CAPÍTULO 3

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Dara

Havia descido em Serein. Terra de clima mais frio, cercada por bosques, córregos e prédios em arquitetura nórdica. Tem dias mais frios, com névoa densa, chuva e até mesmo neve. Composta por seis cidades: Crivy, Bergge, Physa, Prym, Cíames e Lirya, que foi a cidade que escolhi para ficar.

Já havia trocado de roupas, me baseando no estilo humano que vi em algumas garotas. Ao entrar em uma loja, escolhi uma calça escura, um suéter vermelho e botas pretas quentinhas, e quando encarei meu reflexo no espelho da loja, sorri contente com o resultado. Parecia humana. As asas recolhidas e cobertas pela energia espiritual, olhos cinzas brilhantes com alegria viva. Eu estava ali mesmo!

- Ficou linda - a moça comentou por trás de mim.

- Obrigada - Encarei os olhos da humana e manipulei suas memórias.

Anjos Protetores têm esse dom, para limpar memórias em caso de serem vistos, ou apenas de manipular humanos para que pudéssemos caminhar entre eles e fazer o nosso trabalho.

Após me vestir, caminhei pelas ruas e rodovias da cidade Lirya, observando as pessoas, casas, pontos comerciais e a energia. Sim. A cidade tinha uma energia estranha, percebi. Assim que pisei ali, pude sentir. Talvez, fosse a quantidade de inumanos que havia na cidade, de várias raças. Aparentemente viviam pacificamente, mas não havia se encontrado com nenhum para ter certeza. Apenas os sentia, e não sabia dizer o que eram e onde estavam, apenas sabia que estavam ali.

Fora isso, Lirya era uma cidade comum. As ruas eram de pedras em paralelepípedos, com prédios, casas, pontos comerciais, igrejas e bares, tudo feito e construído com o mesmo padrão arquitetônico, em cores pastéis e telhados triangulares. Cercada por bosques que eram invadidos pela névoa densa que não dava trégua; o frio era persistente até sob o mais forte raio de sol que perfura as nuvens densas de chuva que se acumulavam no céu cinzento. Lirya, assim como toda Serein, parecia sempre estar fria e molhada, sempre ameaçada de uma onda de frio.

Era meio sombrio até, e fazia sentido que seres inumanos usassem aquilo para se esconderem nos bosques ou prédios velhos.

De qualquer forma, eu não tinha medo. Em minha missão, nenhum deles poderia interferir ou me fazer mal, pois isso seria uma violação contra Caelum. Ainda assim, não gostaria de encontrar com nenhum deles durante os dias que ficaria na cidade.

Balancei a cabeça levemente, limpando os pensamentos da preocupação para focar no dia que me aguardava, com os olhos vigilantes, busquei a necessidade de ajuda e mantive o sentido de alerta pronto para me guiar pelas ruas até as pessoas que precisavam ser salvas.

Era como ter um milhão de vozes na sua cabeça, todas sussurrando ao mesmo tempo, rezando, suplicando, pedindo. E o perigo, estava por toda a parte, constantemente, dava para sentir nos ossos o puxão. E, quando um deles soava mais forte, eu o seguia.

***

No fim do dia, estava pronta para voar para o alto de um prédio e começar a receber minhas orações. Mesmo sendo um anjo protetor, ainda precisava me alimentar das orações feitas pelos humanos para manter a força e, como não precisava dormir e nem tinha necessidades, poderia facilmente ficar no alto de um prédio - desde que não chovesse.

Para minha sorte, o céu estava límpido naquela noite, sem rastros de chuva ou tempestade, apenas estrelas e a lua em sua fase crescente. Continuei o caminho pela cidade, decidida a soltar minhas asas em algum beco vazio, mas parei de súbito quando fui atingida em cheio por uma energia forte e perigosa. Meu coração dançou dentro do peito e, sem nem perceber, segui o rastro sombrio palpável, virando em ruas desconhecidas, ignorando os olhares humanos e apressando o passo à medida que sentia aquela força me puxar mais e mais, como um ímã. Havia algo de errado ali, ou alguma coisa muito ruim iria acontecer.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora