XVI. Sentimentos de cabeça para baixo.

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Lilian se remexeu na cama quando raios de Sol adentraram pela fresta da cortina por não terem fechado direito na noite passada, se irritando com a claridade. Sentiu Cecília ao seu lado antes de se virar para ela, já que o cheiro de baunilha tomou conta de seus sentidos, evidenciando que a mais nova ainda não tinha acordado para se arrumar para escola. Suspirou baixo, conseguindo abrir os olhos por completo, se acostumando com a pouca luz. A ausência dos passos rápidos de Soraya pelos corredores a surpreendeu e imaginou que a noite de bebedeira de Simone havia sido um pouco excessiva.

De repente veio em sua mente o nome de Leila, a fazendo arregalar os olhos. Se levantou de uma vez, se recordando que teria seu encontro naquele dia, o que causou uma onda de ansiedade e nervosismo instantânea. Ceci ergueu a cabeça, perdida no que estava acontecendo, apenas um de seus olhos abertos para procurar pela mais velha.

— O que aconteceu? — murmurou com a voz rouca. Lilian se virou para ela e prendeu a risada pela cena da garota com os fios de cabelo levemente desgrenhados e o rosto amassado, detestando estar acordada naquele horário.

— Nada, princesa. Eu só me assustei — sussurrou, fazendo um carinho suave nas costas da sobrinha, a tranquilizando.

— Se lembrou que hoje é o seu encontro, não é? — sorriu de maneira preguiçosa, voltando a deitar a cabeça no travesseiro. A médica revirou os olhos pelo tom de voz provocativo da mais nova e se curvou para a frente, depositando um beijo no topo de sua cabeça — Pode me acordar daqui alguns minutos?

— Posso, preguiçosa — sorriu, se levantando da cama. Estava aliviada que seu dia no hospital seria agitado, não dando brecha para focar só na sensação que crescia dentro de si quando pensava que passaria uma noite sozinha com Leila, o que ainda não tinha acontecido.

Andou para fora do quarto silenciosamente, abraçando o próprio corpo para sentir mais do conforto do moletom que usava. A porta do quarto de Soraya estava semiaberta, o que a fez parar na frente dela para dar uma espiadinha e ver se Simone também estaria com elas naquela manhã. Soltou uma risadinha ao avistar o corpo da morena no meio da cama, praticamente encolhida entre a bagunça que o edredom tinha se tornado por ficar se mexendo muito durante a noite. Não havia sinais de Soraya no cômodo, o que, honestamente, não a surpreendia. Entendia os limites que ela estava tentando dar para a mais velha, elas estavam se reconstruindo depois de muitas feridas, nada poderia ser fácil ou forçado. Adentrou o quarto para poder cobrir direito o corpo da mais velha, tendo certeza que ela demoraria um tempinho a mais para despertar.

— Bebida nunca foi o seu forte, morena — sussurrou, ajeitando o edredom sobre ela, notando que usava uma de suas roupas — Eu senti sua falta — sussurrou, se curvando para depositar um beijo em sua bochecha — Mas não irei te perdoar por não ter me chamado para tomar um porre — tirou alguns fios escuros que recaiam sobre seus olhos, mesmo que fechados, e deixou o quarto, fechando a porta para que ela não ouvisse nenhum barulho.

Andou a passos tranquilos até a sala de estar e a cada vez que se aproximava, a voz tão conhecida por si se tornou mais clara. Era Marta. Não conseguiu acreditar que a mais velha estava ali tão cedo como havia dito desde que soube sobre o convite feito por Leila, estava convicta ser um blefe da mulher, mas em todos aqueles anos tinha aprendido que substima-la era o pior dos erros.

— Minha flor! — a Thronicke mais velha exclamou ao repousar o olhar sobre a médica, se levantando do sofá ao lado do que Soraya estava sentada. A coberta e travesseiro sobre o móvel entregava que ali foi o lugar onde a loira se aconchegou durante a noite, mas ela não parecia se importar em nada com aquilo — Como você dormiu? Como está se sentindo? Preparada para hoje?

Soraya soltou uma risada nasal pelo breve bombardeio de perguntas, se lembrando perfeitamente do dia em que passou por aquilo e jurou para si mesma que seria a última vez. De fato havia sido, mas a aliança dourada não se encontrava mais em seu dedo anelar como havia pensado que aconteceria.

De repente mãe • Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora