CAPÍTULO 35

27 4 0
                                    

Kian

Eu estava sem chão. Sem nada.

Encarando o portal aberto de Grame enquanto o grande amor da minha vida sumia dentro dele. O demônio diante de mim estava se alimentando do que ainda restava em meu ser e eu não conseguia reagir. Verena estava apagada ao meu lado, com uma mancha de sangue na cabeça, provavelmente resultado do feitiço que voltou contra ela. Lion havia sumido e Nathan também estava rendido pelo outro demônio.

Zadkiel, ainda de costas, respirou fundo e nos lançou um olhar por cima do ombro, acrescentando um sorriso cruel na minha direção.

O demônio se afastou, me libertando fraco e abatido, apenas para que o arcanjo se aproximasse em passos lentos.

— Achou mesmo que podia se livrar do seu destino, Kian Chevalier? Devo lembrar sua sentença eterna? 
Não. Não. Não. Eu queria gritar. Queria impedir que ele aplicasse. Queria desacreditar que aquilo estava acontecendo.

— A Sentença do Caído é real — Ele riu e parou diante de mim. Não ergui o olhar — É o seu castigo, jamais encontrar o amor. Você é um…

Ele não terminou pois um grasnado de corvo o interrompeu.
— O que é…? — Zadkiel exasperou e deu passos para trás.

Um rosnado alto ecoou na clareira. Outro grasnado. Seguido do piar de uma coruja. Zadkiel rosnou e eu me encolhi, mas tudo que ouvi em resposta foi o bater das asas dele voando para longe. O barulho dos animais foram substituídos por passos humanos; os demônios presentes tentaram reagir, mas, no instante que o portal de Grame se fechou, eles foram sugados com ele.

Assim como a esperança de ter Dara de volta.
— Kian… — Nathan surgiu, ofegante, ao meu lado — Kian? Pode me ouvir?

Encarei os olhos dele e assenti.
— Que bom. — Ele começou a me ajudar a levantar — Estou zerado.

Assenti mais uma vez. Ergui o olhar, me espantando ao encontrar uma mulher de cabelo negro-azulado e um homem de longos cabelos brancos. Os dois rondavam Lion que ajudava Verena a se recuperar.
— Quem…? — Nathan começou a perguntar

— Guias — Lion respondeu e nos olhou — Fui pedir ajuda. Essa é Raven e esse é Owl.

Raven caminhou até nós. Os olhos negros como piche me deixaram nervoso, mas me obriguei a manter a postura. Ela ergueu as mãos e tocou no meu peito e no de Nathan. Senti um impacto, uma queimação. Começamos a tossir antes daquilo passar.

— Ele não vai localizar vocês com tanta facilidade agora — Disse Raven com uma voz pomposa e grave.

— O quê? — Franzi a testa.

— Contei a eles que há um arcanjo corrupto em Caelum — Lion me olhou — Não somos apenas Guias, Kian, somos também guardiões. Por isso que os Serafins também se comunicam conosco.

— Mas isso é um segredo — Suspirou Owl.

— Não vamos contar para ninguém — Nathan pigarreou.

Owl apenas revirou os olhos amarelo e preto, tais como de uma coruja.
— E devo ressaltar que eles se comunicam — Raven olhou por vez com uma raiva contida — conseguimos reportar aos arcanjos, mas não falar com Serafins.

— E nos dizem isso agora? — Nathan quase berrou

— Se tivessem deixado Lion falar antes de escravizar ela…— Owl avançou, mas Raven o segurou.

— Parem! — Lion rosnou antes de recuperar a postura serena — Podemos tentar.

— Dara… — Olhei para Nathan. — Nós precisamos…temos que…

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora