As duas notaram não estarem sozinhas após longos minutos naquele abraço que jamais seria capaz de suprir quase dezessete anos de ausência, o choro era totalmente evidente por seus rostos, mas o suspiro pesado e palavras inaudíveis vindas do corredor ganharam a atenção de ambas. Cecília fungou baixinho sem se separar por completo do abraço de Simone, percebeu a loira se apoiar no batente da porta e notou a bota ortopédica, lhe causando uma preocupação inexplicável. Antes que falasse alguma coisa, a mulher atrás de si correu até a advogada a passos largos.
— Eu falei para ficar sentada na cama, Soraya — disse séria, voltando a abraçar sua cintura para ajudá-la a ficar em pé sem sentir muita dor.
— O que aconteceu? — a garota parou no outro lado da advogada, passando o dorso da mão em seu rosto para tentar dissipar suas lágrimas.
— Ela torceu o pé quando foi trabalhar — explicou, pedindo com a cabeça para que a mais nova abrisse por completo a porta do quarto, recebendo a ajuda da garota em seguida para levar a loira de volta para a cama.
— Queria receber a Cecília — mentiu, porque só desejava realmente poder ver a cena entre as duas. Seu estômago embrulhou ao lembrar que precisavam conversar honestamente com a mais nova sobre todas as coisas que acabou privando e era um pouco mais agoniante perceber que não tinham todas as respostas que desejavam. Agradeceu em um murmúrio após Simone terminar de arrumar os travesseiros para que pudesse descansar as costas enquanto Ceci tentava encontrar a melhor posição para sua perna.
— Esperem aqui, esqueci de mexer a comida — pediu, dando uma corridinha até desaparecer do campo de visão das duas. A jovem Thronicke repousou o olhar na loira e questionou inúmeras coisas naquele ato, o que Soraya entendia perfeitamente. Soltou um suspiro baixinho, tentando dissipar aquela tensão de seu corpo.
— Sei que você tem muito o que perguntar e eu prometo que vou responder tudo — disse afetuosa. Maria Cecília pendeu a cabeça para o lado sem deixar de fitá-la, se sentou na parte livre da cama e procurou pela mão da advogada, entrelaçando com a sua.
— Você está bem? — indagou simples. A maneira compreensível da garota lidar com qualquer situação só aumentou sua vontade de chorar. Confirmou com um quase cantarolar embargado — Quanto tempo vai precisar descansar?
— Quase duas semanas — sussurrou. O nó em sua garganta tentava sufocá-la novamente e precisou travar uma luta contra si mesma para conseguir fazer com que as palavras abandonassem sua boca — Vou ter que trabalhar de casa.
— Sabe que a tia Lily não vai deixar esse apartamento enquanto não estiver no hospital e vai fazer a vovó ficar aqui também, não é?
Soraya soltou uma risadinha nasal, revirando os olhos de forma discreta.
— Elas nunca vão deixar de me tratar como uma criança.
— E elas estão certas, porque a senhora age como uma em certos momentos! — a loira estreitou os olhos para a mais nova, lhe arrancando uma feição falsa de inocência — Vocês...— apontou para a direção que Simone seguiu e para a loira — Estão bem?
Queria dizer que sim, mas não precisava de muito para saber que estavam um pouco longe daquilo. O sorriso pequeno que surgiu em seus lábios, como se tentasse consolar a si mesma, não chegou nos olhos da mais nova. Negou com a cabeça.
— Nós precisamos conversar ainda, eu acabei a machucando muito — Cecilia franziu o cenho pensando que os papéis de machucar uma a outra fossem o oposto, sua mente estava em pequenos nós, mas se manteve em silêncio.
— Vocês vão ter tempo para isso. Ela não vai mais ir embora, não é?
— Nem por um segundo — a voz de Simone na entrada do cômodo ganhou a atenção das duas, a mais nova sorriu minimamente com sua fala, já Soraya, desviou o olhar do dela — O almoço ficou pronto — se recostou na porta e cruzou os braços, esperou que a loira voltasse a fitá-la, o que não aconteceu — Onde está a Lilian? Não foi ela quem te trouxe?
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De repente mãe • Simone & Soraya
FanficSimone e Soraya estavam casadas há dez anos, o relacionamento de ambas era considerado, por amigos e familiares, algo saído de um conto de fadas. Mas até os mais belos dos romances podem não aguentar uma grande ruptura e causar danos irreversíveis...