Capítulo 18

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- Hoje irei ensinar a vocês como invocar seus familiares - a professora de Adestramento e Biologia Mágica anunciou enquanto caminhava em direção a uma caixa enorme que havia sido posicionada no meio da arena onde a aula de Adestramento de criaturas mágicas acontecia.

Maya Antonella é uma bruxa brasileira de vinte e seis anos de idade, cabelos castanhos cacheados, um e setenta e cinco de altura, pele parda e olhos castanhos escuros que é apaixonada por todo e qualquer tipo de criaturas mágicas desde que a bruxa se conhecia por gente.

Além de ser uma bióloga e amar estudar todos as espécies de seres mágicos que existem no mundo, a bruxo também tinha uma grande paixão por lecionar e compartilhar com seus alunos todo seu amor e carinho por animais exóticos.

O dia estava relativamente fresco naquela tarde. Sol brilhante, mas não ao ponto de matar todos de calor, uma brisa leve e refrescante passando por eles e o farfalhar das folhas das árvores balançando era agradável.

Todos os alunos se encontravam de pé parados de frente para a grande caixa para qual a bruxa mais velha se dirigia. A maioria deles estava aguardando ansiosamente para descobrirem qual forma seus familiares assumiriam enquanto o restante da turma estava confuso e curioso pelo simples fato de não ter a menor ideia do que era um familiar, provavelmente por terem se esquecido completamente de uma aula extremamente detalhada de Maya sobre o assunto.

- Para aqueles que não conseguem se lembrar o que é um familiar, irei refrescar suas memórias - Antonella disse, já que conhecia bem seus alunos - os familiares são espíritos, mais especificamente guias espirituais, que conseguem assumir todo tipo de forma dependendo de seu dono. São criaturas que possuem muita lealdade a seus donoso, nunca, sob quaisquer circunstâncias, os abandonando até que o dia de suas mortes finalmente chegue - começou a explicar, seu tom de voz adquirindo um tom discursivo, como se ela estivesse dando uma palestra, e ao mesmo tempo de admiração, como sempre acontecia quando a mulher de cachos castanhos falava sobre criaturas mágicas - todos os bruxos possuem um familiar, que normalmente encontram quando estão com a idade de vocês, mas, em casos extremamente raros, alguns bruxos apenas conseguem encontrar seus familiares depois de já terem se formado - relatou, fazendo com que alguns adolescentes arregalassem os seus olhos de surpresa, e medo de isso acontecer com algum eles - mas as chances de isso acontecer hoje com você é muito baixa, quase nula. Então fiquem tranquilos - acrescentou enquanto sorria gentilmente, em uma tentativa de tranquilizar os mais novos.

Quase que instantaneamente, o medo de não conseguir encontrar seu familiar começou a percorrer as veias de Sasha. Mesmo com a frase tranquilizadora de sua professora, a ruiva ainda assim estava com medo de ser a única a sair daquela aula sem ter um familiar a acompanhando. Seus colegas de classe não a deixariam em paz caso aquilo acontecesse.

- Fica tranquila - a voz de Yandra veio de trás da irlandesa, fazendo a mesma dar um pulinho de susto no lugar - me desculpa, eu não queria te assustar - pediu, segurando o riso.

- Tudo bem, eu só não estava esperando - respondeu, sentindo suas bochechas esquentarem de vergonha.

- Eu só queria dizer para ficar tranquila - a indiana sussurrou, seu hálito acariciando a orelha esquerda da outra - você vai conseguir encontrar seu familiar hoje igual a todos nós, não precisa se preocupar.

- Obrigada - agradeceu, o rubor de suas bochechas aumentando - eu não sabia que estava tão óbvio assim o meu nervosismo com isso - disse, sem graça.

As duas trocaram risadinhas baixas e meio envergonhadas antes de voltarem a prestar atenção na aula que se desenrolava diante delas.

Não foi muito difícil para a morena notar o nervosismo de sua colega de classe, já que seus olhos azuis com pontos dourados semelhantes a um céu estrelado não se desgrudaram da cacheada desde o começo da aula. Na verdade, a partir do momento que ela havia descoberto estar apaixonada pela bruxa de olhos castanhos e sardas nas bochechas, há cerca de dois finais de semana atrás, a imagem da garota tímida, de um jeito fofo, e um pouco desengonçada que possuía cachos alaranjados permanecia em seus pensamentos vinte e quatro horas por dia, além de sua presença sempre atrair seu olhar, independentemente de onde elas estivessem.

Disfarçadamente, Nath, que estava bem ao lado de sua melhor amiga, entrelaçou sua mão com a da mesma e lhe lançou um sorriso encorajador quando ela olhou para ele, surpresa pela atitude repentina do azulado. Era como se ele estivesse dizendo que tudo ia ficar bem, que era para ela relaxar e manter a calma.

Pelo visto, qualquer um consegue perceber o quanto eu estou nervosa - pensou consigo mesma enquanto retribuía o sorriso do Fontainelles com um sorriso envergonhado e ao mesmo tempo levemente trêmulo de nervosismo.

Sussurros e exclamações começaram a ecoar de repente, atraindo a atenção de Saha, Yandra e Nathaniel.

Um cervo branco majestoso, com galhadas feitas de marfim e belos olhos negros como ébano, estava descansando tranquilamente em um dos cantos da arena de adestramento. A bela pele leitosa, e tão branca quanto a neve, brilhava sob o sol em toda a sua impressionante elegância. A criatura magnífica, que parecia ser feita de porcelana, ignorava plenamente a grande massa de alunos que lhe encaravam de boca aberta, como se eles não fossem dignos de sua atenção.

- Vejo que já conheceram o Edelweiss, meu familiar - a brasileira disse, caminhando em direção ao esbelto animal. Seus lábios apertados um contra o outro para conter o riso que queria escapar de sua garganta diante da surpresa e do espanto de seus alunos.

Obviamente o cervo só poderia ser um familiar. A criatura mágica era perfeita demais para ser real. Tamanha beleza só poderia pertencer a um espírito capaz de adquirir qualquer aparência de acordo com seu dono. E se tratando da bióloga, e entusiasta de seres místicos, aquele era o familiar perfeito para a bruxa.

Sem sequer pensarem duas vezes, os adolescentes animados se aglomeraram em volta de Edelweiss como garotas de doze anos fanáticas encontrando seu cantor favorito pela primeira vez.

Mesmo com toda a balburdia em volta de si, o guia espiritual não se deixou abalar e permaneceu imperturbável em seu recanto na arena. O único movimento que fez foi fechar os olhos em um claro sinal de apreciação quando sua dona acariciou a parte de trás de seu pescoço. A carícia era observada atentamente pela turma do primeiro ano da Blackwood, estavam impressionados com a interação entre familiar e bruxa, e todo aquele momento durou alguns minutos.

- Certo, alunos - Maya falou repentinamente, seu tom de voz em um volume alto para chamar a atenção de seus alunos - agora que vocês já conseguiram vier um familiar pessoalmente, está na hora de conhecer os seus próprios - a professora de Adestramento e Biologia Mágica disse, retornando para perto da enorme caixa contendo os espíritos.

Rapidamente, os adolescentes de dezesseis anos acompanharam a bruxa mais velha, quase atropelando uns aos outros no processo. Todos estavam empolgados, e ao mesmo tempo agitados, para o momento que a Antonella libertaria os familiares.

Novamente, o medo tomou conta do corpo de Sasha assim que ela e seus colegas de classe estavam de volta a suas posições de antes de Edelweiss aparecer, mas a ruiva respirou fundo, em uma tentativa de afastar aquele sentimento ruim que crescia no centro de suas entranhas.

Vai dar tudo certo - ela repetiu as palavras de Yandra para si mesma mentalmente, mesmo que não acreditasse naquilo.

- Irei abrir esta caixa e libertar os familiares - a cacheada anunciou, fazendo com que sua classe se agitasse ainda mais - permaneçam em seus lugares e deixem que os espíritos encontrem seus caminhos até vocês - instruiu, acalmando a massa de adolescentes repletos de hormônios - não façam movimentos bruscos ou então assustaram eles - avisou, uma expressão séria tomando conta de seu rosto.

Alguns alunos assentiram em concordância enquanto outros apenas ficaram em completo silêncio, receosos com o ar sério que a professora, normalmente divertida, animada e descontraída, adquirira de repente. A única reação da irlandesa foi engolir em seco, ao mesmo tempo que estava cerrando seus punhos rente ao corpo para que suas mãos parassem de tremer.

Um sorriso de satisfação brilhou nos lábios de Maya ao ver que seus alunos obedeceram a seu aviso e abandonaram o estado barulhento de antes.

Logo em seguida, a brasileira repousou uma de suas mãos sobre o trinco da caixa e, ainda sorrindo para seus alunos, a abriu.

A mágica das estrelas nos seus olhos (Clareira encantada: livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora