Pelas reações completamente opostas, Lilian era quem parecia ser a adolescente que tinha acabado de pegar suas mães em um momento repleto de amor pós sexo. Não ousou tirar a mão dos olhos da sobrinha e tampou os seus próprios com o braço que segurava a sacola com o jantar de Soraya, agora suspeitando que aquela comida poderia ser dispensada pelas mulheres.
Arqueou uma sobrancelha e pigarreou, esperando que as mais velhas falassem qualquer coisa para explicar aquela proximidade, mesmo que não precisassem de nenhuma palavra para isso. O jeito que Simone abraçava a cintura da ex-esposa, os sorrisos bobos e a timidez evidente por terem sido flagradas naquele momento já falavam por si só.
Tebet saiu de perto da loira contra sua vontade, querendo ficar contra o calor que ela exalava e também desejando usar isso para se esconder dos olhares curiosos das mais novas.
— Vocês podem abrir os olhos, não tem nada indecente que vocês não possam ver — Soraya desligou as bocas do fogão e deixou de lado o que cortava, levando uma de suas mãos até sua cintura para esperar ganhar a atenção das íris castanhas e das azuis, se esforçando para conter o sorriso que ameaçava surgir em seus lábios pelo nítido drama com um grande fundo de verdade que vinha de Lilian.
— Claro, ela aconteceu antes né — a ruiva se arrependeu de suas palavras no mesmo segundo que se lembrou de Cecília, mas, pela risada que ela soltou, estava adorando ao máximo tudo aquilo. A médica abriu um pouco a mão, permitindo que espiasse as mais velhas pelo espaço entre seus dedos e foi impossível não notar a felicidade reluzindo contra a feição relaxada de ambas. Quanto tempo tinha esperado para ver aquilo — Nós devíamos ter chegado gritando, desculpa.
Soraya riu e levou uma de suas mãos atrás de suas costas, fazendo um carinho na cintura de Simone, que tinha certeza estar prestes a correr dali. Ela usava seu corpo como barreira para que não fosse observada pelas duas à frente, mas ainda assim suas bochechas coradas eram mais do que evidentes.
— Vocês nunca fizeram isso, não é agora que vão precisar — respondeu tranquila, confirmando mais uma vez que Cecília podia tirar a mão dos olhos, coisa que ela só fez quando Lilian reafirmou as palavras da melhor amiga.
— Então quer dizer que vocês duas estão juntas e não nos falaram? — indagou sem rodeios, se segurando ao máximo para não dar pulinhos animados, mas a maneira com que seus olhos brilhavam entregava facilmente sua felicidade. Cruzou os braços para tentar soar séria, exatamente como sabia que uma das mulheres faria se os papéis ali estivessem trocados e Bagman seguiu seu fingimento, mesmo pensando que ela seria incapaz de tal coisa.
Soraya ponderou, tentando buscar a resposta certa, mas só encontrou dúvidas em meio a sua mente. Quer dizer, ela e Simone não tinham rotulado o que estava acontecendo entre elas e sentia não ser o momento ideal para ter aquele tipo de conversa, mas aquilo não lhe proporcionava algo concreto para dizer.
Eram namoradas? Ex-esposas com sentimentos voltando para seus devidos lugares? Algo a mais do que isso?
— Vocês não trouxeram meu jantar? Sisa está com fome, ela não comeu nada até agora...— tentou mudar o caminho da conversa, torcendo para que apelar ao fato da morena não ter comido nada durante o dia pudesse tirar a atenção da espera para uma resposta sua.
— Meu Deus, eu ainda vou esganar essa mulher — Lilian bufou baixinho, andando até o armário onde a maioria das louças ficavam, pegando um prato qualquer, e seu olhar fuzilante na direção de Simone entregava que ela poderia arremessá-lo na mulher a qualquer instante — Me causa mais dor de cabeça do que uma adolescente de dezesseis anos — murmurou para si mesma, parecendo uma criança emburrada. Colocou tudo organizadamente sobre o balcão de mármore, apontando com o dedo indicador para a mais velha se sentar em uma das cadeiras, sendo prontamente atendida — Agora você come e você — apontou com o dedo indicador para Soraya — Abre essa boca!
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De repente mãe • Simone & Soraya
FanfictionSimone e Soraya estavam casadas há dez anos, o relacionamento de ambas era considerado, por amigos e familiares, algo saído de um conto de fadas. Mas até os mais belos dos romances podem não aguentar uma grande ruptura e causar danos irreversíveis...