Não é tão necessário ter um sexto sentido pra saber quando tudo vai azedar.
O trem sair do trilho. O barquinho afundar. O saleiro cair inteiro na batata frita.
Nayeon não tinha sexto sentido nenhum. Por isso ela nem percebeu nada. Tudo bem, ela ainda não tinha contado a verdade para Momo. Mas planejava fazer isso mais tarde, em particular, com calma, e sem nenhuma freira incomodando sua confissão.
Jeongyeon não estava gostando do clima do dia. O cheiro de tempestade no ar a lembrava da fatídica noite. Era suficiente pra ela ter um pé atrás. Mas talvez tivesse que ter exercitado mais a parte esotérica da coisa, assim poderia sentir simplesmente a vibração no ar.
Jihyo sim. Sabia que alguma coisa ruim ia acontecer. Pelo simples fato de estar se sentindo observada naquela festa. Ou porque caiu da cama mais cedo. Já era um bom motivo.
— Não é possível que só esteja rolando comigo. — Reclamou pela quinquagésima vez. Cruzou os braços, bufando feito uma criança emburrada. — Não tá com essa sensação? — Olhou para Jeongyeon, que balançou a cabeça em negação. — Eu desempenho o meu papel e mereço um Oscar, você nem pra dar uma de hippie atenta ao universo e seus sinais essas horas né?
— Ei! — Jeongyeon recebeu um tapinha no braço. Então sorriu quando Jihyo acariciou de leve o local. Chegava a quase ser inacreditável estar tão mais próxima dela. Finalmente compartilhando de todos os entendimentos entre elas. — Mas vou te contar, a sua performance ontem foi mesmo digna de prêmio.
Jihyo desfez o bico para abrir um tremendo de um sorriso para ela. Daqueles que enchiam o peito de Jeongyeon com um quentinho nutrido de conforto.
— Eu sempre soube desse meu talento pras artes cênicas. Um dia vou fazer a novela das nove. Só me lembre de até lá, nunca mais querer me agarrar com você dentro de uma igreja católica. — Sussurrou a última parte, fazendo Jeongyeon dar risada.
— É, por favor. Ou vocês vão querer lembrar o quanto eu ainda caio de pau em vocês duas. — A voz de Nayeon entrou na conversa de repente, ela surgindo com um pacote de pães de mel na mão como se estivesse ali o tempo todo sem ser notada.
Ah sim. Porque no dia anterior, muitas habilidades dramáticas foram necessárias para desfazer a arte que Jeongyeon e Jihyo tinham feito pra freira. Pegas por alguns segundos, sem a boca uma na outra. Naquele exato tempo em que pararam pra respirar, depois de tanto se engolirem. As mãos começaram a passar do limite, o lugar foi ficando insuportavelmente quente, tiveram que dar uma parada pelo bem da própria saúde, ainda que não quisessem se separar tão cedo.
— JESUS APAGA A LUZ!
A freira gritou de susto, abrindo a porta apenas para se certificar de que nenhum fiel havia esquecido nada, como sempre fazia. Encontrando duas moças coradas, ofegantes. Por um momento imaginou o pior. Que o pecado estava comendo solto dentro da casa de Deus. A luxúria e a devassidão correndo pelos ares santos daquela igreja. Seria uma catástrofe! Teria que tomar sérias providências com aquelas duas.
— O que diabos es-
Mas aí seria subestimar as capacidades de Jihyo. Não. Ela não tinha fugido da polícia, vivido alguns meses com uma identidade falsa, suportado tanto tempo sem revelar seus sentimentos para a mulher que amava, para na primeira escapada com ela, ser pega por uma velha coroca que não sabia do paraíso dos prazeres carnais! Não mesmo! Pensou rápido, e rezou ironicamente para que conseguisse mentir bem embaixo das paredes de um local sagrado.
Enfiou uma mão no peito de Jeongyeon e a outra nas costas, endireitando a postura e lançando um olhar perfurador a ela.
— Isso, muito bom, isso, respira! — Com qualquer outra pessoa não funcionaria. Jeongyeon não entenderia nada. Mas ela não estaria ali mesmo se fosse esse o caso. Com Jihyo, ela entenderia até o menor dos olhares. Tinha que entrar na onda. E bem, ofegante, já estava mesmo. Jihyo havia lhe roubado todo o ar. — Vai passar, respira fundo e solta, você está bem, irmã...
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Dos Palcos Pros Barracos
FanfictionAs 3mix estavam no topo, estourando nas paradas. Até aquela linda carreira de sucesso ir por água abaixo, quando depois de um acidente, foram acusadas de matar o empresário. O trio só teve uma saída: Com novas identidades, fugirem pra uma cidadezinh...