CAPÍTULO 30

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Kian

Meu corpo sofreu um espasmo, e mãos fortes agarraram meus ombros. Tentei me desvencilhar, mas as mãos permaneceram firmes em torno de mim. Então eu abri os olhos e encontrei o rosto de Nathan pairando sobre mim.

— Kian! — ele afrouxou o aperto e eu parei de me debater — você acordou.

Tentei falar, mas minha garganta estava seca demais para isso, então apenas olhei ao redor. Era um quarto com cheiro de mofo e chá de ervas. Tinha lençóis amarelos, papel de parede gasto e abajures antigos. A cama em que eu estava era grande, abarrotada de lençóis. Eu não estava vestido. Apenas cobertores e bandagens cobriam o meu corpo. Olhei para o lado, mas era apenas eu ali.

— Dara está com Verena no quarto ao lado — Tornei a encarar Nathan nos olhos — Estamos no antiquário dela. Não sei como vamos pagar aquela Bruxa, mas não quero pensar nisso agora.
Verena? Dara? A última coisa que me lembro é de Petra mastigando um pedaço da minha perna. Mexi meu corpo que respondeu aos comandos.

— A bruxa também cuidou disso — Nathan sentou na ponta da cama — Vão precisar recarregar as energias porque ela precisou usar para acelerar a cicatrização de vocês. Você estava quase morto, Kian.

Franzi a testa. Sabia que Verena nunca fazia nada pelos outros; não sem ganhar nada em troca. O que a bruxa estava tramando, eu não sabia dizer, contudo, não tinha importância ainda. No momento, eu precisava ver Dara.
O gosto azedo do meu pesadelo ainda estava na minha língua. Dara havia sido engolida por Grame e não era a primeira vez que eu previa coisas em meus sonhos a respeito dela.

Nathan suspirou e serviu um copo de água da jarra ao lado da cama e me ajudou a beber. Eu consegui engolir  e erguer a cabeça e, mesmo que o quarto tenha girado com aquele simples movimento, eu me sentia melhor.
Pigarreando, limpei a garganta antes de falar.
— Dara está bem? O que aconteceu? Como nos achou?

— Ela tá bem. Está dormindo. Quando vocês sumiram, eu fui atrás de Verena e ela localizou vocês com aquele dom de visão que ela tem. Vocês estavam nos limites de Waniand, em uma caverna. Levamos um tempo para chegar até vocês. Verena usou seus feitiços contra os Wendigos e cuidou de você para que ficasse forte o bastante para viajar.

— Como voltamos para Roths?

— Dara não estava tão ferida. Assim que se recuperou, veio voando com Verena e eu carreguei você — Nathan sorriu para mim — Foi o momento mais romântico que tivemos.

Consegui erguer o dedo do meio para ele, o que fez Nathan gargalhar.

— Obrigado, Nathan — suspirei — E sobre o que aconteceu antes…

— Ei, deixa isso para lá.

— Não. Eu fui um idiota. Dara significou algo para você e eu nem me importei com o que você deve ter sentido ao ver ela morta. — Olhei ele nos olhos. — Eu sinto muito. Você é meu melhor amigo e eu não fui um para você.

— Está tudo bem, Kian. Agora descansa. Durante três dias ficou se debatendo na cama.
— Três dias??

Nathan ergueu as sobrancelhas.
— Isso aí.

— Que loucura. Mas tem uma coisa … os Wendigos disseram que Dara era um dos ingredientes e que Zadkiel estava atrás dela pra isso.

— Ingredientes? — Nathan franziu a testa — Ingredientes para quê?

— Não sei, mas não me pareceu bom.
A porta do quarto se abriu e um conjunto de cabelos ruivos e olhos prata surgiu, acompanhados de um sorriso radiante e uma Verena irritada logo atrás.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora