O conto da corna

165 16 76
                                    


— Tá bem, já tô com a mão na alavanca. E agora?

— O carro tá no ponto morto?

— Seu pé está na embreagem?

— Você colocou o cinto?

— VAI UMA DE CADA VEZ, PELO AMOR DE DEUS! — Ou eu vou acabar tendo um ataque! Já é tanta coisa pra saber. Parece tão difícil, tantos detalhes que eu tenho medo de errar ou no futuro esquecer e acabar fichada no Detran!

— Jeong. — Jihyo me chama e me faz olhar pra ela. — Não vai conseguir dirigir assim, se sentindo pressionada.

— É, tenta se acalmar. Não vamos mais perturbar, prometo. — Sana diz do banco de trás.

Encosto a cabeça no banco e respiro fundo. É só um carro. Eu já teria que aprender mesmo. Não posso passar a vida inteira na fiuza dos outros. E outra, não é uma autoescola, onde se eu não passar perco dinheiro.

É de graça.

Mas é aprender, ou aprender.

— O câmbio está na posição certa. Agora, tira aos pouquinhos o pé da embreagem enquanto vai pisando com o outro no acelerador.

Sigo as instruções dela, e mesmo que como uma lesma, o carro começa a andar.

— Continuo afundando?

— Sim, continua.

Me preocupa não saber que horas eu tiro o pé, se eu tiro, se eu tenho que segurar. Mas uma boa sensação vem batendo conforme o carro se move.

Pena que não demora muito pra chegar no final da rua e eu entrar em pânico.

— E-e agora?!

— Calma. Agora coloca o pé no freio, que é o pedal do meio, e diminui. Aí você vira a direita pra entrar na outra rua. — Nesse momento eu não só amo, eu odeio, como ela faz tudo parecer essa coisinha simples!

Eu até viro na outra rua, mas dá pra sentir o balanço quando eu vejo que virei demais e subi na calçada.

— Eu sou péssima.

— Isso é normal, Jeong. — Nayeon diz dando um tapinha no meu ombro. — Continua devagar e apenas manobra pra tirar de cima da calçada.

Firmo as minhas mãos tremendo no volante, e consigo tirar a parte do carro da calçada. Com o veículo totalmente torto.

— Vai indo. Vamos dar a volta na quadra. — Só olho pra Jihyo com meus olhos arregalados saltando do rosto. — Você consegue. Vai na boa.

Vinte minutos contando, entre parar e continuar e tirar as rodas de cima do meio fio, eu até que consegui. Mas não voltei certinho pro ponto inicial, ou eu voltei e apareceram carros estacionados no caminho.

— Ih, agora não é comigo. Não sei tirar essa caminhonete do meio da rua. — Paro o carro e desço. — Quem assume?

— Pode deixar comigo. — Sana sai do banco de trás toda alegrinha. Ocupo o lugar dela, enquanto ela coloca o cinto. — Vou ter que sair de ré.

Não dá tempo. O espaço de segundos é considerável e também curto. Jihyo abriu a boca pra avisar alguma coisa, Sana foi dando ré até o barulho soar na traseira.

— NÃO! AI JESUS!

Todas nós saímos do carro atrás dela.

— Pelo menos foi no poste... — Jihyo cochicha.

— É, porque se fosse em outro carro, o prejuízo ia dobrar. — Nayeon analisa o amassado. Um belo de um amassado. Um generoso amassado na traseira da caminhonete. Graças a deus que não foi comigo! Se não eu ia ter que tirar dinheiro sabe se lá da onde...

Dos Palcos Pros BarracosOnde histórias criam vida. Descubra agora