XII. Rachaduras.

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Soraya se remexeu inquieta na cama, seu sono estava longe de ser tranquilo e provavelmente Lilian e Cecília sentiram que isso iria acontecer no segundo em que entenderam tudo o que estava se passando, afinal, enfrentar o passado vindo à tona após tantos anos não era uma das coisas mais fáceis de se lidar. Se virou para o lado oposto em que dormia, sentindo um alívio em seu tornozelo pela nova posição e abriu os olhos lentamente ao sentir uma mão sobre a sua.

Levou alguns minutos para se acostumar com a escuridão do cômodo, mas sentiu seu coração derreter-se quando conseguiu focar a visão na cena que menos esperava. Ceci e Lily estavam dormindo em um colchão inflável ao seu lado direito, a garota estava parcialmente sobre o corpo da médica, que tinha o braço repousado na cama ao ponto de conseguir encostar na loira. Esse sempre fora um costume da mulher, era como uma garantia que a pessoa estava realmente onde deveria e que não desapareceria a qualquer instante sem que pudesse fazer algo. Isso passou a acontecer todas às vezes após o acidente de carro que resultou na morte nos pais da ruiva.

Sorriu pequeno e agradeceu mentalmente a quem quer que fosse o responsável por ter colocado ambas em sua vida. A ansiedade que ameaçava lhe afetar antes de se mexer na cama foi desaparecendo calmamente, permitindo que fechasse os olhos após entrelaçar sua mão na da melhor amiga para tentar se acalmar mais rápido. Se questionou em que momento as duas invadiram seu quarto e como não tinha acordado pelo barulho excessivo que sempre faziam, já que não conseguiam ser muito discretas, mas chegou a conclusão que aquilo não importava verdadeiramente, então respirou fundo repetidas vezes e se entregou para o sono por alguns minutos que ainda tinham antes de Lilian acordar para o trabalho.

Os raios de Sol adentraram o quarto pelas frestas da cortina, indo de encontro exatamente no rosto da advogada, a fazendo se remexer novamente, dessa vez bem mais descansada do que antes. Levou uma mão até seus olhos para conseguir se acostumar com a claridade e com a ideia de que mais um dia estava se iniciando sendo que sequer tinha se recuperado do anterior. Ergueu a cabeça ao ponto de conseguir fitar as outras duas ainda dormindo tranquilamente, viu Cecília se mexer inquieta em sinal que não levaria muito para acordar por completo.

Seu celular vibrou na mesa de cabeceira e seu pé latejou em sinal de que já estava na hora de tomar seu remédio, não conseguia acreditar que tinha conseguido aquela proeza na primeira semana de trabalho, se tivesse escutado Janja e ficado em casa...

A foto da primeira dama surgiu na tela de seu celular, atraindo sua atenção, esticou a mão livre para pegar o aparelho e se obrigou a parar de bocejar a cada menos de um minuto. A socióloga fazia centenas de questionamentos sobre como estava se sentindo e emendou sermões sem lhe dar tempo de assimilar, arrancando uma risada nasal da loira. A mulher prometeu que faria uma visita mais tarde naquele dia e pediu para que se cuidasse a cada duas mensagens, Thronicke apenas agradeceu mentalmente por agora também ter a mulher em sua vida.

— Você deveria aproveitar que não vai precisar trabalhar e descansar direito — a voz levemente rouca e sonolenta de Lilian quebrou o silêncio do quarto, fazendo a loira abaixar o olhar até o colchão.

— Bom dia — Ceci sorriu preguiçosamente sem abrir os olhos, Soraya pressentia que aquele bom humor tinha uma grande influência de Simone e teve o lembrete da certeza que sempre tivera quando notava uma grande semelhança entre elas: as duas seriam incrivelmente próximas.

— Bom dia, meus amores — Soraya descansou a bochecha na palma da mão — Quando é que vocês duas vieram parar aqui?

— Não sei dizer ao certo, mas acabamos concordando que seria melhor para garantir que você ficaria bem — Bagman deu de ombros e abraçou a cintura da sobrinha, causando cócegas na garota ao depositar vários beijinhos em sua nuca — Dormiu bem, loira? — confirmou com a cabeça e, antes que a mais velha pudesse falar algo, a dor em seu pé lhe arrancou uma careta — Eu vou pegar seu remédio — depositou um último beijo na bochecha da garota em seus braços e se levantou, tentando disfarçar o sono que ainda sentia.

De repente mãe • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora