Capítulo 6

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Ivy

Aquele foi um dia de merda.

Pra começar, acordei atrasada porque o despertador não tocou, e meu pai gritou comigo em TODO o caminho até a escola, depois de me dar uma porrada bem no olho esquerdo. Ele não costuma me levar, só quando eu me atraso.

Segundo, o Coringa estava matando a aula de matemática fumando descaradamente em um corredor. Onde estava a desgraçada da diretora, eu me pergunto? Na puta que pariu. Enfim, nos encontramos enquanto eu ia correndo para a aula, e ele obviamente me fez parar e ouvir algumas merdas básicas que saíam da boca dele, ou tentar falar.

— Calma aí, Poison. Onde pensa que vai?

Ele entrou na minha frente quando viu que eu não iria parar e eu pude sentir o cheiro forte de cigarro. Nem pra fumar uma ervinha, que não fede tanto assim. Se bem que ele parece não tomar banho, então o cheiro do que ele usa ou deixa de usar até tira a caatinga de verdade. Mesmo assim, fiz cara de nojo e me afastei.

— Pra aula, seu imbecil. É tão burro que nem sabe que está matando aula? 

Jack assumiu uma expressão que misturava achar graça com estar irritado, o que me provocou ambos os sentimentos.

— Eu não tenho tempo pra um moleque que nem toma banho encher a porra do meu saco, sai da minha frente agora.

E então, ele saiu da minha frente enquanto parava de sorrir. Mas isso não me acalmou nem um pouco. Enquanto caminhava rapidamente para a sala, a única coisa que se passava pela minha cabeça era como a Harley conseguiu se apaixonar por aquele desgraçado de merda, tem que ser otária num nível astronômico. Além disso, a vontade de ganhar uma detenção por meter a porrada nele se apossou de mim, mas eu não queria outra porrada do meu pai.

E por fim, o que mais destruiu o meu dia: recebi um 6 no teste de biologia anatômica. O que pode não parecer tão ruim, visto que a média é essa. Mas foi o meu terceiro naquele semestre, e meu pai não iria tolerar outro. E obviamente o meu 10 em biologia orgânica não iria compensar, já que ele não valoriza as matérias em que sou boa, muito menos sobre algo que eu até pareço ter poder de controlar. Não, ele sempre foca nas coisas em que sou ruim, pra eu poder ser boa em tudo. 

Eu já estava há anos testando os limites dele. Fosse fazendo besteira na escola, fosse respondendo ele em casa. Esse 6 era, obviamente, um simples botão para a bomba explodir, e uma matrícula num internato bem na puta que pariu surgir. Eu estava completamente fodida, e não tinha mais o que fazer. 

Tive que segurar muito pra não chorar quando recebi a nota. Tudo o que eu consegui fazer quando o sinal tocou foi pegar minha mochila e correr para um lugar mais afastado, quase não consegui me segurar antes de encontrar o corredor vazio onde deixei minhas lágrimas rolarem enquanto torcia pra ninguém aparecer,

Mike e Bethany não me seguiram. Provavelmente sabiam do que se tratava e preferiram me deixar sozinha, e era melhor assim. Só precisava acalmar os nervos antes de tomar qualquer decisão.

Eu não ouvi ela chegando, não ouvi o barulho do seu armário e nem de seus passos. Quando reparei, Harley Quinzel estava olhando para mim, há poucos metros de distância.

Tudo o que eu pude fazer no momento foi tentar fingir que estava tudo bem. É claro, eu não consegui, mas tinha que tentar.

Ela perguntou sobre o meu olho roxo, que eu ganhara mais cedo por ter acordado atrasada, e eu não consegui resistir. Voltei a derramar mais lágrimas bem na frente da Harley. Ela tentou me acalmar dizendo que eu havia tirado 10 em biologia orgânica e que eu deveria bater no meu pai de volta, e realmente ajudou. Mesmo assim, eu continuei não confiando que ela iria contar pra alguém, então eu disse antes de nos separarmos:

— Não vai contar pro Jack, né?

— Ivy, ele não sabe de nada sobre mim. Não sabe nem que eu sou bi.

— Você é bi?

Não sei por que eu perguntei isso com um tom de surpresa tão forte, e muito menos por que ela fez uma expressão de igual choque, como se tivesse se dando conta do que acabara de contar, e que contara pra mim, ou pra alguém.

— Sou.

A voz dela estava estranha.

— Que legal. 

Ela sorriu e depois caiu na gargalhada. Eu a acompanhei enquanto enxugava minhas lágrimas e rimos juntas. Mas não continuamos a conversa antes do sinal tocar.

— Porra, agora é aula de química – ela disse sem olhar pra mim. – Se eu chegar atrasada, vou levar outra detenção. Você tá bem?

A genuína preocupação em sua voz me trouxe um sentimento de paz e felicidade inexplicáveis, mas eu só assenti sem sorrir e observei ela sair. Antes de seguir o caminho oposto, para a aula de inglês, eu me peguei imaginando o rosto da Harley sorrindo para mim. Quando percebi, balancei a cabeça e segui meu caminho.

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