EPÍLOGO

50 3 0
                                    

EEIRIEST - Arade


Era um apartamento escuro e frio na cidade de Arade; com um beliche em um dos quartos e móveis corroídos na sala e cozinha. Não era nada luxuoso e parecia já ter sido ocupado por muitos moradores. Talvez fossem as infiltrações nas paredes ou o cheiro de mofo que deixava a desejar. Contudo, para os dois rapazes era perfeito. Localizado em uma vizinhança afastada onde todos eram suspeitos; vizinhos desconfiados que não olhavam muito e também tinham culpa de alguma coisa.

Os dois jovens – aparentemente – se mudaram muito recentemente para aquela cidade pequena e afastada, nas terras de Eeiriest, onde o sol aparece uma vez a cada vinte dias, o que os dava mais a noite do que dia e tornava o lugar ideal para ambos viverem. Afinal, poderiam sair mais vezes e se aproveitar do ar soturno da cidade. Depois de tudo que eles passaram nas cidades grandes seria bom morar em um lugar onde pessoas sumirem era comum e animais selvagens atacassem com frequência.

O primeiro rapaz avaliou o apartamento de um jeito descontente, torcendo o nariz devido ao cheiro de mofo que pareceu não lhe agradar nenhum um pouco. Ele possuía uma beleza clássica, a pele albina que parecia bronze nas sombras do apartamento e que combinava com os cabelos brancos lisos de mechas rebeldes caindo diante dos olhos vermelhos sangue; a calça jeans clara e camisa de botão bege  ressaltam sua beleza, e, ao retirar o sobretudo preto que usava, era possível notar músculos nos braços e escondidos sob a camisa. Não devia ter mais de 1,75 de altura, e não era nada menos que belo e atraente. Ele jogou a peça em um canto antes de se sentar em uma poltrona coberta de poeira, lançando um olhar desconfiado para a rua através da janela.

O segundo, por outro lado, possuía uma beleza sombria e inquietante. Tinha cabelos negros médios na altura dos ombros. Usava couro, blusa preta e um jeans azul escuro. Era forte que nem as roupas conseguiam esconder isso. Os olhos cinzas carregados de perigo eram atentos e misteriosos, como nuvens de tempestades. Era mais alto que o amigo, talvez com um 1,80 de altura. Ele olhou com cautela ao redor e bateu a porta atrás de si, jogando sua mochila no canto e pousando uma bolsa sobre a mesa velha. Seus movimentos eram calmos e calculados, com elegância e educação.

— Vai servir — Disse em uma voz baixa e tranquila, e lançou um olhar para o amigo sentado na poltrona.

— Meu olfato é sensível, e esse lugar fede, Andrew. — Respondeu o amigo em uma voz monótona e rude.

— Considere um castigo, Raiden — Andrew pôs as mãos no bolso.

— Por que escolheu esse lugar? — Raiden torceu o nariz mais uma vez.

— Nos afastar de vista. Chamar pouca atenção, e te fazer ficar mais… sociável. Você precisa aprender a se controlar, não quero mais encontrar com...eles.
— Gabriel não pareceu tão ruim.

— Todos eles são ruins para nós. Não deixe se enganar — Andrew olhou através da janela.

— Sei que o que fizeram foi muito ruim — Raiden comentou em um sussurro — talvez se você tentasse argumentar...

— Me defender? — Andrew riu, lançando um olhar de descrença para o amigo — Acredito que a função deles é serem justos. Neste caso, o que adiantaria? Não, Raiden. Estou bem. Eles são exatamente o que eu sabia que eram. E agora estão buscando um motivo para nos punir, então, se puder não repetir seu último ato, eu agradeço.

Raiden se encolheu, envergonhado. Andrew suspirou e tocou o ombro do amigo, olhando ele nos olhos.

— Ei, parceiro, eu estou contigo, e eu vou te defender. Mas, gostaria que não fosse preciso.

— Não vou fazer nada. Juro.

— Ótimo — Andrew olhou mais uma vez para o apartamento — aqui é horrível, mas vai servir.

— Por que escolheu aqui? Sério.

Andrew passou as mãos no cabelo e se afastou um passo, sem desviar dos olhos cor de sangue do amigo. Ele ia precisar dar um jeito naquilo. Pigarreando ele decidiu começar.
— Tenho tido uns sonhos.

— Anjos caídos e vampiros não dormem — Raiden sorriu, exibindo um pouco seus caninos afiados.

— Eu sei, Vampirinho, mas nem sempre posso evitar.

— E que tipo de sonho? — Raiden cruzou os braços e fechou os olhos por alguns momentos.

— Na verdade, sempre tive esses sonhos. Não todos os dias, mas de vez em quando. No começo, achei que eram diferentes, com pessoas diferentes, mas agora tenho certeza que não. — Andrew franziu o cenho — Sempre sonhei com dois bebês.

— Aqueles dois...?

— É. Isso. E eu achava que era uma lembrança, mas foram mudando. No começo eram bebês, depois crianças, adolescentes e, agora, quase adultos.

— Espera. Tá dizendo que cresceram?

— Sim. E sempre é do mesmo jeito. Eu tenho que os salvar. É uma sensação ruim, e quando acordo, é como se eu os salvasse. Ou chegasse perto disso, não sei explicar.

— Que loucura, mas o que isso tem...? — Raiden abriu os olhos, agora apavorados — ah, não! Não!

— Lamento não ter contado — Andrew pede.

— Cara, se eles souberem, vão vir atrás de nós achando que temos alguma intenção.

— Eu tentei salvar os bebês! Por que eu iria querer eles mortos agora?

— Eu não sei como os poderosos pensam. Mas, que diabos você quer ganhar com isso? Como soube onde estavam? Achei que estavam com uma proteção, sei lá.

— Eu descobri. Dei um jeito. Sinto que tem algo aqui, que não são apenas fragmentos do que eu passei. Eu acho que tem algo mais, e, talvez, se eu puder ver, possa descobrir o que há de especial ou estranho nisso tudo. 

Raiden passou a mão nos cabelos, de modo frustrado. Sua expressão cogitava que o amigo, talvez, tivesse surtado de vez. E talvez tivesse mesmo. Perseguindo e sonhando com bebês humanos? Andrew sempre foi diferente dos outros caídos, disso Raiden tinha certeza, e era por isso que ele confiava nele.

— Certo — Raiden jogou as mãos para o alto em sinal de rendição e as pousou nos braços da poltrona antes de encarar o amigo nos olhos — Como pretende se aproximar?

— Então...você vai adorar — Andrew riu, fazendo Raiden repensar na parte da confiança — Já foi à escola?

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora