XXIX

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  Entre o acordar e o de fato despertar, há uma fase em que sua consciência balança numa leveza incrível, alheia a tudo e confortável do jeito que está. Então, como se o jogasse de cima de um prédio, a realização de que está acordado vem com tudo e aquele conforto some como uma agulha em palheiro.

  Foi assim que Sakusa se sentiu quando acordou acariciando um corpo que ele abraçava. Ele despertou suavemente, deu um leve sorriso e se aconchegou na nuca de uma pessoa muito cheirosa.

  Então arregalou os olhos e reprimiu uma exclamação, as memórias da noite anterior voltando e ele se dando conta que estava agarrando Atsumu.

  De acordo com sua rápida consulta, se seu coração batesse mais rápido, ele teria sérios problemas. Sakusa tentou se acalmar, soltando o príncipe e sentando da beirada da cama. Sua cabeça girou com a movimentação e ele piscou algumas vezes. O quarto estava escuro, então ele acendeu os candelabros com sua magia, mas deixou o fogo baixo.

  Estava tudo sob controle, e ele não sabia se estava triste ou feliz com isso. Por que bros que se beijam de vez em quando e têm sentimentos românticos um com o outro não podem dormir na mesma cama sem segundas intenções?

  Sakusa franziu o cenho com o pensamento. Primeiro, isso era ridículo. E segundo - ele olhou para Atsumu adormecido, com a camisa repuxada para cima - não podem.

  Ele engoliu em seco. Então revirou os olhos para a bagunça na cama. Atsumu em algum momento da noite simplesmente chutou os cobertores para todos os lados e agora jazia encolhido. Ele se mexeu para trás, quase como se... estivesse procurando algo.

  Sakusa inconscientemente prendeu a respiração, descobrindo que aquilo não estava fazendo bem a sua cabeça ainda despertando. Ele juntou novamente os lençóis e cobriu o príncipe.

  A janela do quarto estava tapada por um pesado e espesso tecido, que não deixava a luz de fora entrar, então Sakusa não sabia que parte da manhã estava, mas julgou não estar muito mais tarde do que normalmente acordava. Ele precisaria se trocar, no entanto. E, por mais que não quisesse sair vestido dessa forma pelos corredores, seria pior se fosse mais tarde, com ainda mais pessoas na Academia.

  Como acordar Atsumu, que se aconchegou nos novos lençóis, era impossível para ele, sua única opção fora sair de fininho do quarto do príncipe.

  Sakusa se encolheu e colocou metade do corpo para fora do quarto, um jato de luz forte do dia em seu rosto.

– S-senhor Sakusa?

  Sutileza nunca fora seu ponto forte, mas Sakusa nunca achou que fosse tão azarado. Ele piscou duas vezes, ajustando sua visão para a claridade, encontrando com o rosto assustado e envergonhado de Yachi.

  Sakusa abriu a boca, mas nada saiu. Eles se encararam por um momento doloroso, o que para Yachi pareceu uma verdadeira confirmação do motivo de Sakusa ter passado a noite no quarto de Atsumu.

– E-entendo. - Yachi estava tentando agir como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Bem, tecnicamente é algo bem natural. – Eu só queria confirmar se as pinturas vão ser expostas, então eu subi... Ah! O treino de hoje foi cancelado. Estamos retirando as tendas e pedimos ajuda ao professor Ukai, ele mandou uma carta aos seus aposentos, mas...

  Seu rosto ficou vermelho com a correta dedução do motivo dele não ter visto a carta e Sakusa teve a desesperada vontade de se explicar.

– Yachi, não é bem isso... – Porém, antes que pudesse continuar, uma voz soou do quarto.

– Omiiii, volta pra cama, ainda tá cedo... – O príncipe Atsumu Miya resmungou.

– ... – Sakusa congelou e não ousou olhar novamente para Yachi, querendo poder voltar a falar com ela sem ter a vontade de se jogar de um lugar bem alto.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora