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 Semanas haviam se passado e Sakusa ainda não se acostumara às visitas dos alfaiates e professores de dança ao seu pequeno dormitório.

 Vários dias seguidos sendo medido e espetado por mãos ágeis do grupo de costureiros. Sakusa ocasionalmente soltava um "ai!", que era logo seguido por um "desculpe" sem muita emoção. Além disso, ele sentiu seu pé reclamar de dor nas primeiras lições, mas rapidamente pegou o jeito com a dança, não sendo mais necessárias depois da segunda semana. Os professores eram excelentes, quase como se alguém tivesse os dito "ensine-o assim, ele aprende desse jeito". Talvez alguém tivesse dito.

 O grupo de costureiros eram mais insistentes.

 Atsumu jurava que era necessário que ele tivesse uma roupa adequada, por mais que Sakusa ainda achasse que aqueles uniformes da Academia serviriam para a ocasião. Então, como se a opinião valesse tanto quanto meia em piso molhado, Atsumu solicitou a equipe para fazer desde os acessórios até seus sapatos para o baile de outono.

 Isso o lembrava... será que neste mundo ele nascera no mesmo dia que o do passado? A única pessoa a saber disso seria Motoya, e eles estavam... bem, eles não andavam trocando muitas palavras, o que era triste para Sakusa.

 Ele queria comentar com seu primo que agora ele havia alcançado certa independência com sua magia. Queria dizer que as coisas mais básicas, como invocá-la para a palma de sua mão e fazer algumas formas pelo ar, ele já estava conseguindo fazer sozinho. Queria dizer que ter se convidado para ir com Atsumu ao submundo agora não parecia tão imprudente assim. Ele conseguia se imaginar lidando com aquele lugar, podendo enfrentar uma situação de perigo caso necessário.

 Bem, talvez essa parte ele não contaria a Motoya.

 De qualquer forma, os dias foram se passando rapidamente, e a ansiedade brotou de forma desgovernada no peito de Sakusa. Ele nunca se sentiu tão nervoso quanto naqueles dias, pensativo e ansioso para o baile.

 Era tão cedo que Sakusa podia ver o céu com a mistura de cores característica de quando ele estava indeciso se era madrugada ou manhã. Apesar do Sol ainda estar nascendo, haviam batidas insistentes em sua porta, as quais obrigaram Sakusa a sair de sua cama para atendê-la.

 Deuses, ele havia demorado tanto para cair no sono devido a ansiedade do "grande dia" que ele quase xingou todas as pessoas que esperavam em sua porta. Eles, entretanto, não estavam muito interessados no mau humor de Sakusa e entraram no dormitório organizadamente, dando um simples "bom dia" e trazendo todos os seus equipamentos.

 A cabeça de Sakusa começa a ligar os acontecimentos e ele finalmente obtém a realização de que aquela era sua equipe particular para o arrumar para o baile.

 Atsumu só não era um maldito porque ao menos eles foram educados e deixaram Sakusa se lavar sozinho no banho que haviam preparado, por mais que dois dos criados protestaram um pouco. Um olhar desesperado de Sakusa foi o necessário para que eles aceitassem que ele provavelmente estava lidando com mais do que era acostumado, e o deixassem ter um momento sozinho.

 Após o banho, tão cheiroso e relaxante que ele quase dormiu na banheira, mal conseguiu se enfiar nos roupões quando duas criadas começaram a mexer no seu cabelo, enrolando cacho a cacho com os dedos. Outra criada, essa com uma cara mais séria, avaliava o trabalho delas como se Sakusa fosse um mero boneco. A mulher de repente levanta seu pulso e ele sente um ar quente passar pela sua nuca.

 Magia. Estavam usando magia para arrumar os cabelos de Sakusa.

– Vai durar pelo menos umas duas noites. – Ela deu um meio sorriso e assobiou.

 Mais dois criados adentraram o pequeno quarto de Sakusa. Estes carregavam aquele terno que fora feito justamente para essa ocasião. Ele era lindo, de uma tonalidade terracota, com bordados dourados de arabescos e pequenas folhas nas mangas. A calça e camisa não ficaram abaixo no nível de excelência; discretos, para realçar os desenhos da peça que ficava por cima, mas da mesma qualidade nos detalhes e beleza.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora