XIX

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 Merda. Sakusa havia se distraído, e agora algo ruim estava prestes a acontecer.

 Semanas tinham se passado desde o convite, e Sakusa meio que se perdeu no tempo. Era muito estranho saber e não saber o que ia acontecer, e esquecer alguns detalhezinhos que são, na verdade, importantes era assustador.

 Kiyoomi correu, dobrando os corredores em busca de uma sala específica.

 Diferente do habitual, a Academia havia adiantado o próximo "teste de poder" dos estudantes, sem dúvida por conta da influência da Coroa, que provavelmente estava curiosa para saber o avanço de Sakusa com seu poder. Ele não queria se sentir o motivo disso tudo, parecia um tanto prepotente, por mais que era a justificativa mais provável. Em vez disso, Sakusa se sentiu orgulhoso por ter conseguido concentrar poder para mostrar àquela maquina o que era sua magia. Os avaliadores que estavam por perto para auxiliar os estudantes encaravam, perplexos ao ver tanta magia bruta concentrada. Sakusa só sentiu hesitar quando viu Atsumu no meio daquela pequena multidão que estava se formando enquanto ele fazia sua magia.

 O príncipe estava disfarçado como um homem qualquer, com traços genéricos e sem nada que o diferenciasse do restante das pessoas. Exceto por aqueles olhos dourados, que Sakusa não teve nenhuma dificuldade em reconhecer em meio a tantas pessoas. Desde quando aqueles olhos simplesmente o atraíam? Como se dissessem para olhá-los... Sakusa estava olhando. Ele perdeu um pouco de sua concentração naquilo, e quando Atsumu percebe que estava sendo observado e o dá um "tchauzinho"... O foco de poder que ele estava canalizando treme em suas mãos e Sakusa enrubresce, decidindo que o showzinho acabou. Ele lança aquela magia para a máquina e se encolhe, indo para a direção oposta onde o príncipe estava.

 Ushijima estava lá esperando, então o parabeniza pela sua execução e as coisas se tornam normais de novo, assim como os batimentos do coração emocionado de Sakusa.

 Os resultados enfim haviam chegado, e Sakusa, para a surpresa de não muitas pessoas, havia conseguido o primeiro lugar, mesmo que o tempo entre os testes não havia passado de três meses. Tão pouco tempo e tanta evolução! Sakusa não conseguiu evitar um meio sorriso ao ver seu nome no topo da lista. A cara que Atsumu faria quando ele visse... Sakusa fingiu que não se importava, uma mentira tão deslavada que ele ficou surpreso consigo mesmo por ter coragem de pensar nisso.

 De qualquer forma, seu resultado trouxe inveja e ressentimento em alguns, orgulho em outros. Ushijima prometeu que o levaria para tomar um café em uma padaria que "pessoalmente o agradava", nas palavras dele. Porém, o resultado não os afetava tanto assim, de qualquer maneira. Era só um nivelamento, usado mais para que os próprios alunos soubessem de seus avanços.

 Exceto para Kageyama.

 O filho do duque era extremamente duro consigo mesmo. O que ele e sua família buscavam eram resultados e liderança nos ranks. Kageyama realmente não costumava ficar em segundo. Era quase inadmissível. Ele nascera com aquele poder fantástico e se dedicava mais que todos para aprimorá-lo. Entretanto, ele não tinha o poder de um dos Criadores. Sakusa era destinado a ser o maior, junto com seu igual, o poder obscuro. A diferença entre eles era tão absurda que nem valia a pena se sentir mal por isso.

 Mas Kageyama se sentiu. E, de acordo com os acontecimentos do jogo, ele deveria ser consolado pela protagonista, sempre humilde e empática, o que tocou o coração de Kageyama e o encorajou a beijá-la. Só que Sakusa não estava lá, e essa era uma cena importante para o relacionamento dos dois e acontecia independentemente da rota que o jogador escolhesse seguir, ele não podia só não fazê-la.

 Merda, merda! Sakusa não fazia ideia do que seria da autoestima de Kageyama se ele não falasse nada e o deixasse sofrendo sozinho. Então mesmo que não estivesse afim de ser beijado pelo filho do duque, ele iria pelo menos conversar com ele. Ele se apressou, tentando convocar um pouco daquela magia para que ele pudesse ser mais ágil. Deu razoavelmente certo, e sua magia se desprendeu de sua pele, pairando por seus olhos num tom fraco de ouro, aumentando levemente seus sentidos e reflexos. Melhor do que nada.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora