VI

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 Sakusa estava cansado até os ossos.

 Depois do treinamento exaustivo, teve seu descanso ao se banhar em uma das duchas coletivas, tentando ao máximo ignorar os outros estudantes, que faziam brincadeiras entre si e não paravam de falar. Sakusa se sente nostálgico, lembrando-se dos intervalos entres os plantões em que a equipe conversava e descansava. Kiyoomi engole aquele sentimento ruim subindo em sua garganta, que matou o sorrisinho crescendo em seu rosto.

 Foi então para o refeitório com Yachi para almoçarem, assim como ela prometera. Sakusa queria se sentir culpado por não ter conversado muito com a garota, mas ele estava cansado demais para isso, e ela parecia entender isso, então tudo bem. Não que ele estivesse fora de forma, era mais seu psicológico que não estava acostumado a treinamentos intensos.

 O resto do dia fora tranquilo, por incrível que pareça. Ele fora apresentado para os mestres, que o explicaram coisas muito chatas sobre origem da magia e etc. Quer dizer, Sakusa teria prestado atenção se não estivesse pronto para cair morto em qualquer lugar minimamente macio. E olhe que ele mal havia mexido de fato com a magia, pois o treinador disse que pegaria leve até ele ir se acostumando.

 Apenas alguns exercícios de respiração e meditação para entrar em contato com sua matriz mágica interior, ou algo assim. Ainda assim, eles tinham uma grande capacidade de exaurir suas energias. Sakusa não levou muito a sério, para falar a verdade. Pelo menos não até conseguir de fato se conectar com aquele poder, o que o assustou até o último fio de cabelo e o fez perder todo o seu progresso.

 Tentar acessar sua magia era um tipo diferente de trabalho. Sakusa estava acostumado a longas jornadas de trabalho que exigiam esforço físico e mental, mas aquilo custava dele uma força que ele nem sabia que existia.

 Resumindo: difícil e trabalhoso de lidar.

 A magia também parecia ter recuado, como se indecisa entre aparecer ou esperar. Até mesmo ela havia notado algo errado. Ele precisava dar um jeito de voltar.

 Em todo o caso, graças a anos de treinamento em neutralidade facial, os mestres consideraram seu silêncio como sinal de respeito, e apreciaram. Sakusa se perguntou o motivo de nunca ter usado essa técnica suprema com seus chefes. Era simplesmente genial! Ele quase dormia em pé e os mestres aprovavam, todos saíam ganhando.

 Para ser mais justo com ele mesmo, Sakusa se dispôs a conversar com uma das professoras de história da magia, a perguntando sobre livros em que ele poderia estudar sobre outros mundos e universos paralelos. A mestre teve uma surpresa feliz ao saber desse interesse raro em dimensões alternativas, o parabenizando pelo trabalho duro e indicando alguns livros que ela gostava, apesar de saber que não havia muito sobre esse assunto. Sakusa agradeceu, pronto para retornar ao seu alojamento e dormir, dormir e dormir.

 Mesmo não sendo grande, o caminho era razoável, o qual passava pelo campus, que era quase uma pequena cidade. Era curioso pensar dessa maneira, porque a definição se adequava muito bem. Muitos estudantes dedicavam suas vidas à Academia, então acabavam por montar até mesmo uma família aos redores do castelo. Outras estruturas, como comércios e afins eram consequência. Além de funcionários e alunos, pessoas que não tinham nem envolvimento com a Academia em si moravam por lá, o que dizia muito sobre o quão preparada era aquela cidadezinha. Tanto que Sakusa arriscava dizer que era maior que a vila de onde ele viera, a qual era uma ramificação mais afastada da Capital e... bem, de tudo que era dito como civilização. Uma pena que o campus não fora muito explorado no jogo.

 A noite estava muito bonita, Sakusa nota de repente ao olhar para cima e se deparar com um céu estrelado. Fazia quanto tempo que ele não se dava o trabalho de reparar o que estava logo acima de sua cabeça? E desde quando ver a noite pintada por pontinhos infinitos de luz era uma cena rara? Viver em cidade grande realmente tinha seus infortúnios.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora