Nova York, 2006.
O grande apartamento que havia escolhido às pressas não transmitia a sensação de casa como a que vivia a alguns dias atrás, sentia falta das decorações com significados para ela e Simone, dos vários porta retratos espalhados pela casa em uma maneira silenciosa de contar a trajetória de ambas durante todos aqueles anos. Das paredes com vida, dos quadros que pintou quando a inspiração surgia sem avisos, mirava a parede onde ficava a televisão, a mesma parede que costumava ter o quadro feito para a morena. Era estranho como sentia que as coisas escaparam entre seus dedos sem que pudesse fazer nada para evitar.
A única coisa que realmente havia ficado eram as memórias e uma pequena sementinha que crescia dentro de si. Soava tão irônico conseguir ficar grávida justo quando estava se separando de Simone. A gravidez que tinham planejado para ser carregada de alegria e amor havia acabado nela sozinha há quilômetros de distância de casa.
Estava em Nova York a uma semana, os enjoos se tornaram diários e o mal estar a impossibilitava de sequer pensar em trabalhar. Com isso, Lilian decidiu que passaria os primeiros meses ao seu lado, mesmo que precisasse dar uma pausa na carreira. Cogitou negar, mentir que ficaria bem sozinha em toda gravidez, mas a razão gritou mais alto e aceitou prontamente.
Sabia que a ruiva também estava indo ali para tentar ser mais persuasiva nas suas tentativas de fazer com que conversasse com Simone. Se preparava mentalmente já para todas as razões que ela lhe daria, mas não conseguia ao menos pensar em ficar frente a frente com a ex esposa tão cedo. Tinha pesadelos costumeiros com a última vez que encontrou a mulher, com o jeito que ela parecia tão serena ao lado da outra desconhecida para a loira. Queria saber quando elas se conheceram, em que momento aquilo começou, a quanto tempo estava sendo enganada, se o cheiro diferente que encontrava algumas vezes nas roupas de Simone eram dela. Mas, ao mesmo tempo, desejava nunca ter respostas para aquilo. Já estava sendo doloroso o bastante no silêncio.
Descansou sua mão direita em seu ventre, o que tinha se tornado um costume desde que descobriu estar grávida, era seu lembrete de que não estava de fato sozinha, que em alguns meses teria seu bebê em seus braços. Nunca havia se sentido tão ansiosa para algo. O barulho da campainha ecoou por todo o apartamento, a fazendo franzir o cenho ao fitar a grande porta. Andou até ela e quando ficou na ponta dos pés para olhar o olho mágico, um sorriso amplo tomou conta de seus lábios ao ver a figura de Lilian acenando para a porta. A abriu com tanta pressa que chegou a se embaralhar com a chave, não deu tempo para a melhor amiga pensar ou falar algo e se jogou em seu corpo, como se dependesse daquilo para sobreviver.
Lilian abraçou o corpo da loira com cuidado, sentindo um alívio por vê-la após uma semana. Afastou a advogada para conseguir analisar seu corpo, se segurando para não dar um esporro por perceber as olheiras pequenas abaixo de seus olhos, indicando que ela não dormia direito.
— Senti saudades — murmurou. Sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas não permitiu que elas rolassem por seu rosto, não queria fazer aquilo na frente da médica.
— Eu também senti, querida, muita — o sorriso de Lilian parecia ter o poder de acalentar qualquer alma, mesmo a mais vazia delas, talvez isso fosse uma das coisas que mais a encantava.
— Você deveria ter me avisado, eu iria te buscar! — fungou baixinho, dando passagem para Bagman entrar no apartamento. Tentou ajudá-la com as duas malas grandes, mas a outra não lhe permitiu que fizesse isso.
— Claro, eu definitivamente te faria atravessar a cidade para me buscar — ironizou. As íris azuis vagaram pelo apartamento, era a primeira vez que o via, e todo aquele amplo lugar vazio, se comparado com a casa que Soraya tinha com Simone, não era nada convidativo e aconchegante. Sentiu um vento frio atingir seu corpo, não sabia dizer se ele vinha da grande janela, ou da falta que a morena fazia — Como você tem passado?
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente mãe • Simone & Soraya
FanficSimone e Soraya estavam casadas há dez anos, o relacionamento de ambas era considerado, por amigos e familiares, algo saído de um conto de fadas. Mas até os mais belos dos romances podem não aguentar uma grande ruptura e causar danos irreversíveis...