XXIV

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 Sakusa sentiu suas mãos pararem de tremer aos poucos. O vento era impiedoso no alto da montanha, com o Sol ainda acordando e as nuvens preguiçosas dando um aspecto cinza e solitário para o local. O casebre se matinha em pé por algum milagre.

 O portador da luz bocejou uma vez, abraçando a si mesmo para se proteger das rajadas cortantes do vento. Ele olhou para o vilarejo, um pouco distante dali. Com Atsumu cuidando de todos os preparativos para irem, Sakusa não conseguiu não se sentir um tanto... sozinho. Apenas o pequeno peso de sua adaga na bainha era sua companhia. Sakusa lembrou-se de ter olhado para ela uma vez antes de sair de seu dormitório mais cedo. Ele sabia que aquilo não era possível, mas ela pareceu reluzir para ele, pedindo para ser levada.

 Se ela queria uma aventura, tudo bem, Sakusa a levaria consigo.

– Não sabia que existia uma magia de teletransporte. – Ele falou um pouco alto para que o príncipe pudesse escutá-lo.

 Atsumu, um tanto longe, colocou uma de suas grandes mãos sobre os olhos para enxergá-lo. Ele se aproximou com a mesma bolsa de antes.

– E não existe. Pelo menos não que a gente saiba. – Atsumu não precisava dizer que Sakusa poderia conseguir se ele tentasse. – Isso aqui é feitiçaria.

 Sakusa se arrepiou com o termo, suas mãos se lembrando do porquê tremeram mais cedo. Ele poderia dizer a si mesmo que era apenas o frio, mas quando sentiu algo subir por sua coluna, como um toque fantasma do que fora aquela magia natural desconhecida, ele soube o que aquilo o assombraria por um tempo.

– Extrair o poder da natureza por meio de escritas e símbolos. A especialidade de nosso querido Rei, que criou essa coisa bonita que vamos usar. – Atsumu estava próximo de novo. Por que diabos sempre era como se ele nunca tivesse se afastado? – Desculpe ter ido rápido demais antes, eu estava ansioso para vê-lo tentando o feitiço e...

 Sakusa negou com a cabeça. Ele entendia o sentimento, e conseguiu se colocar no lugar do príncipe o suficiente para deduzir que qualquer um ficaria curioso.

– Está tudo bem. – Sakusa tentou um sorriso fraco.

 Atsumu o olhou significativamente por um segundo, então o olhar sumiu tão rápido quanto apareceu e ele começou a retirar os materiais de dentro da bolsa.

– É um feitiço de troca. Vamos trocar de lugar com dois guardas perto do submundo, preparados para o feitiço. – O príncipe desenhou um grande círculo no chão. – "No alvorecer" é uma marcação de tempo muito imprecisa, não acha?

 Sakusa balançou a cabeça em afirmativo.

– Pois é. Bom, vamos saber quando eles estiverem prontos, de qualquer forma. – Atsumu puxou uma grande toalha e a colocou na grama ao lado das escrituras.

– Pra que a toalha a serve? – Sakusa pensou na utilidade de um simples tecido para um feitiço daquele nível.

– Hm? Pra eu me sentar, é claro. – Então o príncipe naquele corpo estranho realmente se sentou na toalha e Sakusa quis socá-lo. – Ei, Omi, não me olhe assim. Venha, eu peguei uns bolinhos da cozinha antes de vir.

 Sakusa tinha duas escolhas, e sentar ao lado de Atsumu Miya enquanto comia e assistia o alvorecer aflorar em tons laranja parecia muito mais sábio do que ficar esperando em pé. 

 A vista era tão bonita quanto deveria, e até mesmo o vento cortante era bem-vindo. O silêncio não era desconfortável, mas depois de um tempo quietos, Sakusa quis... conversar.

– Poder ocultar a presença, se teletransportar. Feitiçaria é tão forte, e pode ser feita por qualquer um. Por que não temos muitos feiticeiros na Academia? — Ou em qualquer lugar.

Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!Onde histórias criam vida. Descubra agora