CAPÍTULO 2 | Kian

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Dentre os anjos, os mais desprezados entre eles são aqueles que foram expulsos de Caelum. Seres sem luz, condenados a viver em terra, com suas asas manchadas de negro para os lembrar que estão na fila para Grame, e que não são dignos de amor ou misericórdia.

Eu, Kian Chevalier, já havia escutado todas aquelas histórias, tantas vezes que as decorei como uma música irritante que não sai da cabeça. Parei de me importar sobre o que diziam sobre os anjos caídos quando me tornei um deles. O motivo da minha queda não era da conta de ninguém, e me recusava a contar para as pessoas ou para qualquer um que buscassem motivos para ter piedade de mim em alguma situação. Já aceitara meu título, e havia abraçado o que eu era, me afundando em bebida e sexo noite após noite - muito obrigado. Sabia que por ser lindo como inferno e tentador como a bebida é para um alcoólatra, eu podia seduzir mulheres quando quisesse e quantas quisesse, cometer os pecados que eram proibidos a anjos do céu e se embebedar até esquecer o futuro que me aguardava. Aliás, era um de meus passatempos favoritos.

Claro, eu não tinha pressa de ir para Grame, mas quando o tédio me atingia, eu divagava em como seria estar lá finalmente. Era nisso que estava pensando enquanto secava uma garrafa de uísque diante da janela de meu apartamento no terceiro andar de um dos prédios nórdicos na cidade de Lirya em Serein. Sentado em uma poltrona de couro caramelo, com a camisa preta de botão aberta e a calça jeans ainda desabotoada, eu sentia o ar da manhã preencher o quarto, torcendo para que o frio se instalasse ao ponto de acordar a garota nua em minha cama para que eu pudesse a mandar embora.

Já tínhamos transado até de manhã e, mesmo que ela precisasse dormir, eu detestava ter companhia depois do amanhecer.

Dei mais um gole na bebida, sentindo o álcool aquecer meu estômago e fazer efeito em meus pensamentos, dando-me um leve incentivo para acordar a desconhecida e a expulsar. Porém, o vento soprou mais forte e ela se remexeu na cama, despertando finalmente.

— Humm. Já está acordado? — ela resmungou com uma voz rouca.
Eu não precisava dormir, mas é óbvio que não diria isso a ela.
— Você precisa ir — Falei, os olhos ainda observando as nuvens de chuva que se formavam no céu azul — Vai chover em breve e eu tenho mais o que fazer.
— Você não devia beber a essa hora da manhã — pela visão periférica, eu consegui distinguir a menina colocar os pés para fora da cama, ainda nua, com os cabelos loiros cobrindo os seios fartos.
Conseguia sentir o gosto dos seios dela na minha língua, assim como o gosto que ela tinha entre as pernas, e sorri ao lembrar dos gemidos, das unhas que marcaram minhas costas enquanto a fodia por horas até o nascer do sol. Embora tivesse gostado do sexo, não me incomodei em olhar para ela enquanto virava a garrafa de uísque mais uma vez.

— Se vista — Limpei o canto da boca com o polegar.
— Está falando sério? — ela deu uma risada seca
— Não sou muito de brincadeiras — Levantei e caminhei em direção ao banheiro, apontando para a porta de saída que ficava ao lado—Não vou falar de novo. Pode ir.

Pude ouvir a garota rosnar quando fechei a porta do banheiro. Os pés dela batendo firme no assoalho enquanto se vestia e, por fim, a porta da frente abrindo e fechando com violência.  Silêncio.

Lavei o rosto e fechei os botões da camisa e da calça, encarando meu reflexo no espelho antes de voltar para o cômodo maior. Os olhos negros como uma turmalina, cabelos lisos da mesma cor bagunçados, os musculos agora escondidos sob a camisa preta, e uma barba grossa no rosto, que combinava com minha pele bronze moderada. O que um rostinho bonito não faz pela gente, não é?

— Preciso fazer a barba — cocei os pelos do rosto e voltei para o cômodo principal.

Observei a bagunça do ambiente, suspirando com pesar.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora