CAPÍTULO 20

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Kian

Chegamos na segunda cidade de Verdant perto do 12h. Meu corpo todo parecia estar ligado em uma tomada. Já havia decidido que não faria mal nenhum à Dara, ver ela me olhar com pavor foi como receber um soco no estômago. Me senti realmente como um anjo caído de merda.

Porém, mesmo com essa decisão, ela não se tornara menos atraente. Toda vez que ela me olhava ou que o perfume dela era soprado em minha direção, eu sentia algo se contorcer dentro de mim. Era enlouquecedor.

— Segundo endereço que Nathan nos passou, ela mora em um antiquário — Dara estava lendo a mensagem que Nathan havia nos mandado uma hora antes.

— Um antiquário. Que original. — Virei em uma das ruas.

— Sabe onde fica?

— Sei. Eu já estive aqui.

— Em Roths ou no antiquário?

Nos dois…
Estava pronto para falar. Eu devia contar, mas a verdade é que não faria diferença alguma ela saber daquilo. Por que precisaria?

— Os dois. — Virei em mais uma esquina e parei o carro ao avistar a placa indicando o local. — Chegamos.

Dara ergueu o olhar e observou o prédio cor púrpura com tijolos laranja.  A placa dizia aberto, mesmo que parecesse vazio e escuro.

— Então chegou a hora, não é? — ela olhou para mim. O medo dançando em seu olhar.

— Vai dar tudo certo — Assenti — Vamos descobrir o que houve com você.

***

Como da última vez que estive ali, o antiquário cheirava a naftalina e serragem. Abarrotado de coisas antigas e estranhas. Era um ambiente mal iluminado por uma lâmpada amarela irritante, com a decoração marrom-bordô que combinava bem com os móveis de madeira cobertos de verniz. O cheiro de livros e café ficou mais forte e eu segurei Dara pelos ombros quando o som de passos na escada nos avisou da sua presença.

Ela parou de súbito ao sentir nossa presença assim, e os olhos amarelos se ergueram no mesmo instante, farfalhando os cabelos castanhos ao redor do rosto. Ela entreabriu os lábios rosados e apertou o livro que carregava em mãos. Olhou primeiro para Dara e depois para mim.

— Olá, Verena — assenti
Ela me olhou dos pés à cabeça e sorriu de canto. Parecia a mesma de anos atrás, tirando o fato que agora tinha duas cicatrizes no rosto - uma vertical que lhe cortava o olho direito da sobrancelha à abaixo do olho e uma no contorno da maçã do olho esquerdo. As roupas continuavam as mesmas de bruxa: calça de couro preto colado que valorizava seus quadris largos, espartilho por cima de uma camisa vermelha vinho ressaltando os seios médios e botas longas de salto, que a deixavam mais alta que os 1,57 de altura que possuía de fato. Os olhos amarelos pareceram brilhar perante minha avaliação.

— Kian Chevalier — Ela pousou o livro sobre uma mesa e cruzou os braços— a quanto tempo. Continua charmoso como sempre.

— Igualmente. — Dara se remexeu ao meu lado.

— Espero que tenha saído satisfeito do nosso último encontro.

— Muito. 

Dara pigarreou e Verena a olhou de sobrancelhas erguidas.
— Podem reviver os bons momentos em uma outra hora?

Bons momentos? Franzi a testa. Verena sorriu e me lançou um olhar cúmplice.
— Precisamos de seus serviços — Dara se aproximou da bruxa um passo, o que lhe rendeu total atenção dela.

— Anjos de Caelum não costumam se apresentar?

— Ah! Claro. Eu sou Dara Lorenz — sua face ganhou um rubor.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora