O clima de cada uma

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Era estranho.

Um estranho bom.

Um estranho-estranho.

Como descrever quando você se sente perfeitamente encaixado em um lugar, na paz que o mundo sempre deveria ter sido, de onde você não quer sair? E que mesmo assim, você coloca um defeito, uma barreira, pra sair daquele conforto? Por orgulho? Talvez medo? Ou quem sabe seja somente pura teimosia.

De qualquer maneira, era essa a posição de Nayeon e Momo. Em uma salinha pequena e ainda com cheiro de shampoo, mal iluminada graças ao fim do dia e de uma tempestade. Que deixou nada além de uma janela molhada e em um outro quesito de temporal, duas pessoas bem suadas. Momo não conseguia distinguir deitada qual perna era sua e qual perna era dela, mas dava pra saber que aquela mão pousada em sua cintura continuava marcando território como se alguém fosse fugir a qualquer momento. Nayeon tentava se proibir mentalmente de gostar mais do que devia dos cabelos dela em seu nariz, ou da barriguinha sarada dela em contato com seu braço.

Antes do coração convencê-la a abrir todas as portas para Momo, apesar de estarem escancaradas, Nayeon desvencilhou o corpo do dela. Momo fingiu não dar importância, porque faria isso pelo motivo igual. Então ambas se vestiram quietinhas. Pra que, se até esqueceram que até então estavam presas naquela salinha antes de terem o desejo de ficarem presas de verdade.

— Isso foi...

— Foi...

— Por que eu tenho que falar como foi? — Nayeon disse enquanto girava a chave de fenda no primeiro parafuso da fechadura.

— Porque você participou, oras? — Momo retrucou óbvia, girando outra chave de fenda no parafuso de baixo.

Conseguiram tirar a fechadura e abrir a porta. Momo tirou a outra chave de fenda da mão dela, ficando pertinho de novo. E em escala de proximidade, pra quem atingiu o nível máximo, aquele nível se tornou até baixo. Mas de alguma maneira muito mais perturbador depois dos eventos que balançaram a salinha.

— Ou foi o nome de outra pessoa que saiu da sua boca até uma hora atrás? — Sorriu maliciosa.

Nayeon, pronta pra rebater se lembrou de um detalhe triste. Infelizmente, no caso contrário, não era o nome verdadeiro dela saindo da boca de Momo. Que tristeza. Nem nessas horas eu tenho sossego! Balançou a cabeça em seguida, tentando não dar importância.

— Então eu deveria ter colocado um tipo de contador. Porque acho que o mais repetido nessa sala, em tom baixo...Em tom alto... — Deslizou os dedos pelo queixo de Momo, fazendo clara menção de escorregar a mão para outros lugares. — Foi o meu, chacrete.

(E claro, o chacrete ficou aposentado por algum tempinho durante aquela tarde.)

— É questão de empate.

— Como quiser. Eu digo do fundo do meu ser, que não tenho palavras pra descrever. Assim tá melhor pra você? — Caminhou até as escadas.

— Está ótimo. Porque eu penso o mesmo. Em um sentido bom, porque esse é o único momento onde você pode ser convencida.

Desceram as escadas, saíram do salão, para ficarem paradas feito duas pamonhas na calçada. Já tinha parado de chover, mas os trovões davam indícios de uma nova chuva.

— Quer carona? Deve estar meio cansada pra caminhar até em casa. — Fez um bico provocativo com os lábios, balançando as chaves do Fiat Uno na mão.

— Já que eu estou aqui...Abre logo essa carroça. — Nayeon colou as costas na porta do passageiro, vendo ela se aproximar e torcendo por um beijinho a mais. E se ela desse, melhor ainda. Não queria parecer ter gostado tanto a ponto de querer de novo. Significava que naquele joguinho ela sairia perdendo.

Dos Palcos Pros BarracosOnde histórias criam vida. Descubra agora