Capítulo 19

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Harley

Saí correndo da biblioteca e consegui me conter até chegar no corredor vazio de sempre.

Eu não tinha ninguém. Nenhum amigo, nenhum ombro pra chorar. A Ivy não era mais opção, uma vez que ela era o motivo.

Depois de alguns minutos, eu já estava mais calma. Mas também, já tinha socado a parede duas vezes e estava sentada com a cabeça escondida em meus braços. Durou minutos, mas eu consegui parar de ficar completamente puta.

Quando já estava me levantando e enxugando as lágrimas, um aluno aleatório chegou perto e disse, me fazendo agradecer por ainda não estar de pé:

— Você tá bem, Quinzel?

Ele era alto e musculoso, fazia parte da equipe de natação da escola. Era conhecido por todos como "Tubarão Rei".

— Não é da sua conta.

— Pode me contar, não vou contar pra ninguém.

— Problema seu, me deixa em paz.

Mas antes que eu pudesse sair, ele bloqueou a saída com um dos braços, sorriu de um jeito gentil e disse:

— Harley, eu não sou um idiota como todos nessa escola. E você é legal, eu não te faria nenhum mal. Pode me contar, é por causa do Coringa?

Desviei o olhar e me sentei novamente, na mesma posição de antes, mas sem esconder meu rosto com os braços. Ele se sentou ao meu lado e ficamos em silêncio, ele esperando que eu contasse o que tinha acontecido e eu tomando coragem.

— Sou apaixonada na Ivy já tem mais de um ano.

Uau, como é bom dizer isso em voz alta. É bom pra caralho.

— Ivy? Ivy Poison?

— Isso, ela mesma. Começamos a estudar juntas, porque ambas foram "ruins" – fiz aspas com as mãos. – no nossos últimos de teste de biologia orgânica e anatomia. Bem, ela tirou 6, mas você conhece o pai dela, não é?

— Acho que sim. Ele cobra muito dela?

Eu assenti, ainda sem olhar pra ele, e continuei:

— Bem, tava dando tudo certo. Eu achava que ela não gostava de mim, e tava tudo bem. Principalmente depois que o pai dela me ameaçou porque nos viu juntas.

— Quê?!

— É, pois é. Ele disse que iria expulsa-la de casa e transformar minha vida num inferno. E se ela fosse expulsa de casa, eu não poderia ajudar. Meus pais também são bem zoados.

— Que merda...

— É. Só que agora, eu descobri que ela também gosta de mim.

— O que te faz pensar nisso?

— Ela me disse.

— Ah, sim, continue.

Dei uma risada fraca e continuei:

— Bem, e eu não posso fazer nada pra ficarmos juntas. Se ela se assumir pra escola, o pai dela vai descobrir. Se eu falar pra ela sobre o que o pai dela fez, ela vai se descontrolar e ir brigar com ele, então ele também vai descobrir. Se eu falar pra ela não se assumir, ela vai achar que estou em negação ou que tenho vergonha dela. Se eu simplesmente sugerir um relacionamento completamente escondido e discreto, ela vai desconfiar de alguma coisa. E ela também parece ter ciúmes do Jack...

— O Coringa?

— Isso, ele mesmo. Ela parece ter ciúmes dele, vai achar que tem algo a ver. Eu não sei o que eu faço, Ray.

— Bem, acho que deveria conversar com ela, ou com alguém próximo.

Olhei pra ele.

— Bethany e Mike? Acha que eles poderiam ajudar?

— Mas é claro! Eles sabem tudo sobre ela, vão saber como falar algo assim sem ela perder o controle. Mas de qualquer forma, eu e Cara de Barro...

O amigo negro e gênero fluído de Ray aparece atrás dele, como se estivesse ouvindo a nossa conversa desde o começo, e ele continua:

—...estaremos sempre aqui, pra qualquer coisa.

Eu só não fiquei puta, porque os dois eram bem legais. Caro de Barro, ou Barry, fazia parte do clube de teatro e era o melhor na minha opinião. E ele também é bi assumido, então poderia nos ajudar.

— Cara de Barro, ao seu dispor.

Ele fez uma reverência de teatro e eu gargalhei. Os dois acompanharam a minha risada, provavelmente porque eu estava rindo com o rosto todo molhado de lágrimas.

Bem, pelo menos agora eu tinha alguém além da Ivy.

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