Eu quis dizer, você não quis escutar

136 15 13
                                    


— Sabem que dia é hoje?

— Dia do mel, aparentemente? — Jeongyeon deu uma olhadinha rápida pras três supostas apicultoras, na verdade, apenas duas delas. Já que a terceira era apenas uma metida tentando provar por pura teimosia que sabia sim como tirar o favo da casinha. Recebeu uma encarada de olhos caídos vinda da loira do trio. — Ok, que dia é hoje, Soraya?

— O dia de um mês desde que nós viemos parar aqui. — Nayeon baixou os óculos de sol ao sentir a mínima da mínima vontade de chorar.

— Sério? — Jihyo disse pensativa, ia continuar, até ser interrompida por Nayeon.

— Por favor, não diga que parece que foi ontem.

— Não, porque com tanta irritação sofrida pela minha pessoa em ter que me pagar de crente por aí, com toda certeza não parece que foi ontem. — Cruzou os braços, emburrada. Nunca superaria sua versão gospel, e a cada dia que passava vivendo a nova persona, isso apenas aumentava. — Mas antes ser isso do que ser uma presidiária em Tremembé. — Soltou um suspiro.

Mais um lindo dia de sol na fazendinha, e as três se ocupavam em assistirem de longe, Momo, Mina e Tzuyu lidando com as abelhas vestidas nos macacões especiais. Enquanto Dahyun e Sana comentavam mais a frente como Tzuyu era metida em ter aceitado ocupar o lugar de Chaeyoung no processo, já que ela tinha machucado a mão.

— Somos muito pé de chinelo pra Tremembé. — Jeongyeon disse ofendida.

— Eu não diria isso, a gente... — Jihyo se inclinou para falar mais baixo. — A gente rodou por horas pra achar um matagal insalubre num fim de mundo onde ou vão enterrar alguém de novo, ou jogar agrotóxico pra plantar milho ou o caramba que seja. E também cavamos por horas.

— Nós enterramos um homem que morreu porque encheu a bunda de cachaça, e escorregou depois de tomar um empurrãozinho. Tecnicamente, a gente apenas velou ele. — Nayeon deu de ombros, fazendo as duas a encararem surpresas com tamanha cara de pau. — O que foi agora?

— Não velamos ele!

— Rezamos um ave maria! Precisava de mais?

Jihyo enfiou a mão na própria cara, as vezes nem ela aguentava com o jeito de Nayeon. Não sabia se ria ou se chorava. No fundo, bem no fundo, tinha um certo remorso por ele.

— Sei lá. O cara não prestava, não mesmo. Mas ele...Um pouco ele ajudou.

— É, um pouquinho ele ajudou. E agora a única coisa que a gente pode fazer é desejar que a terra já tenha comido ele, e que deus o tenha. Embora eu...Desconfie que não. — Jeongyeon jogou a cabeça pra trás, lembrando do falecido careca que estava presente quando decolaram e quando despencaram do auge.

Ela não notou o quanto estava sendo olhada, mas Nayeon sim.

Quase dando um grito no meio das duas, cheia daquele vai não vai, admiração de perto, de longe, de todos os jeitos possíveis e até quando Jeongyeon estava sendo mais sombria, como agora. Porque Jihyo arranjava uma maneira de achar sexy. E foi tirada do transe quando tomou um tapa no braço que mais um pouquinho arderia.

Era apenas a loirinha sem falar uma única palavra, a dizendo que se não parasse de palhaçada, iria mexer os pauzinhos e acabar com a palhaçada ela mesma.

— Enfim, parando em Tremembé ou não. O que vocês estão achando até agora? Isso tudo? Nossa nova vida?

— Acho que poderia ser bem pior. Então pra mim está ok. — Jihyo soltou um suspiro leve, observando as duas garotas logo a frente tapando as testas para se esconderem do sol.

Dos Palcos Pros BarracosOnde histórias criam vida. Descubra agora