo que um sorriso maldoso adornava seus lábios.

- Cala a boca - o mais novo respondeu, trincando os dentes conforme ia tentando forçar o zíper a fechar aquela droga de mala, mas o objeto não parecia querer colaborar com ele, já que não havia se movido um centímetro sequer.

Alguns minutos se passaram, Jay ainda estava envolvido em sua luta com o maligno zíper e o mais velho ainda assistia toda aquela cena com uma expressão divertida no rosto. Ele deveria estar estressado e berrando tanto com seu amigo que até as garotas conseguiriam ouvir lá do dormitório feminino, mas ver um dos cabeças ocas teimosos que ele chamava de amigo estar numa luta interminável com um simples zíper de metal por não ter o ouvido e feito as malas no dia anterior com mais calma e rir as custas disso era muito mais divertido.

- Difícil aí? - questionou, o sarcasmo pingando em sua voz.

Era muito óbvio que estava sim difícil, já devia fazer quinze minutos de luta incessante e, apesar dos braços do ruivo-morango estarem doendo e os nós de seus dedos estarem brancos de tanta força que ele aplicava, o zíper não havia se movido nenhum milímetro para frente, na verdade, tinha até regredido alguns centímetros para trás, mas ele jamais admitiria aquilo para o australiano.

- Nenhum pouco - o Thompson respondeu de forma desdenhosa - já está quase fechando, olha - falou, mesmo que desse para ver claramente que não estava nem na metade da mala.

Bem quando o acastanhado se inclinou um pouquinho para frente, a fim de fingir espiar a situação com a mala, o zíper resolveu que aquela era uma ótima ideia voltar para seu ponto de partida. O objeto de metal deslizou para trás até que já estivesse no final e a mala estivesse totalmente aberta, fazendo com que a parte de cima fosse com tudo para trás e deixando exposta a pilha de roupas que Jason havia amontoado dentro da mala. Um suspiro derrotado escapou por entre os lábios do inglês e o O'Brien teve que se conter para não gargalhar da situação do outro.

- Como disse? - indagou, diversão cobrindo as palavras que pronunciou.

- Talvez esteja só um pouquinho difícil - disse, seu orgulho o impedindo de dizer que aquela tarefa era impossível - pode me ajudar? - pediu, arregalando os olhos para o cacheada em uma falha tentativa de imitar o gato de botas.

O australiano adentrou o quarto, sorrindo levemente enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro de forma desacreditada. Por mais que sempre reclamasse por Jay e Yandra não o ouvirem, por sempre ter que concertar alguma confusão que os dois causaram e até mesmo por ter que ficar escutando-os brigar sem parar um com outro enquanto tentam pedir algum conselho para o mais velho, ele gostava de quando eles o procuravam, pedindo da forma mais dramática que conseguiam, que queriam a sua ajuda.

- Por que não, não é? - perguntou retoricamente, uma risada escapou com uma lufada de ar por entre seus lábios no mesmo instante que um sorriso alegre iluminou os traços ingleses do rosto do ruivo-morango - para de sorrir que nem idiota, fecha a mala e se senta em cima dela - ordenou, revirando os olhos ao observar a cena que seu amigo estava fazendo.

Como se fosse uma criança de cinco anos na manhã de Natal, Jason saltitou para mais perto da cama e se inclinou por sobre a cama, fechando rapidamente sua mala e se sentando na mesma logo em seguida.

Mais uma risada escapou do fundo da garganta do acastanhado quando o Thompson começou a balanças as pernas suspensas no ar, fazendo-o lembrar de Ravena e Madison quando elas pediam para ele fazer leite com chocolate para elas e Tray as colocava sentadas em cima do balcão da cozinha.

- Fica quieto - ordenou mais uma vez, ao mesmo tempo que segurava o zíper.

O objeto de metal deslizou com suavidade e a mala se fechou com facilidade, ficando um pouco estufada graças as milhares de roupas emboladas que o mais novo havia enfiado de qualquer jeito lá dentro. No momento seguinte, Jay saiu de cima de sua mala, pegou-a pela alça e a puxou, seu braço sendo puxado para baixo com violência devido ao peso.

- Pronto - o australiano declarou - agora nós podemos, pelo amor de Morgana, ir esperar aquele maldito ônibus? - indagou, praticamente implorando com seus olhos castanhos para que o amigo respondesse que sim.

- Sim, podemos - o Thompson respondeu, risonho por causa do sofrimento claramente visível do mais velho.