XXII

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- Você beijou o príncipe? - Yachi exclamou, se engasgando com a sopa que tomara.

- Fale mais baixo. - Sakusa ficou vermelho e olhou para os lados, desesperado. Quando se certificou que não havia ninguém ouvindo, ele suspirou e continuou. - E sim.

O refeitório não era o ambiente mais particular de todos, mas seu a casualidade daquele lugar era o que Sakusa almejava para contar para Yachi o que fizera duas noites atrás. Ele queria falar com a amiga sobre isso, mas fingir que não era nada demais. Mas era tudo demais. Quem simplesmente beija um maldito príncipe porque sim? Tipo, quem faz isso? Aquilo não era mais um jogo, era sua vida real.

Mesmo assim, no fundo, ainda não se arrependia.

Ao menos era o que pareceu a Yachi ao ver sua reação. Sakusa certamente pensava que ele era a pessoa mais discreta e misteriosa do planeta, mas era apenas passar um tempo com o Portador da Luz que já poderia ver como seus olhos franziam e sua boca curvava levemente quando estava feliz. Como seus olhos às vezes se viraram para o além e suas bochechas se cobriam com um leve rubor a simples menção do segundo príncipe na conversa. Ele podia pensar que estava sempre usando uma máscara que impedia a todos de verem seus sentimentos, mas isso não funcionaria com sua melhor amiga. Exigia esforço, mas Yachi estava aprendendo a ver os sentimentos que ele não colocava em palavras, e ela estava disposta a entender Sakusa, um rapaz com tanta gentileza e empatia, escondidas numa fachada séria e reservada.

- Não acredito. Vocês vão se casar? - Yachi pegou um paninho e limpou sua boca suavemente.

Sakusa ficou roxo.

- Casar? Céus, Yachi, estou querendo te dizer como isso foi um erro. - Sakusa... se casar com Atsumu... Isso era impossível.

- Um erro? Por quê? - Ela talvez tivesse perdido alguma parte da história que justificava sua reação errática.

- ... - Como ele explicaria o óbvio? Era um erro porque... porque era um erro, oras!

Sakusa pigarreou, incapaz de dizer o que estava sentindo.

- E o patrocínio? - Sakusa mudou de assunto.

Depois de correr dos labirintos e pedir para Ushijima levá-lo consigo de volta para a Academia, esse era o único assunto que ele achou para não pensar no que tinha feito. Só que pensar que Yachi conseguiu o patrocínio porque Atsumu que havia a ajudado com isso não estava de fato funcionando para o ato de não pensar no Miya.

- Está tudo sendo encaminhado, graças aos Criadores. Você não esperaria por isso, mas o mordomo Kenma é muito gentil, ainda mais depois... - Ela se calou de repente.

Sakusa piscou uma vez, confuso. O mordomo o intrigou desde a primeira vez que o viu com Osamu. Ele se lembrou vagamente da figura cansada e não muito marcante no jogo, mas ele não sabia nada sobre ele, muito menos que teria contatos assim. Se soubesse, teria o recorrido ao invés de falar com o príncipe.

- Depois...? - Sakusa continuou.

- Não me obrigue a falar em voz alta! Todos sabem dos boatos. - Yachi ficou vermelha. Ela hesitou uma vez, percebendo a enorme cara de interrogação que Sakusa estava fazendo.

Ela suspirou.

- Dizem... Dizem que Kenma é um fugitivo do Norte. Que a família real o resgatou de Kuroo. - Ela falou o nome baixinho, como se estivesse com medo de atrair maus agouros.

- Eu não sabia disso. - Yachi o olhou com certo pesar. Sakusa tinha quase certeza que ela estava pensando algo do tipo "poxa vida, a fofoca realmente não chega na roça".

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora