XXIII

87 15 25
                                    


– Você poderia usar sua magia para se transformar, se você quisesse. – Atsumu analisou sua feição, sentado numa cama com aparência nada confortável.

– Eu não... – Sakusa engoliu em seco.

 Eram umas 5 da manhã. Seus olhos ardiam pelo sono e seu corpo ainda estava com saudades das cobertas.

– Seria muito engraçado ver você cometendo erros de principiante, Omi. – Atsumu sorriu. – Quando eu era pequeno, fiquei preso num corpo de mulher por uma semana depois de pregar uma peça em Osamu e não conseguir voltar.

 O príncipe contou rindo, mas a história deixou Sakusa horrorizado. Se ele não conseguisse voltar a sua forma original, não era certo de que Atsumu poderia usar sua magia para ajudá-lo. Eles estavam evitando que outras magias tivessem contato direto com a sua, ainda mais se ele estivesse com dificuldade de controlá-la. Ninguém sabia o que poderia acontecer se caso a magia de luz sentisse que seu portador estava sendo ameaçado... Deuses, Sakusa precisava daquela orbe logo.

– Vamos apenas ser discretos. – Sakusa se decidiu.

– Não gosto disso. – Atsumu reclamou, imediatamente sendo atingido por um olhar de reprovação de Sakusa. – Tudo bem, tudo bem, você ganhou! Vamos fazer do seu jeito.

 Sakusa tentou não se sentir cativado pelos braços levantados em rendição. E como diabos ele conseguia estar tão animado numa manhã fria e escura? Deuses.

 O casebre não era o lugar mais acolhedor que ele já conhecera, mas Sakusa presumiu que poderia ser pior. Quando a carruagem os buscou pela manhã, ele não sabia ao certo o que esperar, e Atsumu apenas havia o dito que era um lugar afastado. Como se a própria Academia já não fosse longe como o inferno. Sakusa ainda e lembrava da caminhada ridiculamente grande que tivera que fazer em seu primeiro dia. Deuses, como ele não fazia ideia do que estava por vir!

 Ele se remexeu desconfortável na cadeira em que estava sentado. Sakusa realmente estava indo para o submundo, e fazendo os preparativos amigavelmente com Atsumu. O plano era simples: ele usaria uma túnica escura enquanto acompanhava o príncipe transformado e ficava calado enquanto deixava Atsumu fazer o resto. Tudo bem, ele poderia fazer isso.

– Não é uma visão muito bonita, Omi, feche os olhos. – Atsumu se espreguiçou e, sabendo que ele olharia mesmo assim, franziu o cenho em concentração.

 Para o príncipe, usar sua magia era como respirar, mas não podia deixar de usar essa oportunidade para fazer um showzinho para Sakusa. Da última vez, ele havia obrigado Sakusa a não olhar seu rosto se deformando até se transformar no dele próprio, afirmando ser uma visão bizarra demais para o "Sakusa-iniciante-com-magia". Bem, ele estava certo, mas isso com certeza fez a curiosidade do outro crescer.

 Ao ver que Sakusa estava com seus olhos vidrados em si em expectativa, Atsumu deu uma piscadela e pensou em uma das dezenas de rostos padrões que ele tinha decorado para suas missões. Um certo rosto apareceu em sua mente, como se esperando que ele fosse o escolhido, mas Atsumu o ignorou. A magia se ouriçou, ansiosa, se transformando na aura avermelhada ao redor de Atsumu. Após alguns segundos, a cor ficou intensa, até que de repente se prendeu com ferocidade a face do príncipe!

 Sakusa soltou uma exclamação, mas Atsumu apenas deu uma risadinha, calmo mediante a invasão agressiva da sua magia. Sua pele borbulhou e, devagar, suas feições começaram a mudar, guiadas pelas ondas de poder. A magia serpenteava e brincava, passando por seus lábios e nariz, mudando a cor e dando volume. Aos poucos, o príncipe foi ficando irreconhecível aos olhos de Sakusa. Na mesma medida que ele ganhava sardas e suas sobrancelhas mudavam o formato, mais ele notava o quanto cada característica de Atsumu que o fazia ser ele era... confortável. Sakusa afastou o pensamento com rapidez, não era hora para as besteiras de seu coração.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora