IX. O aroma marcado em cada centímetro de sua alma.

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O apartamento estava mergulhado em um silêncio absoluto, todas as mulheres dormiam tranquilamente em seus respectivos quartos, exceto por Janja, que decidira ficar ali para cuidar das duas que exageraram no vinho e para tranquilizar Simone. Era nítido que ela desejava ter permissão para cuidar de Soraya, mas estava ciente de que quando o efeito do vinho passasse as coisas voltariam a ser como antes. Então ficou por ela.

A socióloga preparava o café naquela manhã e se atrapalhava para pegar alguns ingredientes por não saber exatamente onde eles ficavam, mas até que estava se saindo bem. Dois remédios já estavam separados na ponta do balcão ao lado de copos d'água para Lilian e Soraya. Uma risadinha escapou ao recordar que a médica disse repetidas vezes o quão bonita era enquanto a ajudava a tirar os saltos e deitar na cama.

Todas as pessoas que compunham a família de Soraya eram encantadoras, impossíveis de não se apaixonar de um jeito genuíno. Já tinha verificado Cecília e Maya no primeiro quarto do corredor, que ainda dormiam tranquilas e absortas ao que tinha acontecido depois que as deixaram em casa. Caccini tinha um braço descansado preguiçosamente na cintura da jovem Thronicke, os fios loiros e escuros se fundindo em meio a fronha.

Tirou uma foto sem acordá-las, apenas para jogar na cara de Simone quando o óbvio viesse à tona e ela tentasse justificar que a mais nova ainda era uma criança.

Os passos arrastados vindos do corredor a fizeram levantar o olhar das frutas que cortava, encontrando a figura de uma Soraya completamente destruída pela ressaca e cansaço.

— Bom dia, bela adormecida — disse carinhosamente, indo até o fogão para colocar a panqueca no prato com as outras.

— Bom dia — murmurou, rouca. Já estava vestida para o trabalho, mas nem sabia se estava apropriadamente apresentável, sua cabeça latejava demais para prestar atenção naquilo — Você costuma invadir a casa das pessoas e preparar o café da manhã para elas?

— Só daquelas que me ligam no meio da noite — apontou para o remédio — Toma, ou sua ressaca vai te destruir o resto do dia — a mais nova não falou nada e pegou o comprimido, dando um gole na água em seguida. Fez uma careta por sentir que ele estava preso em sua garganta, detestava comprimidos com todas as suas forças.

— Me desculpa ter te ligado ontem — murmurou, se sentando na cadeira de frente para o balcão — Não me lembro de nada do que aconteceu, mas se você tá aqui, boa coisa não foi.

— Não se preocupe. Você só estava toda alegre com a sua amiga, nada demais. Decidi ficar aqui porque não queria deixar a Ceci e a amiga dela cuidando das duas adultas bebuns.

— Elas já acordaram? — descansou o queixo na palma da mão, sentindo a cabeça pesada e prestes a explodir.

— Até minutos atrás, não. Mas ainda é um pouquinho cedo — depositou uma tigela com salada de frutas para Thronicke comer antes de realmente tomarem café da manhã — Coma tudo.

Não foi capaz de questionar, não em um momento como aquele, então agradeceu com um sorriso mínimo. Janja fazia tudo com destreza e com um bom humor invejável, Soraya não conseguia entender como ela era sempre daquele jeito, mas adorava.

— Como a Leila e Eli estavam ontem?

— A Leila estava mais feliz do que tudo por causa do vinho, então deve estar exatamente como você. A Eli estava bem porque só ficou na água.

Elas ficaram naquele silêncio por alguns minutos, a primeira dama dispensou qualquer ajuda da advogada, permitindo que ela tentasse se recompor um pouco mais para o dia que estava por vir. O perfume adocicado de Lilian chegou no cômodo antes mesmo dela pisar ali, atraindo a atenção dos olhares das duas mais velhas.

De repente mãe • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora