Capítulo 13

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Harley

Ela pode ter se sentido mal pelo o que disse, talvez.

Eu queria dizer que tinha amado de verdade o elogio dela, queria mesmo, mas eu não conseguia. Enquanto voltávamos para a sala, tentava apenas não sorrir enquanto pensava nela, o que custou grande parte das minhas energias, porque isso não é nem um pouco fácil.

A próxima aula seria na casa dela, no sábado. Eu teria outra oportunidade, mas seria bem estranho tocar no assunto depois de tanto tempo. Acho que eu teria que me contentar com a esperança de que ela queria fazer aquilo e se sentiu bem com a minha resposta. É, iria me concentrar naquele pensamento. Ela não ficou com vergonha, Harley, ela não é surtada que nem você...

Enfim, a outra coisa interessante que aconteceu antes da nossa segunda aula foi no intervalo entre a aula de física e a de química, o qual eu esqueci completamente que tinha que falar sobre o que a Ivy tinha falado pra mim, e que eu tinha gostado. Harley burra, burra do caralho!

Eu estava no pátio lendo um livro chamado "Constelação Familiar" num canto meio afastado do local.

Ergui o olhar a tempo de ver Ivy sendo empurrada pelos amigos em minha direção, o que me deixou em um pequeno e óbvio pânico.

Me levantei de súbito e não soube mais o que fazer, porque isso foi completamente no automático. Enquanto esperava por ela, senti minhas pernas tremerem e um arrependimento imenso de ter me levantado. Ela não pareceu perceber, ainda bem.

— E aí – ela disse, sorrindo.

— E aí? Qual é a boa?

Cala a boca, Harley.

— Queria te perguntar uma coisa – ela se contorceu com a mudança repentina de barulho dos gritos dos alunos no pátio. – Pode ser num lugar menos barulhento?

— É claro, ao seu dispor!

Puta merda, Harley. Para de ser burra.

Ela se virou e foi em direção à biblioteca. Eu a segui, querendo por tudo olhar para os amigos e descobrir o que eles estavam sentindo com aquilo, mas estávamos indo na direção oposta à deles.

Quando chegamos, Ivy se sentou na mesma mesa que foi reservada para nós no primeiro dia de estudo, me mandou fazer o mesmo e disse, aparentemente insegura:

— Você lembra de quando... quando você levou detenção por tacar um lápis no olho da Kate?

Eu gargalhei e assenti. Lembrava perfeitamente daquele dia, exceto pelo o que aconteceu depois; só lembro de acordar no dia seguinte com uma tatuagem no braço. Felizmente não é tão grande, é apenas um risco.

— Claro que sim! – respondi, e ela pareceu ainda mais insegura. Eu, com o meu senso social impecável, continuei com a minha animação sem perceber isso:

— Eu ganhei uma tatu nesse dia, só não faço ideia do que significa.

Ela assentiu, e foi quando eu percebi sua insegurança. No exato segundo em que isso aconteceu, parei de sorrir, me inclinei para frente, segurei seu braço com as duas mãos e falei, com uma voz de psicóloga:

— O que houve? O que aconteceu naquele dia?

Ivy deu um longo suspiro, se afastou de mim e respondeu, desviando o olhar:

— Você estava chapada demais pra lembrar.

Merda, é claro! Depois que levei uma detenção e quase fui expulsa das líderes de torcida, comecei a fumar. Queria esquecer aquilo, esquecer o Coringa, esquecer que quase tinha matado alguém. Quero dizer, ela até que merecia, mas aí eu poderia acabar no reformatório e nunca me formaria como psicóloga. Se aquele lápis na minha mão fosse, sei lá, uma faca, ela estaria morta e eu estaria na prisão depois de ser deserdada pelos meus pais.

— É, eu acho que eu tava sim.

— Eu te encontrei chapada, Harley. No mesmo corredor que você me encontrou no dia que recebi o meu 6.

PUTA MERDA. Disso eu não lembrava, de jeito nenhum.

Tentei me esforçar pra lembrar, tentei mesmo. Mas eu não achava nada dentro do meu cérebro que podia me ajudar, mesmo que minimamente.

— Eu não lembro, Ivy, me desculpa.

— Não, relaxa. Você tava chapada, e muito mal por causa do Coringa. A culpa não é sua, Harley.

Mas ela estava claramente chateada por causa disso. O que eu tinha falado? Será que eu tinha me declarado ou algo assim? Mas se fosse isso, por que ela estaria triste? Será que ela gostava de mim?

Não, Harley, não viaja.

Eu assenti, meio sem graça, e disse, sorrindo de um jeito triste:

— Obrigada, Ivy. Mas o que aconteceu entre a gente esse dia?

— Bem, você tava tendo uma crise de raiva. Tava chorando e batendo com a cabeça na parede.

MERDA. Eu tinha ficado assim na frente da IVY. DA IVY. Juro que vou me matar.

— Eu cheguei perto e você tava realmente fora de si, tava muito chapada. Eu fui ajudar e você começou a chorar de novo. Aí eu cheguei perto de você e encostei no seu ombro.

Caralho, isso não tá ficando bom...

— E você... apoiou a cabeça no meu ombro.

Não disse? Caralho, que cacete de merda, vai tomar no cu...

Ela obviamente estava incomodada com o fato de eu ter feito isso, provavelmente queria dizer que não tínhamos aquele nível de proximidade e que não era pra se repetir. Que merda, Harley, porra, que merda...

Fiquei completamente sem graça e decidi disfarçar falando a melhor frase possível para aquela situação:

— Bem, e daí? Não significa nada.

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