XXII. Tinham uma a outra.

2.8K 211 245
                                    

Simone tinha a cabeça deitada nas pernas da ex-esposa, recostada na cabeceira da cama, e seus olhos estavam quase se fechando pelo carinho suave em seu cabelo. O vento que adentrava o cômodo pela grande janela batia contra o rosto de ambas e, para o alívio da ministra, ele parecia impedir que as lágrimas rolassem por seu rosto e levava para longe um pouco de todo aquele sufoco que fazia morada dentro de seu peito. Mas suspeitava que uma grande parcela de culpa desse fato era graças a Soraya, que sempre tivera aquele efeito sobre suas emoções.

O silêncio entre elas era algo confortável e necessitado depois de tanto tempo longe uma da outra, era quase um reconhecimento da sensação que costumavam amar sentir quando estavam na presença uma da outra. E era de momentos como aquele que saiam os planos para o futuro juntas mas, mesmo que não estivessem verbalizando nada de fato, não significava que seus pensamentos não estivessem repletos do desejo de conseguirem correr atrás de tudo o que desejavam viver.

— Nós deveríamos ir até a cozinha, você não comeu nada até agora — a loira sussurrou ao ver o horário no relógio de pulso que usava. Tebet abraçou sua cintura com firmeza e se aconchegou ainda mais contra seu corpo, quase ronronando, o que arrancou uma risada nasal da mais nova — Sou eu quem costumo dar trabalho para comer, sabia?

— Eu só não quero sair daqui — confessou no mesmo tom de voz, fechando os olhos antes de prosseguir — Tenho medo de sair desse quarto e as coisas desmoronarem de novo. De não ter mais você ao meu lado. É algo bobo demais? — ergueu o olhar para a mulher, buscando pelas íris castanhas, que não levaram mais do que alguns segundos para se encontrar com as suas.

— Não, querida, não é. Na verdade, é completamente compreensível, mas isso não vai acontecer — pincelou o dedo indicador na pontinha do nariz da mulher, sorrindo ternamente — Mas eu realmente não posso te deixar sem se alimentar, vai acabar recusando o bolo que fiz para você? Justo a pessoa que nem pisa em uma cozinha sem o número dos bombeiros em mãos.

Simone riu sincera, sendo a primeira vez que Soraya ouviu aquele som desde o dia anterior e, em um momento como aquele, o barulho soava como música para seus ouvidos. A morena sentou na cama, ficando quase de frente para a advogada, aproveitando para não desconectar o contato visual entre elas por nada, agora não tendo o mínimo medo de se jogar a qualquer instante do precipício que a loira carregava nas íris castanhas.

— Então vamos comer seu bolo — acenou com a cabeça, se levantando primeiro que a mulher para estender uma mão em sua direção, a ajudando sair da cama com mais facilidade — Antes de sairmos...

Segurou um dos lados do rosto de Soraya e depositou três selinhos demorados contra os lábios da mesma, sentindo seu coração acelerar minimamente ao ver o belo sorriso iluminar o rosto da mulher.

— Vamos manter isso só para nós duas por enquanto?

— Acho que é o melhor. Aconteceram muitas coisas nas últimas horas, podemos aproveitar um pouco antes de contar para a família.

— Como você achar melhor, Sisa — mas como estavam sozinhas naquele momento, não viu problema algum em continuar com a mão entrelaçada na da morena, aproveitaria os últimos minutos antes de alguém voltar para a casa — Eu não te contei, mas meus pais estão vindo pra cá, acha isso algum problema?

— Por que seria? — deixou que seu corpo fosse guiado pela loira, andando poucos centímetros à sua frente e lhe dando a visão de seu perfil, agora muito mais suavizado do que na noite anterior.

— Não sei...mas é um momento delicado, talvez você queira ficar sozinha ao invés de quase toda a família estar aqui — deu de ombros. Apontou para o banco de frente para o balcão no meio do cômodo e sorriu orgulhosa em ver o bolo já desenformado em cima da pedra de mármore.

De repente mãe • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora