De repente mãe • Simone & Soraya

XXV. Não se contenha.

Soraya suspirou baixinho quando terminou de trocar a colcha e as fronhas da cama, enquanto a tarefa de Simone foi secar o chão do quarto e o pelo de Pipoca, que se manteve imóvel sobre a mira do secador, quase fechando os olhos para dormir no colo da mais velha, coisa que sempre acontecia depois de um banho, era quase um esgotamento de toda a energia que existia no animal.

Cecília também já tinha chegado na casa com as quatro mulheres logo atrás de si, não tentou ir até as duas advogadas porque queria evitar de encontrar novamente a feição de choque que surgiu no rosto de Soraya ao ver o seu estado, tinha conhecimento que a melhor opção era vê-las quando estivesse devidamente apresentável, o que provavelmente levaria longos minutos para acontecer.

— Queridas? — Irene parou na entrada do quarto, tentando entender o motivo que levou as duas mulheres a trocar o forro de cama limpo, mas dispensou questionamentos — Está tudo bem?

— Está sim, Irene — Soraya sorriu sem mostrar os dentes, sentando na ponta da cama para fitar a mais velha.

— Vim avisar que o senhor Ramez e os seus pais decidiram fazer um churrasco e uma roda de viola antes de irem embora para que possam relembrar os bons momentos — viu uma animação iluminar as íris castanhas, exatamente como tinha imaginado e congelou aquela imagem no fundo de sua mente, apenas para o caso indesejável de passar mais alguns anos longe da presença de Soraya. Não queria correr o risco de esquecer seus traços como vinha acontecendo a cada mês que se passava e não recebia notícia alguma sobre sua volta.

— Então é por isso que eles também desapareceram — soltou uma risada nasal, acenando positivamente antes de continuar a falar — Está bem, nós não vamos demorar para estar lá — a mais velha aproveitou a chance para adentrar por completo o cômodo, se aproximando de onde a advogada estava. Segurou seu rosto com cuidado, se curvando para conseguir depositar um beijo demorado na testa da mais nova.

— Cuidem uma da outra dessa vez, não deixem que nada rompa essa relação, menina — sussurrou.

— Por nada nesse mundo, Irene — garantiu, fechando os olhos para sentir a sensação calorosa que a mulher lhe causava. Sorriu docemente ao receber um último beijo antes de vê-la sair do quarto para ajudar os outros três mais velhos no que fosse necessário para aquela noite, porque qualquer um sabia que se não fosse pela presença da mulher e de Marta, a maior parte das coisas desandavam sem que Rodrigo e Ramez pudessem evitar.

Antes que pudesse seguir para o banheiro e fazer companhia para Simone, a porta semiaberta lhe deu a visão de uma Cecília a fitando timidamente pela fresta, esperando ser notada sem ao menos falar algo. Não precisava que ela adentrasse o cômodo para saber que agora tinha se livrado de toda aquela lama e dos nós formados pela extensão de seu cabelo.

— Entre, minha princesinha — a viu sorrir amplamente ao terminar de falar e deu batidinhas no colchão para que ela se sentasse ali, era completamente irônico saber que a garota faria dezessete anos em algumas semanas mas ainda a via como a sua menininha, a criança que lhe deu um sentido diferente de tudo o que estava acostumada — Olha só, dessa vez você apareceu sem a companhia de um porco.

— Não fale dele, ou vai acordar a minha vontade de levá-lo para casa — fez um biquinho, se jogando contra os braços da advogada, a fazendo rir baixo antes de envolvê-la com carinho e cuidado, só se lembrando do arranhão em sua bochecha alguns minutos depois — Mamãe, não é nada demais...— tentou inutilmente se livrar do pedido da mulher em ver seu rosto, nada e nem ninguém era capaz de tirar algo da cabeça de Soraya enquanto ela não quisesse.

— Voltou a ser uma criança que volta com machucados, hum? — engoliu em seco o pequeno desconforto presente em ver o arranhão avermelhado por quase toda a bochecha da filha.