XVII

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 Sakusa queria poder dizer que não estava se arrependendo de ter aceitado isso.

 Quando se permitiu falar com Yachi, eles se encararam por um momento, então ela quebra aquele silêncio constrangedor o convidando para ir com ela até a biblioteca. Parecia uma proposta muito boa participar do grupo de estudos de Yachi, até ele se ver... perdido.

 Deuses, ele não fazia ideia do que estavam falando, e haviam tantas contradições entre os membros que aquilo estava mais para uma bagunça. Sakusa se sentiu deslocado. Ele começou a pensar que o melhor era ir embora, depois se desculpar com Yachi.

– Senhor Sakusa, o que você acha? – Yachi de repente fala, e todos se calam e olham para Sakusa em expectativa.

– O quê? – Ele se encolhe, nervoso com os olhares.

– Sobre isso tudo. Nós queremos uma opinião de fora, e achamos que você é o melhor para isso.

 Sakusa sente seu coração acelerar e suas bochechas corarem. Ele ficou... ficou feliz com isso.

– Eu acho... – Ele pensa por mais um momento. – Que vocês parecem mais perdidos que eu. Encontrem pontos importantes sobre o assunto e o progresso e foquem em uma coisa de cada vez.

 Alguns começam a cochichar entre si. Sakusa fica nervoso, mas então percebe que não são para caçoar dele, mas sim debater sobre o que ele acabou de dizer.

– Eu sugiro... sugiro que escrevam os tópicos e deixem os raciocínios anotados. Quanto mais deixarem rascunhos, mais palpável será o progresso de vocês. Vocês precisam... visualizar. Mais importante que fazer, é saber o que se está fazendo. – Sakusa sente suas bochechas impossivelmente quentes após citar o conselho de Atsumu, mas o que ele poderia fazer? O segundo príncipe tinha que acertar alguma hora.

– Obrigada, Sakusa. – Yachi sorri. – Vamos começar as anotações, desde a ideia original e nossa última descoberta! 

 Sakusa sente o clima caótico de antes se dissolver em alguns murmúrios e sons de penas escrevendo rapidamente nos livros da pesquisa. Yachi o olha orgulhosa por um breve momento, então volta a se concentrar no que estava estudando.

 Após as primeiras ideias estarem concretizadas, os estudantes deram a Sakusa para que ele pudesse dar sua opinião e, ao ler... Céus, a pesquisa era muito mais interessante do que ele se lembrava. Agora que sabia mais sobre a origem da magia, ele conseguia entender a verdadeira profundidade do que estavam estudando e o quanto isso revolucionaria o entendimento da magia caso isso procedesse. 

 A pesquisa de Yachi era sobre uma teoria há muito tempo descartada pelos cientistas: a existência de outro tipo de magia bruta. Uma que se parecia tanto com a que todos já conhecem que facilmente se passou pela mesma, mas que agora o grupo afirma ter encontrado uma prova de que ela de fato exista: resíduos de uma rocha com propriedades de enfraquecimento de magia, encontrada pela própria Yachi nas margens de um rio. Ao segurá-los por um tempo, ela sentiu sua magia titubear e se encolher, depois uma fraqueza em seu corpo.

– Deuses. – Sakusa percebeu o quanto subestimou a importância de Yachi como pesquisadora. E subestimou ainda mais a capacidade da Academia de ser cruel e restrita com pessoas sem muita influência. Sakusa quis xingar quem estava os pressionando por sua burrice. 

 Sem ver o tempo passar, imerso nas suas leituras, percebeu os estudantes silenciosamente se despedindo e arrumando suas coisas para o outro dia em que se reuniriam.

– Senhor Sakusa! Espere um minuto!

 Deuses. Mesmo depois disso tudo, foi preciso determinação para que Sakusa não quisesse fugir dessa conversa.

 Coragem, Sakusa. Coragem.

– Yachi, pois não? – Ele interrompe o passo para que pudesse caminhar ao lado dela.

– Eu só queria me desculpar propriamente. – Ela para de andar. – E, se você permitir, me explicar.

 Sakusa parou também. O que ele pensava sobre isso? Ele permitia? Yachi havia o magoado, mas... ela também correu atrás para resolver. Se importou em incluí-lo e quer consertar as coisas.

 Sakusa acena com a cabeça, e Yachi sorri.

– Sabe, o que você disse mais cedo é mais real do que imagina. Como eu disse antes, esses dias estão sendo bem difíceis para nós e nossa pesquisa. – Seu olhar refletiu uma tristeza genuína. – Ainda não conseguimos nenhum progresso real, e isso fazem algumas semanas e a Academia... ela continua no nosso pé.

 "Semana passada ela nos deu um ultimato, ameaçando encerrar o apoio à pesquisa. Como nenhum de nós temos influência ou uma forma de mudar a decisão deles... Sentimentos ruins mais sentimentos ruins culminaram num ressentimento sem sentido contra você, senhor Sakusa. Nós sentimos muito, de verdade."

 Sakusa sente seu coração palpitar em compaixão a situação de Yachi.

– Está tudo bem. – Ele tenta um meio sorriso, que provavelmente não foi muito cativante, mas que brotou um sorriso gigante no rosto de Yachi.

– Mesmo? Então... – Ela rapidamente tira algo de sua mochila e o oferece. – Podemos ser amigos de novo?

 Era aquele livro de romance.

 Sakusa cora e segura o livro, sem conseguir olhar nos olhos de Yachi, mas na esperança de que sua amiga entenda o recado.

– Você quer que eu fale com Miya? Sobre seu projeto. – Ele oferece baixinho. – Não sei se ele aceitaria, mas eu poderia tentar.

 Sakusa revira os olhos ao pensar no rosto que Atsumu faria se ele o pedisse alguma coisa.

– O segundo príncipe? S-se você pudesse... – Yachi cora, mas tenta ao máximo não se sentir muito esperançosa. – Mas, hm... falando nele, por que, senhor Sakusa, você age como se não gostasse dele? O príncipe cuida muito de você.

 O cérebro de Sakusa para por um segundo.

– Atsumu cuida de mim?

– Sim, você nunca notou? Quer dizer, eu fui mais vezes além de hoje no laboratório de vocês, e ele me pedia para que te desse um tempo. – Ela ficou envergonhada por lembrar de incomodar um príncipe. – Ele parecia genuinamente querer que você não ficasse aborrecido. 

– Eu... não sabia. –  Então era por isso que seus esconderijos improvisados davam certo. Atsumu pedia a ela... – Eu ajo como se eu não gostasse dele?

– Ah, bem, hm... sim. N-não quero me meter, mas... aconteceu alguma coisa entre vocês? – Yachi tentou não parecer muito curiosa.

 Havia acontecido alguma coisa? Atsumu... exceto pelo que ele sabia do jogo e de seus admiradores insuportáveis, Atsumu nunca foi uma pessoa ruim. Muito pelo contrário, na realidade. Ele foi prestativo e se importou com os sentimentos de Sakusa, mesmo que ele não precisasse fazer isso. Porra. 

– Não. Nunca. – Sakusa apertou o livro em suas mãos com força. –  Acho que eu apenas... deduzi que ele era algo que, no fim, não era.

– Mas a personalidade dele continua irritante. – Ele acrescenta, brincando.

 Yachi ri, e ele acompanha com uma risada leve. 

– Obrigada por hoje, senhor Sakusa.

–  Só Sakusa está bom. – Yachi sorri, feliz.

– Nos vemos amanhã no almoço? – Ela fala esperançosa.

 Sakusa acena com a cabeça, um sorrido no canto de sua boca brotando. 


Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora