Capítulo 15

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Harley

Eu me odiei tanto por dizer aquilo e tê-la feito correr da biblioteca, que nem tive coragem de correr atrás pra pedir desculpas. Estúpida, eu sou uma estúpida de merda nessa caralha, puta que pariu...

Enfim, não aconteceu mais nada antes da nossa próxima aula, a qual ela pareceu extremamente desconfortável e triste antes de começarmos. Claro, ela estava com a expressão de sempre, mas sua postura estava meio ruim e ela não olhava pra mim.

Quando eu estava quase terminando de explicar sobre sistema endócrino, percebi que ela não estava mais prestando atenção e decidi tocar no assunto de uma vez por todas. Não podíamos ficar assim, eu tinha que descobrir o que aquilo significava pra ela, precisava descobrir...

— Ivy, acho que falei uma gigantesca merda na biblioteca, me desculpa.

Ela finalmente olhou pra mim, e parecia com um enorme alívio misturado com surpresa e medo. Merda, Poison, por que é tão difícil ler você? Vai tomar no seu cu. Imagine uma garota ruiva que normalmente fica com cara de tédio tendo seus olhos arregalados em 0,7 centímetros com uma boca sendo levemente boquiaberta. Essa é Ivy Poison possivelmente aliviada e surpresa.

— Não tem problema. – ela respondeu, desviando o olhar. Provavelmente percebendo que "deixara claro" o quanto estava aliviada com aquilo. – Não deve ter significado nada mesmo.

— Não, Ivy – eu me aproximei novamente e toquei seus braços com minha mãos, torcendo para ela não se afastar como aconteceu na biblioteca. –, você me ajudou naquele dia, ou tentou. – ela sorriu e olhou novamente pra mim. – Eu posso não me lembrar, mas eu gostei muito que você tentou fazer aquilo por mim. Acho que a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi você.

Caralho, isso foi sentimental demais. Ela com certeza deve ter percebido... É óbvio que eu tinha que dizer algo pra consertar:

— Eu amo ser sua amiga.

Ótimo, ela continuou sorrindo. Mandou bem, Harley!

Se ela quisesse falar alguma coisa, não teve oportunidade. Um homem alto com cara de cu entrou no quarto e fez a gente se afastar na hora: o pai dela.

Ele tinha cara de homem ruim. Era calvo e sua barba era ralada com mechas brancas. Senti o medo da Ivy como se fosse contagioso.

— Filha. Esta é Harley Quinzel?

Puta merda, ele sabia quem eu era. E a menos que ela tivesse falado sobre mim com seu pai (o que obviamente não aconteceu), ele ficara sabendo por outras pessoas. Ou seja: eu não era vista como uma boa influência.

— É – respondeu Ivy, parecendo querer expulsa-lo de alguma forma. – Harley, este é o meu pai.

Estranhei a linguagem formal que ela usou, mas entendi que era pra eu – tentar – fazer o mesmo. Então eu me levantei da cama, me aproximei dele e estendi minha mão, sorrindo e dizendo:

— Muito prazer, Senhor Poison.

— Igualmente, Quinzel.

Arrisquei olhar pra trás. Ivy estava olhando aterrorizada para o pai, provavelmente imaginando certos feitos de sua parte que podiam constrangê-la.

— O que as duas estão fazendo?

— Estudando, pai.

— Ah, sim. E imagino que, para estudar, é preciso que se aproximem e segurem as mãos, estou certo?

MERDA! Ele tinha visto. Obviamente eu não iria arriscar olhar pra Ivy outra vez, mas ainda podia sentir seu completo pânico como se fosse contagioso. Ela devia ter ficado com tanto medo...

— É que, pai, ela estava... Ãhn...

Fiquei tão desesperada que nem lembrei de manter o tom formal:

— Eu só tava mostrando detalhes dos braços dela, cara. Estamos estudando anatomia.

Ele se contorceu com a palavra "cara", e pude sentir Ivy querendo me assassinar com o olhar atrás de mim, mas eu não me encolhi e nem gaguejei.

— Ah, muito bem, então. Filha, depois conversamos.

Me virei para Ivy enquanto ele saía do quarto, ela estava toda vermelha. Me odiei por não ter falado "senhor", mas não podia fazer mais nada.

— Foi mal, Ivy.

— Tá... tranquilo, Harley.

Mas não tava tranquilo, não tava nem um pouco tranquilo. Caralho, Harley, você só faz merda, puta que pariu ein.

— Eu devia ter calado minha boca, Ivy, me desculpa...

— Eu já disse que tá tranquilo, Harley.

Ela sorriu, mas não parecia natural, muito menos sincero.

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