CAPÍTULO 28

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Dara

Me sentei na ponta da cama. Precisava ir atrás de Kian, mas antes eu tinha que organizar meus pensamentos. Eu não lembrava de Nathan e, se um dia eu cheguei a sentir algo por ele, já não restava mais nada. Eu amava Kian, e ele sabia disso.

Nathan sentou ao meu lado na cama e suspirou.
— Não sei porque nossos caminhos se cruzaram, Dara — encarei os olhos verdes dele.— Mas isso foi em outro tempo. Não é mais assim agora.

— Por que não contou antes? — consegui perguntar.

Nathan deu de ombros.

— Kian não se acha merecedor de nada. Ele já desistiu de si mesmo e eu sabia que ele ficaria inseguro. E para quê desenterrar isso? Sinceramente estou com vontade de matar Verena.
Somos dois.

—Nós temos um passado, Nathan.

—Sim, um passado. Que ficou para trás, Dara. Kian é seu futuro. — Nathan sorriu.

—Mas, eu sei que você tem algo pra me dizer.

Nathan olhou fundo nos meus olhos. Seus olhos eram de um verde-oliva, tinha uma barba rala no rosto e lábios rosados que tentavam achar as palavras certas. Diferente de Kian, tinha uma postura mais mansa, ainda que firme. Olhar para Nathan era enxergar um anjo do céu, e nunca um caído.

— Você foi a melhor coisa que aconteceu comigo...—ele começou dando um sorriso doce— Eu deveria ter ido para Grame desde sempre. Você não sabe, mas eu ia desafiar os arcanjos na noite que te conheci. Você me impediu de fazer isso, você me salvou. E, eu te amo, de todas as formas por isso, Dara. Você foi meu anjo da guarda muito antes de se tornar um. E, eu lamento por tudo que aconteceu e por eu ter feito você passar por isso. Era minha sentença. Caídos não acham o amor e eu expus você. Lamento mesmo.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele assentiu, e eu passei a língua no meu lábio inferior antes de continuar — Por que você caiu?

— Eu também encontrei meu Sacrilégio nessa vida, mas não tive a mesma força de vontade de Kian.

Perdi o meu ar. Nathan abaixou os olhos e suspirou.

— Ela era uma ninfa e eu um anjo da guarda. Ela me enlouqueceu e eu não resisti. A tomei à força. Então me tornei um caído.

Abracei meu próprio corpo e encarei o meu colo, lutando contra a náusea que ameaçava meu estômago.

— Quando você diz que a tomou à força…quer dizer que… — engoli em seco e arrisquei um olhar em direção a ele. 
O pomo de adão subiu e desceu antes de Nathan desviar o olhar.

— Eu a beijei. Ela me afastou e disse que não queria. Eu a puxei para os meus braços e implorei, disse que estava enlouquecendo por ela. Eu insisti, e insisti, até que ela cedeu. Ela permitiu que eu fizesse. — suas mãos se fecharam em punhos antes dele continuar — e durante todo o ato eu sentia que ela não queria, por mais que seu corpo reagisse, ela não… queria. Ela só estava deixando por medo de me dizer não. E eu não conseguia parar. O pior é que depois que a tomei, aquele desejo se foi. Era apenas um doce sacrilégio.

Algumas lágrimas caíram pelo meu rosto.
— E depois?

— Depois eu pedi desculpas para ela — Nathan suspirou e me olhou. Seu olhar estava carregado de repulsa. — Eu chorei, implorei perdão. Ela era uma criatura adorável e me perdoou, disse que havia permitido, mas eu sabia que…que eu era um ser miserável e merecia o inferno. Fui expulso de Caelum, aceitei isso de bom grado, mas não consigo me olhar no espelho desde então.

— Nathan…

— Não, Dara. Não diga meu nome desse jeito. Não há nada no mundo que eu odeie mais do que a mim. — Ele torceu o nariz — Vou a bares todas as noites atrás de mulheres, e me sinto muito melhor quando elas me recusam e eu as deixo ir. É como um bálsamo. Jurei que nunca, jamais, teria algo perto do que tive com você de novo. Eu aceitei a sentença do caído.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora