De repente mãe • Simone & Soraya

XVIII. Borboleta.

Cecília correu para fora de seu quarto ao ouvir a porta do apartamento ser aberta e as vozes das mais velhas ecoarem pelos outros cômodos, Pipoca a seguia por todos os lugares, mesmo que isso acabasse interrompendo seu sono e desejava conseguir entender como ele podia dormir tanto com facilidade, mas não o julgava porque provavelmente faria o mesmo se estivesse em seu lugar. Soraya foi a primeira a notar sua presença, fazendo com que ela abrisse os braços para receber o corpo da mais nova contra o seu.

— Como foi? — indagou, quase dando pulinhos de alegria. Estava entusiasmada com a ideia de ver sua tia feliz ao lado de alguém que realmente a merecesse e, principalmente, poder irritá-la por estar apaixonada, coisa que, em determinado momento da vida da médica, jurou não ser capaz de acontecer — Ela não teve algum tipo de ataque? Ou cogitou não ir?

— Você conhece sua tia, foi uma luta interna para não deixar o nervosismo vencer, mas deu tudo certo. Amanhã saberemos como tudo ocorreu — beijou a ponta do nariz da mais nova antes de deixá-la livre de seus braços — Sua mãe me falou sobre Campo Grande e, pelo que eu te conheço, acredito que já tenha arrumado sua mala, hum?

Simone riu baixo atrás da loira, pelo visto Cecília carregava os seus traços físicos e a maioria das manias da mulher, já que ela se tornava a pessoa mais ansiosa quando o assunto se tornava "viagem". Viu a garota sorrir como se tivesse acabado de ser pega no flagra por algo que esperava não estar tão nítido, mas é claro que Soraya a conhecia com a palma de sua mão.

— Só estou alegre, vai ser a primeira vez que vou conhecer meus outros avós.

— E eles vão te amar, querida — Simone disse pela primeira vez, parando ao lado de Soraya para conseguir ter uma visão melhor da filha — Tenho certeza disso.

— Então deixe de ser preocupada igual essa aqui — olhou de canto de olho para a morena, arrancando uma risada nasal da mais nova e um feição indignada de Tebet — E seja nossa ajuda para preparar o jantar.

— Ajudar a minha mãe a preparar, não é? A senhora vai se manter bem longe de tudo o que possa queimar ou pegar fogo.

— Minha própria filha não confia nas minhas habilidades culinárias, que horror — fingiu estar ofendida e sem esperar as outras, rumou para a cozinha só com a companhia de Pipoca, que costumava trocar qualquer um para estar ao lado da advogada.

— Eu que deveria estar sendo dramática e ela que toma essa papel — a morena abraçou o corpo da mais, a guiando na mesma direção que Soraya seguiu. Quis rir ao ver a ex-esposa sentada em uma das cadeiras de frente para o balcão no meio do cômodo, seus braços cruzados e seu cenho franzido eram dois dos traços que sempre entregou quando estava de fato emburrada com algo, mas naquele instante ela claramente estava os forçando, Cecília só não pareceu notar isso — Oh minha criança de cinquenta anos — usou um tom de voz mais fino do que o normal, abriu os braços antes de se aproximar da mulher e a abraçou apertado por trás, descansando a cabeça em seu ombro — Você deveria estar feliz em poder ficar sentadinha o tempo todo enquanto preparamos o jantar, sabia?

Simone se recostou na mesa de jantar ao lado das duas para observá-las em silêncio. Suspeitava que admirar os traços de cada uma em momentos onde o lado mãe e filha entre elas gritava havia se tornado sua coisa favorita, poderia fazer isso durante horas e jamais se cansaria.

— Desfaz esse biquinho — depositou um beijo na bochecha da mulher — Por favor — outro — Pela sua filha que tanto te ama — e mais um. Um sorriso inevitável começou a surgir nos lábios da loira, que revirou os olhos pela insistência da garota em fazer sua seriedade desaparecer — Isso, dona Soraya.

— Simone, vem pegar a sua filha, por favor — empurrou levemente o corpo da mais nova para mais perto da morena, que riu sincera por Thronicke falar que Cecília era só sua filha.