O auditório principal era, para a surpresa de ninguém, imenso.
Em forma de meio círculo, as fileiras de cadeiras estavam quase que completamente preenchidas por estudantes. Era como um teatro, e no centro do "palco" estava a comissão dos superiores da Academia e alguns dos mestres professores.
Yachi pede licença aos guardas, que Sakusa nota estarem em quase todas as entradas e saídas da Academia, e desce pelas estreitas escadas em busca de dois lugares vagos.
Seguir a garota da um estalo na cabeça de Sakusa, que se lembra da famosa entrada triunfal da protagonista: bem quando o diretor iria começar a falar, a protagonista tropeça e cai sobre o colo de um estudante especial: Tobio Kageyama. O filho do duque, um gênio das artes marciais. Era um homem quieto e meio irritado, alto, bonito e, bem... rico. A principal característica dele, no entanto, era o simples fato dele ser uma das rotas amorosas possíveis do jogo.
Sakusa, assim como a maior parte dos jogadores, não era muito afeiçoado por ele romanticamente. Ele era um personagem interessante, mas todos sabiam que ele combinava muito mais com Shoyo Hinata, seu melhor amigo. O casal era tão famoso que os desenvolvedores fizeram um evento limitado em que o tema era "realidade alternativa". Nele, Hinata era uma garota, também melhor amiga de Kageyama, mas com o detalhe de que ela gostava dele secretamente.
Sakusa tentou não se sentir muito ofendido na época, assim como parte da comunidade do jogo, mas ainda assim era um tipo de vitória para eles.
De qualquer forma, lá estava ele, cabelo escuro escorrido, olhos azuis e feição séria, quase entendiada enquanto comentava algo com o garoto de cabelos alaranjados ao seu lado. Quando encontrou com o olhar de Sakusa, que passava ao seu lado, ele cora e desvia o olhar com um pigarreio.
Era exatamente aquele momento em que ela tropeçaria num caderno que um estudante deixou cair e cairia sobre Kageyama. Sakusa, entretanto, avista o caderno e passa por cima dele com facilidade.
Sem quedas. Sem forças do universo o empurrando. Sem más primeiras impressões.
Sakusa seguiu por um caminho diferente do jogo, e aparentemente não sofreu um rombo no espaço-tempo porque as coisas não foram programadas para acontecer assim.
Então era isso. Aquilo realmente estava acontecendo. Sakusa poderia tomar as decisões que quisesse e tudo bem, porque eles não seguiam um roteiro.
Kiyoomi sentiu seu estômago revirar. Havia um certo conforto em pensar que eles seguiriam a programação independentemente do que Sakusa fazia. Dava pra pensar que aquilo era menos real.
Porém, era também muito feliz saber que não tomaria uma advertência do reitor por gerar uma comoção entre os alunos no meio de um discurso importante, como a protagonista e Kageyama levaram no jogo. Tobio também não se sentiria ressentido de Sakusa, consequentemente ele não iria atrás dele e Kiyoomi não teria que lidar com um caso romântico o qual ele não estava interessado.
Isso era algo que pairava sobre a mente de Sakusa. Se ele fosse passar um tempo indeterminado naquele mundo, Sakusa poderia tirar algum proveito disso. Não era todo dia em que se acordava com poderes fantásticos e existiam homens daquele nível interessados em você. Sakusa não tinha muita convicção de que poderia conquistar o coração deles como a charmosa protagonista, mas ele poderia tentar. Além do mais, ele não tinha vontade de formar um harém para si, principalmente se um de seus membros fosse aquele Miya insuportável. Muito pelo contrário: ele tinha um alvo. Uma das rotas que ele particularmente mais gostava, mesmo que fosse um dos menos famosos entre o fandom: Wakatoshi Ushijima.
Porém, Sakusa não conseguiu pensar muito mais sobre isso, porque o burburinho entre os estudantes havia cessado, o que significava uma coisa: o discurso de boas-vindas estava para começar.
- Cavalheiros e senhoritas, cidadãos de Lovellin. - Uma voz grave tomou conta do salão. - Com a benção dos Criadores, nós obtivemos poderes fantásticos, magias extraordinárias e habilidades milagrosas.
"Os Quatro Reinos, todos muito engajados em estudos e pesquisas, tentam incessantemente descobrir até onde nós podemos ir. Então, a Academia de Lovellin os propõe um objetivo em comum: progresso. Nós da Academia temos orgulho em dizer ao povo sobre nossos avanços em diversos setores."
"Ademais, juntamente do apoio da Coroa Real, o Rei e a Rainha Miya, podemos propiciar a vocês, nossos estudantes, o melhor ambiente possível para que façam suas descobertas fantásticas e sigam o rumo da prosperidade que o destino desenhou a vocês. Sejam livres para aprender, para ensinar e para descobrir. A Academia é uma família, e todos somos capazes de criarmos um futuro brilhante para as novas gerações."
"Obrigado pela atenção, mesmo que eu esteja enxergando um ou outro quase dormindo." Ele fala num tom divertido, e sons de risadinhas surgem em todos os cantos.
- Passo agora a palavra aos nossos mestres da educação, os professores.
Então assim se seguiu por mais algumas horas. Sakusa se entediou no segundo discurso, e olhou para os lados, vendo Yachi escutar atentamente às palavras dos mestres.
O modo como a Academia funcionava era curioso, na visão de Sakusa. Os desenvolvedores realmente se empenharam em fazê-la como um centro de pesquisas real, com áreas para estudos práticos e teóricos, professores auxiliares e até mesmo um esquema de assistência monetária aos estudantes sem muitos fundos. O que eles pediam em troca eram resultados, é claro. Muito justo, na opinião de Sakusa.
Porém, como toda instituição, haviam algumas falhas e protocolos que poderiam ser casualmente esquecidos quando se tratava de gente com influências. Sakusa admitiu ter se interessado mais dessa parte do que da história principal. O que ele poderia fazer? Ele amava construções de mundo, e mesmo sendo só um jogo aleatório que sua irmãzinha gostava, nada o impedia de se entreter com a coisa toda.
Lembrar-se de sua irmã o fez sentir um aperto absurdo no peito. Foco, ele precisava de foco.
Por esse motivo deixou Yachi o guiar para visitar a parte oeste da Academia, agora bem movimentada. Isso se tornou um pequeno problema, visto que haviam duas pessoas introvertidas sendo descaradamente encaradas por onde passavam. Sakusa não esperava obter tanto reconhecimento assim de cara, ainda mais porque ele tinha feito de tudo para não chamar atenção.
Céus, isso ia ser difícil.
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Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!
FanfictionJogos Otome... tão famosos entre as jovens! Aqueles em que você escolhe seu par romântico e se aventura em um mundo de fantasia! Kiyoomi Sakusa nunca foi especialmente interessado neles, apenas jogava um com sua irmã mais nova. O que ele não sabia...