Capítulo 4

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Ivy

O dia que eu me assumi ficou marcado na minha memória como o melhor e pior dia da minha vida. É claro, ainda não me assumi para o meu pai. E os meus melhores amigos, O Mike e ê Bethany, souberam assim que eu descobri, dois anos antes, quando eu tinha 13 anos. Principalmente porque Mike é um homem trans que se descobriu há cinco anos, aos 12, e Bethany é não binário e lésbica, mas elu se descobriu depois de mim. 

No dia em que me assumi, minha vida estava virando de cabeça para baixo. Meu pai começou a me obrigar a fazer aulas de violino, eu perdi alguns amigos por motivos que nem me lembro direito e o pior de tudo: minha ex namorada, a Natalie, tinha acabado de se mudar para o Canadá por causa de seus pais. Continuamos com namoro à distância durante alguns meses, mas eu decidi terminar algumas semanas depois de me assumir, porque me senti livre quando fiz isso, e não era justo que continuássemos presas uma à outra daquele jeito, então eu terminei.

Mas quando me assumi, foi numa crise de raiva por tudo o que estava acontecendo. Uma garota idiota estava chamando o Mike quando disse:

— Aí, maria macho! Pode tirar essa sua bunda da minha mesa? Não preciso de uma sapatão nojenta sujando ela.

Mike tentou me impedir, mas eu já estava metendo a porrada naquela vaca antes que pudesse ao menos pensar no que estava fazendo. Eu fui mandada para a diretoria e ela pra enfermaria, com um olho roxo e cuspindo sangue. Voltei meia hora depois com uma advertência e uma detenção, mas não me importei com isso na hora. A única coisa que me interessava no momento era fazer todos pararem de mexer com o meu amigo, e a única forma seria mostrar para todos que era eu a verdadeira "sapatão" da turma.

Quando entrei na sala, o professor já tinha chegado. Então eu cheguei perto dele e sussurrei em seu ouvido pedindo permissão para o que eu ia fazer. Ele assentiu, porque também era gay e entendia e sabia o que Mike estava passando, e eu disse, olhando para a turma com uma expressão sombria no rosto. Sabia disso, porque todos estavam com expressões aterrorizadas.

— Vocês são todos... uns transfóbicos e racistas de merda! 

Ninguém disse nada, estavam todos com medo do que eu tinha feito àquela menina, e aos outros imbecis transfóbicos que tinham mexido com o Mike. Ê Bethany ainda não havia se descoberto, mas elu é prete, então pode-se imaginar o que faziam com elu também.

— O Mike é um homem, e nem gosta de mulher! Mas sabe quem aqui gosta de mulher, seus filhos da puta? Eu! É isso mesmo, eu sou lésbica, colo velcro! E se mexerem comigo ou com Mike ou com Bethany outra vez, vai acontecer o mesmo que aconteceu com a Jordan. Entenderam?

Ninguém disso nada, ainda estavam com medo.

— Vão pra casa do caralho, todos vocês! 

Me sentei no assento entre Mike e Bethany enquanto o professor continuava a aula sobre ligação química.

— Você é pirada – disse Mike, sorrindo. – Doida de pedra, é o que é, Ivy.

Sorri e voltei a prestar atenção na aula.

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