dois

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ANA JÚLIA

Afasto algumas cadeiras para dar o espaço que preciso e me abaixo.

Não sei o que tá fazendo, nunca levei muito jeito com criança e muito menos pra acalmar uma que está chorando muito.

— Oi, posso saber o motivo de você estar chorando? Quero te ajudar— digo da forma mais doce que consigo e a garotinha levanta a cabeça, me olhando.

O rosto tá muito molhado por conta das lágrimas, seus cabelos cacheados estão um pouco bagunçados, mas não dá pra negar que ela é uma garota muito bonita.

— Não— fala e eu simplesmente não reajo.

— Sinceramente, viu? Tá quase se afogando em lágrimas e não quer ajuda? Então tá bom, fica ai embaixo da mesa, mas já ouviu dizerem que a partir do momento que você faz isso deixa de crescer?

— Então você ficava embaixo da mesa também? 

Não entendi esse hater todo pra cima de mim, só queria ajudar.

— Não sou baixinha.

— Você é baixinha sim.

— Tenho um metro e sessenta certinho, sem tirar e nem por.

— Isso não é muito.

— Você fica igual um anão da branca de neve perto de mim.

— Mas eu ainda vou crescer.

Você nem deveria ter vindo pra cozinha, Ana Júlia, nem deveria.

— Cadê seus pais? Você tá aqui chorando, sozinha, abandonada, xoxa, capenga…

— Eu sou uma criança, você não deveria falar assim comigo.

— E eu sou adulta, por isso tô aqui querendo saber o que aconteceu contigo.

— Curiosa.

— Quem são seus pais? Vou chama-los aqui.

— Minha mãe brigou comigo.

— Por que será, né?

— Ela queria que eu falasse pro papai ir dormir lá em casa hoje, ela quer muito voltar com ele.

— Você não quer que eles voltem?

— Não, porque eu gosto quando eles tão separados, assim eu posso dormir em casas diferentes e meu pai sempre me mima muito.

— Você é inteligente, sua mãe não aceita o término, né?

— Sim.

— Deve ser uma corna inconformada— cochicho e ela me olha curiosa.

Porra, tenho que lembrar que estou conversando com uma criança.

— Bom, sai aí debaixo e a gente pode conversar melhor.

— Não quero conversar.

— Sai logo, por favor, assim você pode me ajudar a pegar água pra beber.

— É só abrir a geladeira.

— Mas eu não me sinto bem em abrir a geladeira dos outros.

— E eu posso?

— Você é criança, não dá em nada.

— Ah, tudo bem— ela sai debaixo da mesa e eu também me levanto, passando a mão no meu vestido e desamassando um pouco .

— Quer água gelada?

— Por favor.

Com uma intimidade incrível ela dá uma corridinha até a geladeira e abre, tirando uma garrafinha de água lá de dentro.

𝗣𝗢𝗗𝗘 𝗙𝗜𝗖𝗔𝗥•• 𝗚𝗲𝗿𝘀𝗼𝗻 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗼𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora