Capítulo 18

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Ivy

Eu não consegui me concentrar na série que estávamos assistindo, só conseguia pensar em como eu iria falar o que sentia pra Harley.

Quero dizer, e se meus amigos estivessem mesmo enganados e ela não gostasse de mim, o que eu iria fazer? Me esconder, me jogar de um penhasco? Torcer pra um arpão acertar minha barriga e eu morrer em seus braços? Tá legal, fanfiquei demais.

Enfim, eu iria tentar na nossa próxima aula juntas. Eu iria estudar pra mostrar que estava entendendo, mas eu não conseguia me concentrar em nada direito. No domingo eu tenho aula de violino, na segunda de francês. Eu fui péssima nas duas, porque só conseguia pensar no que eu diria pra ela na terça. Iria pagar caro por isso depois, mas eu não estava me importando muito.

Mas no fim, não encontrei nada muito bom pra falar. Não sou boa com as palavras, e nem com gestos, nem com sentimentos e muito menos com as pessoas. Como eu iria conseguir falar algo assim? Como eu conseguiria demonstrar que gostava mesmo dela?

Eu tentei não pensar muito, talvez fosse a solução, mas eu não conseguia tirar aquela filha da puta da minha cabeça. Não conseguia parar de pensar nela, em nós juntas. Eu nem estava sendo pessimista mais, só conseguia pensar na Harley.

Queria ter criado menos expectativas. Não poderia ter sido mais trágico.

Aconteceu no final da nossa aula. Harley estava prestando atenção mais do que jamais havia feito. Deu pra perceber que ela estava fazendo isso pra mostrar que era inteligente, o que aumentou minhas expectativas. E eu achei bem fofo, até falei:

— Nossa, você pegou a matéria fácil.

Ela sorriu de um jeito claramente animado e eu quase ri. A Harley é tão fofa, vai tomar no cu...

— É claro, com uma professora dessa? Qualquer um pegaria a matéria fácil.

Senti meu rosto corar e dei um sorriso sem graça, sem desviar o olhar. Estava cada vez mais esperançosa, e nunca tinha me sentido daquela forma antes. Merda, Harley, que sentimento de merda do caralho, puta que pariu, que saco...

E eu também entendi muito bem o que ela explicou. Eu até pensei em dizer isso pra ela, mas achei que iria ficar óbvio demais antes de eu dizer o que sentia.

Merda, eu tava me esforçando demais. E se esforçar demais sempre foi a parada da Harley, não minha. Eu não me esforçava demais.

Tá legal, tô enrolando demais. Vamos logo pra parte que dá errado:

Quando acabei de explicar última parte, ela parecia meio entediada e disse:

— E agora, vamos fazer o quê? O que acha de uns simulados, pra ver se entendemos mesmo? Posso fazer pra próxima aula, você também.

— Na verdade, eu tenho que te falar uma coisa.

A minha voz saiu bem monótona, como sempre, mas eu detectei alguma leve mudança de tom. Esperava que ela tivesse notado também.

— Pode falar, o que houve?

— É que... Você lembra de quando eu falei sobre aquela vez que você tava chapada e acabou chorando no meu ombro?

— Não precisa falar assim – ela disse corando, mas estava sorrindo. – Lembro, e obrigada por me ajudar. Poucos teriam feito isso.

— Bem, eu achei que talvez... eu tivesse demonstrado que isso me causasse desconforto. Mas não é verdade, esse momento é importante pra mim.

Tentei não demonstrar que, se não fosse por Bethany, eu nem iria lembrar daquilo.

— Demonstrou? Eu não percebi.

Ela é tão fofa tentando mentir pra mim.

— Não precisa mentir, eu sei que demonstrei. E na verdade, essa situação até me fez... gostar de você.

Harley arregalou os olhos instantaneamente. Mas quando percebeu desviou o olhar, relaxou a postura e disse, parecendo confusa:

— É, eu também gosto de você. Você... é uma ótima a-amiga.

— Não, não gosto assim. Gosto de verdade, quero ficar com você, de verdade.

Ela pareceu pensar "Merda, isso não" e tentou dizer:

— M-mas... O seu pai, ele... Ele não vai aceitar...

— Harley, você acha mesmo que tenho medo do meu pai?

— Desculpa, Ivy, eu não posso.

Parecendo prestes a cair no choro, ela se levantou e correu para fora da biblioteca. Eu fiquei parada lá, tentando entender o que acabara de acontecer.



























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