Acordei em um jogo otome mesmo sendo homem!

XXXIII

— Maldição! — O príncipe rangeu os dentes com a dor.

O guarda franziu as sobrancelhas, sem saber como ampará-lo. Ele se questionou se havia mesmo feito o correto ao entrar em contato com Atsumu.

— Vossa Alteza, tem certeza...

— Tenho, Wakatoshi. — Atsumu grunhiu novamente, seus movimentos sem quαlquer nexo na visão do capitão. — Tem um motivo para precisarmos da autorização de meu pai, veja. — Ele ofegou e colocou as mãos sobre o giz recém desenhado ao chão. Mais uma vez, algo como um chicote invisível açoitou seus braços. Atsumu mordeu o lábio, mas persistiu. — Não é só... burocracia. O Rei tem... feitiços que... eu não sei como funciona, mas sei que fazem isso dar certo.

Ushijima se manteve em silêncio. O príncipe Atsumu sempre foi falador, principalmente quando precisava se distrair da dor. Ele não sabia se podia aguentar ver o membro da realeza que jurou proteger sofrer daquela forma.

— Sakusa poderia... — Ele iniciou.

— Omi não precisa se por em risco. — Atsumu o cortou. Ali estava algo em que os dois concordavam, por mais que Ushijima o considerasse uma peça importante o suficiente para correr o risco.

O guarda cerrou seu punho, mas manteve a compostura como o usual. A intimidade do portador da luz e o príncipe não era segredo, e inclusive se tornava cada vez mais pública e, portanto, vítima de fofocas pela Academia. Mas Sakusa não estava noivo, ele inclusive era prometido de Osamu, ao que Ushijima fora informado. Ele estava prestes a comentar se o feitiço de transporte daria certo quando chão brilhou em uma intensa luz avermelhada.

Atsumu encarou seu sucesso por um segundo, então respirou fundo e indicou seu ombro. Ushijima respeitosamente colocou sua mão ali, então o mundo girou. Quando seus olhos abriram, um beco escuro o cumprimentou. Mesmo sendo manhã, não entrava um raio de luz naquele lugar.

— Boas-vindas ao submundo, capitão. — Atsumu assumiu a liderança, abrindo um portão enferrujado. Sakusa não precisava de expor àquele lugar novamente. Nem saber disso, ele completou mentalmente.

Sakusa respirou fundo, concentrado. Não existia nada ao seu redor, apenas sua própria magia o rondando. O canto de seus lábios se ergueu ao não sentir mais a cadeira sob si. Com as pernas cruzadas e olhos fechados, sabia que estava planando alguns centímetros acima do assento. Se ao menos seu príncipe pudesse vê-lo...

As portas duplas do laboratório se abriram e Sakusa imediatamente sentiu seu coração acelerar. Ele levantou um dos braços, condensando seu poder em duas estacas de gelo, que avançaram rapidamente em direção às portas. Mas não era Atsumu que apareceu ali.

— Ushiwaka? — Suas sobrancelhas afundaram. O capitão encarou os espinhos em sua direção, que na hora derreteram em duas poças de água sobre suas botas.

— Sakusa. — Ushijima cumprimentou, passando os olhos pelo ambiente. Seu maxilar contraiu quase imperceptivelmente ao não encontrar o que quer que viera procurar. Sakusa o encarou, não era incomum que o guarda aparecesse para verificar as coisas, mas ele sempre parecera... não a ponto de explodir os vidros em tensão. — Obrigado, uma boa tarde.

Sakusa girou seu pulso e a porta congelou.

— Espere! Onde... Você sabe onde Atsumu está? — Ele perguntou, deixando sua voz mais firme ao passar das palavras. Ushijima olhou da porta imobilizada para Sakusa, a hesitação visível. Sakusa nunca tinha visto o capitão daquela forma, deveria ter alguma coisa errada.

— Desculpe, senhor Sakusa, não sei onde Sua Alteza está. — Ele afirmou antes de franzir o cenho e seguir embora.

Sakusa finalmente relaxou, fazendo um movimento horizontal com a mão e fechando a porta bruscamente, o assustando com a força desnecessária que aplicou em sua magia. Atsumu simplesmente não voltara desde que dissera que precisava resolver algumas coisas com o irmão. Ele percebeu que estava muito desacostumado a praticar sozinho. Talvez fosse o tremor em suas mãos. Nessas horas, Atsumu o acalmaria, ele as seguraria e então ficaria tudo bem.