CAPÍTULO 19

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Fazia mais de cinco minutos que Kian havia saído.

Não que eu achasse ruim. Na verdade, ter ele fora do quarto era bom para que eu pudesse colocar minhas ideias em ordem. A presença dele, sua aura e aquela energia…tudo nele estava se tornando sufocante. Tentador demais para que eu pudesse lidar. E ele sabia disso. Eu, como a perfeita anjinha ingênua que sou, havia dito isso a ele. E, Kian, com muita eficiência, havia ignorado.

Claro que ele não se sentia tentado por mim. Havia mulheres aos montes se jogando no colo dele. Por que ele sentiria fome de algo que come todos os dias? Que péssima analogia. Isso com certeza é pecado.
— Perdão — murmurei.

De qualquer forma, foi isso que me fez descobrir que ele estava mexendo com a minha cabeça sem de fato estar mesmo tomando alguma atitude. Eu tinha, uma singela esperança, de que Kian estivesse mesmo prestes a me beijar, mas é claro que não, não é?

Voltei para a janela e, com um suspiro cansado, encarei a estrada vazia, iluminada pelos velhos e defeituosos postes. Não havia som de nada do lado de fora, nem carros ou qualquer coisa que indicasse vida. Estava escuro, sem nem sinal de que o sol estava prestes a nascer.
E nada de Kian.

Onde ele estava?

Andei pelo quarto, li toda a revista e encarei o nada da rua vazia por muito tempo, e, quando tive certeza que aqueles cinco minutos se tornaram horas, eu decidi que não ia mais esperar. Ia trazer Kian arrastado pelas asas se necessário.

Coloquei a adaga de bronze na cintura escondida sob minha camisa e saí do quarto vermelho e, guiada pela energia que Kian emanava, eu atravessei os corredores até o andar mais abaixo da hospedaria. Uma espécie de porão que havia sido transformado em bar. Havia luzes coloridas no teto, mesas redondas nas paredes e cantos escuros, e um bar de madeira no fundo. Não havia ninguém ali além de um casal em um canto escuro, o barman que limpava um dos copos e Kian, que estava sentado em uma banqueta virando o que parecia ser uma dose generosa de líquido âmbar sabor álcool.

— Kian…— me aproximei e o barman me olhou dos pés à cabeça, sorrindo de canto para mim. Senti o desejo carnal dele no mesmo instante.

— Ela não — Kian apontou para o homem, arrancando o sorriso dele no mesmo instante —  Não olha assim para ela.

— Desculpe — O barman segue para a outra ponta no bar

— Kian — Chamei mais uma vez, chegando mais perto dele.

No mesmo instante, ele se levantou e me tomou em seus braços. Não de um jeito ruim, mas delicado. Uma mão foi para minha cintura e a outra segurou minha mão, me puxando ainda mais para perto.
— Shh. Relaxa — ele murmurou.

— O que está fazendo? — Sussurrei de volta com o coração martelando o meu peito.

— Dançando com você. — ele abaixou a cabeça e encostou a testa na minha.
Meu ar se foi. Subitamente. Havia música ali, uma melodia baixa e doce.  Apesar do cheiro de álcool, eu sentia o cheiro dele - couro e sândalo, com algo mais. Kian pousou minhas mãos em seus ombros, e suas mãos desceram para o meu quadril. Eu já não estava sentindo minhas pernas, e um calor começou a nascer dentro de mim e se acumular entre minhas pernas e nos bicos dos meus seios. Era…bom e enlouquecedor.

Kian respirou fundo e fechou os olhos. Ele sentia. Ele estava sentindo meu desejo. Será que aquilo era mesmo real?

— Ah, Dara…— eu sentia a respiração dele nos meus lábios.

Parecia real. Ele não iria brincar com isso duas vezes.

Seria tão ruim assim ficar aqui? Ficar com Kian?

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora