Dara
Kian e eu voamos para o alto de um prédio, onde nos sentamos nas estremidades com as pernas para fora, balançando com certo nervosismo. Pude observar todo o verde, as lagoas e cada detalhe que tornava Verdent um lugar lindo, com cheiro de verde, terra e orvalho.
Não falamos nada por um longo tempo. A conversa com Verena me rendeu milhares de coisas para pensar, principalmente no aviso final que ela havia nos dado. Eu era o anjo mais puro de Caelum. Coisa que nunca havia se passado pela minha cabeça visto que, para mim, todo ser que habita Caelum é puro, mas entendi o que ela quis dizer: sem pecados antes e nem agora. E tinha também aquele cordão que me ligava à Kian. Para ser sincera eu já sentia isso, e ele também. Agora o que ela quis dizer sobre ele estar no meu caminho antes? Será que Kian e eu íamos nos encontrar quando eu era humana em algum momento?
O que me levou a pensar na outra parte da conversa: no quão íntimos os dois pareciam ser e sobre o detalhe que Kian parecia não ter me contato.
— Você não disse que já conhecia Verena — quebrei o silêncio.— Foi há muito tempo — ele respondeu.
Ah.— Vocês dois…ficaram muito tempo juntos?
Kian riu e eu o olhei. O sorriso dele poderia iluminar uma cidade inteira. Era tão raro ele dar um sorriso genuíno que não estivesse carregado de malícia. Mas ali estava, um sorriso de verdade.
— Eu não tive nada com Verena, Dara. Eu fui um cliente dela.— Ah — Franzi a testa.
— Eu quis ajudar você nisso porque eu sei como está se sentindo — Kian olhou para o horizonte — Na verdade, ao contrário de você, eu me lembro de tudo. Eu também fui sacrificado em um ritual.
Meu coração parou. Deve ter parado. Ou então tudo à minha volta é que tinha ficado mais lento e frio.— Meu pai — Kia engoliu em seco antes de prosseguir. — Ele me matou para ter uma vida melhor. Minha mãe havia morrido e eu era um fardo de adolescente. Então ele me ofereceu como oferenda. Morri com sentimento de vingança, e só fez sentido o motivo de eu ter me tornado um vingador quando você me explicou como funcionava essa história de renascer.
“Nunca contei isso para ninguém. Nem para Nathan. Vim atrás de Verena porque eu queria me vingar dele, mas ela me disse que meu pai estava ardendo em Grame. Para mim foi o bastante. Ele teve o que mereceu.”
— Por isso você sabia onde procurar as informações sobre o ritual — Murmurei, aturdida.
— Sim. Eu fiz o mesmo caminho que você. Só não pensei em Verena porque, bem, não queria voltar aqui e…me desculpe.
— Não precisa se desculpar. Lamento por isso — Peguei a mão dele instintivamente. Kian entrelaçou os dedos nos meus e me olhou.
A coisa mais tentadora para mim em todo o mundo…
Sim. Ele era.
— Preciso voltar para Caelum — falei antes que fosse tarde para mim.— Ah! Claro — Kian soltou minha mão — É claro.
— Mas não quero ficar lá — completei e ele me olhou — Não consigo perdoar o que os arcanjos fizeram com você e Nathan.
— Dara…
— E eu sei que você não quer voltar para Caelum porque também se sente como eu me sinto. Essa injustiça não deve ter sido cometida somente com você, Kian, você sabe. E eu não quero fazer parte disso. Porém, preciso de respostas dos Arcanjos e, se eu cair por confrontar eles, que seja.
— Você vai se tornar um anjo caído — ele enfatizou cada palavra — Percebe o que isso significa?
— Sim — sorri de canto — que vou ficar com você.
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Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro um
Fantasy"É sempre assim? O pecado é sempre tão tentador?" Eufórica por finalmente ser um anjo protetor, Dara Lorenz se prepara para descer à Telluris e cuidar da proteção dos humanos. É nesse primeiro contato que ela percebe como o mundo pode ser violento...