XIV. Operação cupido.

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Não tinha verdadeiramente motivos para se sentir nervosa, mas não conseguia evitar a sensação de tomar conta do seu corpo ao pensar que aquele era o primeiro dia da mulher como a mais nova Ministra do Planejamento e Orçamento. Sentia um orgulho genuíno em ver até onde a morena tinha chegado, muito mais do que ela pensava ser capaz, mas exatamente onde Thronicke tinha convicção que ela poderia. Não tinha certeza se deveria ligar para a mulher, pensava que estaria a incomodando logo cedo em um dia importante, então preferiu mandar flores para seu novo gabinete, acabaria se assemelhando à outras pessoas, mas ao menos demonstraria que não tinha deixado passar em branco um dia como aquele.

Não eram nem sete da manhã e já estava desperta, o efeito do remédio sendo incapaz de ser maior que sua ansiedade. Cogitou chamar Lilian, ou confirmar se Cecília já estava acordada para poder ter a presença da garota, mas espantou a ideia por querer que as duas pudessem ter mais alguns minutos de descanso antes de um dia cansativo, então se afundou na pilha de papéis que tinha sobre sua mesa de cabeceira e sabia que aquele adiantamento de trabalho só a aliviaria quando estivesse de volta à sua sala e rotina de antes.

Sorriu ao ver que a melhor amiga já tinha deixado seus comprimidos ao lado dos papéis e os tomou antes que o desconforto começasse a irritá-la. Os comentários sobre a posse da ex-esposa em relação ao ministério já tinham começado e estavam a todo vapor, insinuações, comentários que não tinham fundamento e expectativas pelo seu desempenho no cargo. Lia todos eles, por mais que alguns soassem inacreditáveis, e sorria minimamente quando rasgavam elogios para a mais velha.

Ouviu um barulho baixo vindo do corredor e pela maneira como os pés mal saiam do chão sabia ser Cecília ainda sonolenta andando pela casa, fitou a porta do quarto e esperou que ela adentrasse seu quarto, o que não demorou nem dois minutos para acontecer. A garota descansou o corpo na estrutura da porta, mal conseguindo manter seus olhos abertos para conseguir fitar a mais velha, mas não deixou de se surpreender ao ver Soraya acordada naquele horário.

— Bom dia — sua voz rouca e baixa fez um sorriso tranquilo surgir nos lábios da loira, que abriu os braços depois de deixar os papéis de lado e esperou a filha se aconchegar ali — Por que a senhora já está acordada? Deveria estar descansando.

— Perdi o sono, meu amor — beijou o topo da cabeça da garota e a apertou forte contra seus braços, exatamente como fazia quando ela ainda era criança — Já mandou mensagem para a sua mãe? É o primeiro dia de trabalho dela.

Cecília negou com a cabeça, precisando de alguns segundos para raciocinar as próprias palavras.

— Ainda preciso mandar, porque se eu decidisse fazer isso agora, ela provavelmente não iria entender nada.

— É, ela com certeza precisaria de uma tradutora — riram baixo e Soraya ergueu o olhar em busca do filhote que sempre seguia Maria por todos os lados do apartamento — Onde está sua mais nova sombra?

— Acho que ele detesta acordar cedo, então continuou na cama.

— Na sua cama? Não sei porque acabaram comprando uma só para ele.

— Ele é pequeno, mamãe. Até eu fazia o mesmo com você quando era pequena — se afastou para conseguir fitar a mais velha — A vovó vem aqui para ficar com você?

— Sim, eu tenho toda uma equipe de médicos na minha cola, jamais ficaria algum momento sozinha — sorriu, se curvando para a frente pra conseguir depositar um beijo na testa da mais nova — Vai se arrumar, meu amor e pegue dinheiro na minha carteira para tomar café com a Maya em algum lugar que gostem antes de ir para a escola.

— Não vai comer nada? — arqueou uma sobrancelha, claramente sendo a pessoa que jamais aceitaria aquilo.

— Mais tarde, estou me sentindo um pouco indisposta — se tornava impossível comer quando sentia sua ansiedade lhe atormentar, o frio na barriga e o coração um pouco acelerado não permitiam que se sentisse realmente bem para comer alguma coisa sem que acabasse colocando tudo para fora minutos depois. Então, não fazer aquele esforço era a melhor escolha.

De repente mãe • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora