CAPÍTULOS 38

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Dara

Eu estava sonhando. Devia estar. Os arcanjos estavam todos envolta de mim, me olhando como se eu fosse um demônio. Foi quando me mexi e vi aqueles olhos de turmalina que tanto amava.

Parecia mesmo um sonho, até ouvir Raphael falar.

O anjo mais puro de Caelum já corrompido.
— O que isso significa? — Kian me apertou mais junto a si, desviando os olhos para encarar os dois arcanjos que nos encaravam.

Se fosse um sonho, eu não queria ouvir nada. Eu só queria ficar ali. Me agarrei mais a ele, respirando fundo. Kian tinha cheiro de sangue e suor, mas, por baixo daquilo, eu ainda sentia o cheiro real dele. Couro e sândalo.

— O sangue de Dara é um dos ingredientes — um deles falou, mas eu não sabia quem estava falando.

— Para o que?

— Para a chave do vazio. Para libertar Helel.

Senti os pelos do meu braço ficarem de pé. Aquilo não podia ser um sonho. Que sonho de merda era esse onde eu era a chave para algo tão horrível?
— Kian? — gemi

— Dara…— senti o hálito dele no meu ouvido — Eu estou aqui. Está tudo bem. Nada vai acontecer com você. Certo?
Tinha certeza que não era para mim que ele estava pedindo uma confirmação.

— O que faremos?

— Vamos deixar que o caído cuide dela por hora.

— Ela é um perigo…

— Vamos debater o assunto, irmão. E deixemos Gabriel decidir.

Um deles suspirou.
— Muito bem. Voltaremos a nos ver em breve, Kian.

Um clarão de luz preencheu o local e eu fechei meus olhos com força. Esperei sentir o cheiro de enxofre e o aperto das correntes, mas tudo que recebi foi um beijo na têmpora, no nariz e na boca. Senti os lábios se moldarem aos meus e o sabor familiar de Kian me invadiu, misturado com o gosto salgado das minhas lágrimas.

Me afastei com violência, mas sem soltar aquele corpo quente e rígido. Os olhos estavam ali. Ele estava ali. Kian sorriu e eu chorei entre uma risada.

— Você é real — toquei a face dele com as pontas dos dedos.

— Dara… — Kian fechou os olhos e me puxou de volta para os seus braços — Você se foi. Eu vi você ir! Eu vi!

— Kian…eu voltei…eu…eu estou de volta?

—Sim, está! Você está.

— O que aconteceu? Aqueles eram…? Como isso…?

Ouvi passos ali perto e virei para olhar Nathan se aproximando com um sorriso descrente nos lábios e um brilho de emoção nos olhos verde-oliva.

— Puta merda! Bem vinda de volta.
Era muito bom estar de volta.

***

— Eu sabia que era familiar! — Nathan andava de uma lado para o outro no quarto de hotel que havíamos escolhido em Crimlea, a cidade mais próxima de onde estávamos em Sorin.

Fiquei um pouco desorientada, afinal, quando eu fui jogada em Grame ainda estávamos em Verdent. Kian me carregou com todo cuidado e, agora, deitada em uma cama nos  braços dele, eu me sentia mais calma e com mais capacidade para raciocinar.

— Os arcanjos nos contaram essa história, mas faz tanto tempo que eu não lembrava. — Nathan prosseguiu — Após ser trancado no vazio, um dos Serafins decretou que a porta só poderia ser aberta por uma chave feita de três ingredientes frutos de pecado. Se você os unir, criará a chave do Vazio.

Um Doce Sacrilégio | Corações Infernais | Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora